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'Quero minha revolução! Com ela nasci e com ela morro': o que pensam os chavistas que vão votar em Maduro nas eleições venezuelanas

As mulheres da comuna Rogelio Castillo Gamarra que dizem votar em Nicolás Maduro - Alicia Hernández/BBC
As mulheres da comuna Rogelio Castillo Gamarra que dizem votar em Nicolás Maduro Imagem: Alicia Hernández/BBC

Alicia Hernández

Da BBC Mundo, em Caracas

18/05/2018 21h24

Apesar da grave crise política, econômica e humanitária que toma conta da Venezuela, Nicolás Maduro tem um séquito de milhares de pessoas dispostas a reelegê-lo presidente nas eleições de domingo.

Mesmo com a alta porcentagem de rejeição, há "núcleo duro" do chavismo que se mantém leal ao regime, que está há quase 20 anos no poder. São cerca de 4 ou 5 milhões de pessoas que apoiam Maduro por convicção política, experiências pessoais, por falta de opção ou por fidelidade a Hugo Chávez.

A previsão é que Maduro vença, já que seus principais rivais estão presos ou impossibilitados de votar e a maior parte da oposição está boicotando as eleições, porque considera que o processo eleitoral está sendo manipulado.

Os moradores da comuna Rogelio Castillo Gamarra não concordam que o processo eleitoral seja, de alguma forma, fraudulento. A comuna é uma organização de moradores da favela de Petare, em Caracas, considerada a maior favela da América Latina.

Obilia Madrid é uma das administradoras da entidade, que tem uma forma de organização autogerida promovida por Chávez. Ela votou pela primeira vez aos 26 anos, 1998, quando Chávez ganhou sua primeira eleição para presidente.

"[Antes de Chávez] eu nunca tinha votado. E te digo: sigo aqui, com convicção. Não recebi nada: nem casa, nem nada de nada. Mas graças a Chávez nós (os pobres) temos visto a realidade do país", diz ela.

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Madrid defende os programas sociais promovidos pelo chavismo e diz que eles são o legado "que Chávez deixou para melhorar nossa situação". "Não é compra de voto, é (uma solução) para a necessidade das pessoas", afirma, em resposta a quem diz que as ações são clientelismo eleitoral.

Madrid fez parte de um dos programas sociais, o Bairro Adentro, que leva cuidados básicos de saúde às regiões mais pobres. Há diversas instalações na comuna para esse fim.

"Quando chegaram os médicos cubanos para nos ajudar, (o governo) pediu voluntários no Petare. Como sou auxiliar de enfermagem, resolvi colaborar para ajudar o povo."

Desde então, seu vínculo com o chavismo é através do trabalho com a comunidade. "Quero minha revolução. Nasci com ela, e com ela vou morrer", diz.

A comuna também distribui caixas de produtos alimentícios que o governo vende a preço subsidiado.

A 'guerra econômica' 
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A comunidade distribui a comida que é enviada pelo governo
Imagem: Alicia Hernández/BBC

Madrid reconhece que há crise e escassez de diversos produtos - inclusive de remédios.

"Há muito contrabando. O presidente desmantelou quadrilhas que retinham os medicamentos. A guerra econômica, e também social, está muito forte. Maduro deu tudo de si para o povo, mas há muita gente tentando boicotá-lo", afirma.

O argumento de Madrid é o mesmo dado pelo governo Maduro para justificar a hiperinflação e o desabastecimento.

Sua colega na comuna, Santiga Aponte compartilha dessa opinião. Ela é responsável por organizar os produtos alimentícios distribuídos pelo governo uma vez por mês. Apesar da má qualidade de alguns alimentos, eles são um alívio para a população da região, já que o preço da comida não subsidiada não para de subir graças à hiperinflação.

Para Aponte, a história do país pode ser dividida entre antes e depois da revolução bolivariana. "Não nos levavam em consideração para nada. Éramos os pobres. Não tínhamos participação ativa na sociedade", diz ela. "Chávez nos fez ver muitas coisas, nos despertou. Vou votar por Maduro porque queremos que a revolução continue através dele."

Questionada sobre a escassez de alimentos e remédios, diz que é culpa dos Estados Unidos. "Temos uma guerra econômica. O império (EUA) não nos deixa comprar".

'A luta é uma forma de vida' 
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A figura de Hugo Chávez segue muito presente na vida política venezuelana, o que favorece Nicolás Maduro
Imagem: Alicia Hernández/BBC

A comuna é administrada por mulheres, mas muitos homens participam das atividades diárias.

Palmiro Vidal, de 68 anos, não tem nenhum cargo da entidade, mas atua informalmente como conselheiro político. Ele foi membro das Forças Armadas de Libertação Nacional, a guerrilha comunista que atuou nos anos 1960, e ficou preso durante muitos anos. Hoje o revolucionário é um livro aberto, capaz de falar durante horas sobre economia, literatura e até sobre o Queen, sua banda de rock favorita.

"A luta é uma forma de vida. E agora, depois das eleições, nos cabe lutar, porque o que vem é péssimo. A oposição não é mais a mesma, até o departamento de Estado dos Estados Unidos quer assumir o controle."

Outro homem da comuna, José González, trabalha como muralista, artesão, pescador e agricultor. Ele participa do movimento cultural da entidade e também votou pela primeira vez para eleger Chávez, em 1998, quando tinha 23 anos.

"Algo me chamou a votar nele. Fiz com o coração", afirma.

Agora González votará em Maduro porque acredita que não tem opção melhor. "Não há nenhum governo que se compare."

Seu voto também é por ideologia. "Por manter a educação, para que continua pública. A luta é pelos mais pobres."

Ele diz que conhece muitos revolucionários que não vão votar ou que vão votar contra o governo. Ele reconhece que a eleição é um cheque em branco.

"Vamos dar um voto de confiança. Se não funcionar, não voto mais. Voto com esperança, mas se o país não melhorar, vamos sair às ruas", afirma González.

"Vou votar em Maduro porque ele deu sua palavra de que o país vai melhorar. Se ele entende o que é uma promessa, deveria cumprir."