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Atentados de 'famílias-bomba' contra igrejas e policiais põem Indonésia em alerta

Incêndio na frente da Igreja Central Pentecostal de Surabaia, na Indonésia; três atentados em igrejas cristãs, cometidos por uma mesma família, deixaram mais de 10 mortos após a missa deste domingo (13) - Antara Foto/ Handout Surabaya Government/ via REUTERS
Incêndio na frente da Igreja Central Pentecostal de Surabaia, na Indonésia; três atentados em igrejas cristãs, cometidos por uma mesma família, deixaram mais de 10 mortos após a missa deste domingo (13) Imagem: Antara Foto/ Handout Surabaya Government/ via REUTERS

14/05/2018 18h52

As autoridades da Indonésia enfrentam um problema novo na questão do combate ao terror: "famílias-bomba".

Um atentado suicida em uma delegacia de polícia na cidade indonésia de Surabaya, nesta segunda-feira, foi feito por uma família de cinco pessoas pilotando duas motos, segundo a polícia.

O ataque ocorreu um dia após outra família ter realizado atentados com bombas em três igrejas no domingo. A polícia culpou uma rede inspirada no Estado Islâmico.

Uma criança de 8 anos sobreviveu ao último ataque, segundo a polícia. A Indonésia é o país de maioria muçulmana mais populoso do mundo.

O arquipélago, com 260 milhões de habitantes, tem visto um ressurgimento da militância islâmica nos últimos anos. Mas a escala dos ataques em Surabaya levantou novas preocupações sobre a potência das redes jihadistas.

Vídeos do último ataque à sede da polícia mostram duas motos se aproximando de um posto de controle policial pouco antes da explosão. Seis civis e quatro policiais ficaram feridos, disseram as autoridades.

A jovem sobrevivente estava sentada entre a mãe e o pai na motocicleta durante o ataque. Imagens de segurança a mostram tropeçando após a explosão.

O que precedeu o último ataque?

A Indonésia estava em alerta máximo depois do primeiro ataque contra as igrejas em Surabaya, capital da província de Java Oriental.

A família suspeita se dividiu para realizar os atentados. Enquanto a mãe, ao lado de duas filhas com idades de 9 e 12 anos, atacava um dos templos, o pai e dois filhos atacaram duas outras igrejas.

Foi a primeira vez no país em que uma mulher-bomba realizou um ataque suicida com sucesso, disse o chefe da polícia nacional, Tito Karnavian. Uma mulher de 28 anos havia planejado bombardear o Palácio Presidencial no ano passado, mas foi capturada e presa, acrescentou ele.

Inicialmente, as autoridades disseram que a família de seis pessoas estava entre as centenas de indonésios que haviam retornado da Síria, atingida pelo conflito, mas depois foi dito que a família não tinha viajado para lá.

Os ataques coordenados mataram 18 pessoas, incluindo os responsáveis, e feriram mais de 40. Esses foram os atentados mais violentos na Indonésia em mais de uma década.

A polícia diz que o pai, Dita Oepriarto, era o chefe da filial local da Jemaah Ansharut Daulah (JAD), uma rede indonésia inspirada no grupo autointitulado Estado Islâmico.

Caso suspeito

Além dos atentados realizados, uma bomba explodiu na noite de domingo em um apartamento matando três membros de uma família que, segundo a polícia, estaria planejando um ataque e tinha conexões com Oepriarto. Tubos encontrados no local seriam utilizados para fabricação de artefatos explosivos.

Separadamente, a polícia disse na segunda-feira que prendeu seis pessoas planejando ataques em Surabaya, informou o jornal Jakarta Post.

Reação

O presidente da Indonésia, Joko Widodo, descreveu os ataques como "covardes, indignos e desumanos" e disse que vai instituir, por decreto, uma lei antiterrorismo há muito aguardada, caso o Parlamento não a aprove.

O projeto enfrentou críticas de grupos de direitos humanos, mas seus defensores dizem que ele é necessário para processar militantes que retornam do Oriente Médio.

"Estamos comprometeidos em tomar medidas para acabar com o terrorismo", disse ele.

Autoridades disseram que a polícia, apoiada por forças militares, aumentará a segurança em todo o país.

Na Austrália, o primeiro-ministro, Malcolm Turnbull, disse que a natureza do ataque de domingo - envolvendo uma família inteira - "é quase inacreditável".

"Essas pessoas são as piores das piores. Elas estão ameaçando as nações civilizadas, estão ameaçando o modo de vida civilizado. Elas estão ameaçando a harmonia e a religião das pessoas. Elas estão degradando e difamando o islã, como o presidente Widodo sempre diz."

Qual é a história dos extremistas da Indonésia?

O país do Sudeste Asiático há muito trava uma luta com o extremismo islâmico. O pior ataque terrorista na Indonésia ocorreu em Bali em 2002, quando 202 pessoas - a maioria estrangeiros - foram mortos em um num distrito turístico.

O ataque foi realizado pela rede terrorista Jemaah Islamiah (JI) e provocou uma grande repressão aos seus militantes.

O primeiro ataque reivindicado pelo Estado Islâmico na Indonésia ocorreu em janeiro de 2016, quando quatro vítimas, além dos quatro responsáveis pelo ataque, foram mortos em uma série de explosões e tiroteios no centro de Jacarta.

Grupos inspirados pelo EI, desde então, realizaram conspirações "amadoras", mas os ataques em Surabaya indicam um melhor planejamento e um nível mais alto de "eficiência técnica", disse à BBC Zachary Abuza, do National War College, em Washington DC.

O uso de crianças nos ataques foi "absolutamente sem precedentes" na região, disse ele, que fala sobre a "doutrinação ideológica" do JAD.

Quem é o grupo inspirado no Estado Islâmico?

O JAD é uma rede local de extremistas indonésios que prometeram fidelidade ao Estado Islâmico. O grupo foi formado em 2015, após a fusão de várias facções dirigidas pelo influente clérigo indonésio e terrorista condenado Aman Abdurrahman

Abdurrahman, também conhecido como Oman Rochman, está cumprindo uma sentença de nove anos de prisão, mas continua a administrar seus seguidores, conduzir o recrutamento e espalhar propaganda do EI de trás das grades.

O JAD defende a criação de um sistema de califado em toda a Indonésia e diz que é "justificado em usar a violência" para fazê-lo. O grupo encoraja ataques à polícia, que considera como "infiéis". A Agência Nacional Contra o Terrorismo da Indonésia disse que o JAD é "atualmente a organização terrorista mais perigosa" no país.

*Com informações de BBC Monitoring