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Quem é afetado pelas sanções que os EUA impõem ao Irã

Trump e Rouhani: relações estão estremecidas com a volta das sanções - Montagem com AFP e Presidência do Irã
Trump e Rouhani: relações estão estremecidas com a volta das sanções Imagem: Montagem com AFP e Presidência do Irã

07/08/2018 16h13

Os Estados Unidos retomaram nesta terça-feira (7) as sanções contra o Irã, que estavam suspensas desde 2015, quando foi assinado o histórico acordo nuclear entre Teerã e as principais potências internacionais.

Em maio, o presidente americano, Donald Trump, anunciou a saída do país do acordo --uma de suas promessas de campanha-- e avisou que restauraria as sanções.

O chamado Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA, na sigla em inglês), negociado pelo ex-presidente Barack Obama, impõe restrições ao programa nuclear do Irã, em troca da retirada de várias sanções contra a economia do país.

"O acordo foi tão mal negociado que, mesmo que cumprisse todas as exigências, o Irã permaneceria a um passo de ter armas nucleares", disse Trump, quando comunicou a retirada dos EUA do pacto, do qual também fazem parte Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha.

Horas antes das sanções entrarem em vigor, Trump disse que o regime iraniano tinha uma escolha: "ou muda seu comportamento ameaçador e desestabilizador e se reintegra à economia global, ou continua seguindo por um caminho de isolamento econômico".

O presidente do Irã, Hasan Rouhani, classificou a medida, por sua vez, como uma tentativa de "guerra psicológica", destinada a "gerar divisões entre os iranianos".

Quais são as sanções?

As sanções estão divididas em dois grupos: as que entram em vigor nesta terça-feira (90 dias após a revogação do acordo) e as que começam a ser aplicadas em 4 de novembro (120 dias depois da rescisão).

Em agosto, começam a valer as sanções:

  • À compra de dólar americano pelo governo do Irã.
  • Ao comércio de ouro ou metais preciosos.
  • À venda, fornecimento ou transferência direta e indireta de materiais como alumínio, aço, carvão e softwares para integrar processos industriais.
  • Às transações relacionadas à compra ou venda de riais (moeda iraniana), assim como a manutenção de fundos ou contas bancárias com quantias altas de riais fora do território iraniano.
  • À compra ou facilitação da emissão da dívida soberana iraniana.
  • Ao setor automotivo do Irã.

Além disso, foram revogadas algumas medidas que favoreciam a importação de tapetes e produtos alimentares de origem iraniana e a determinadas transações financeiras.

Tampouco poderão ser exportados aviões comerciais de passageiros, peças ou serviços relacionados ao setor de aviação para o Irã.

A partir de novembro, haverá sanções:

  • Aos operadores portuários no Irã e empresas ligadas aos setores de transporte e construção naval.
  • Às transações na área petrolífera com empresas como a National Iranian Oil Company (NIOC), Naftiran Intertrade Company (NICO) e a National Iranian Tanker Company (NITC), entre outras. Inclui não só a compra de petróleo, como a de produtos derivados e petroquímicos.
  • Às transações de instituições financeiras estrangeiras com o Banco Central do Irã e instituições financeiras iranianas.
  • À prestação de serviços de transferências financeiras para o Banco Central do Irã e instituições financeiras iranianas.
  • Para prestação de serviços de seguro.
  • Ao setor de energia do Irã.

A mudança também revoga a autorização para que entidades estrangeiras americanas ou controladas pelos Estados Unidos desenvolvam atividades com o governo do Irã ou com pessoas sujeitas à jurisdição do governo iraniano, que era parte do acordo inicial.

A exportação de petróleo é um dos pontos mais críticos para o Irã.

"Não brinque com o rabo do leão, você vai se arrepender", disse o presidente iraniano, Hasan  Rouhani, há algumas semanas, reiterando que os EUA não podem proibir o Irã de exportar petróleo bruto para o mercado internacional.

Protestos no Irã

Quando Trump anunciou que retomaria as sanções, Rouhani informou que ordenou à agência de energia atômica do seu país que se preparasse para começar o enriquecimento de urânio em escala industrial, caso fracassassem as negociações com os outros países para manter o tratado.

Além disso, ele advertiu posteriormente o presidente americano que um confronto com o Irã seria "a mãe de todas as guerras".

Para Rouhani, ao retomar as sanções, os EUA estão "dando as costas para a diplomacia".

"Eles querem lançar uma guerra psicológica contra a nação iraniana", afirmou. "Somos sempre a favor da diplomacia e do diálogo, mas as conversas exigem honestidade", acrescentou.

"Negociações com sanções não fazem sentido."

Impacto

O Irã tem experimentado forte aumento dos preços dos alimentos, a alta do desemprego e até mesmo falhas no abastecimento de água nos últimos meses, o que desencadeou protestos em várias cidades. Manifestações realizadas em junho, em Teerã, foram consideradas as maiores da capital desde 2012.

É difícil afirmar o quanto os protestos estão ligados à nova política de sanções dos EUA, mas há uma relação clara entre as mudanças de tratamento do país e o valor da moeda do Irã. O rial perdeu 80% do valor no ano passado, e a taxa de câmbio do dólar triplicou nos últimos três meses, desde o anúncio de Trump de que pretendia retomar as sanções.

"Os preços dos produtos usados no dia a dia tiveram uma grande alta", conta Rana Rahimpour, jornalista do serviço persa da BBC.

"A população faz manifestações, mas é confrontada pelas forças policiais. Usam tanques, lançam gás. As pessoas querem dizer que estão com fome, que não têm nada para comer, mas os políticos não se importam", diz Ezan, comerciante que está em greve.