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Qual pode ser o impacto das 'mais duras sanções' já impostas pelos EUA ao Irã?

EUA foram alvo de manifestações ocorridas no fim de semana no Irã - Getty Images
EUA foram alvo de manifestações ocorridas no fim de semana no Irã Imagem: Getty Images

05/11/2018 16h45

Os EUA anunciaram nesta segunda-feira (5) a imposição das "mais duras sanções já feitas" contra o Irã, uma ação que já tem gerado protestos em massa no país persa.

Foram restabelecidas e endurecidas pelo governo de Donald Trump todas as sanções que haviam sido removidas pelo acordo de 2015 entre Washington e Teerã, ainda na administração de Barack Obama.

As sanções têm como alvo tanto o Irã quanto os países com os quais ele comercializa, atingindo exportações de petróleo e outros bens, e os setores bancário e industrial - todos cruciais para a economia iraniana.

"No centro (da iniciativa) está uma campanha sem precedentes de pressão econômica. Nosso objetivo é privar o regime iraniano das receitas que usa para financiar a violência e atividades desestabilizadoras no Oriente Médio e pelo mundo", afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. "Nossa meta é convencer o regime a abandonar seu atual curso revolucionário."

Em resposta, o Irã pediu que a ONU puna os EUA pelas medidas, alegando que elas seriam ilegais por ferirem uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas - o conselho havia endossado, por unanimidade, o acordo de 2015 entre EUA e Irã, tornando-o legalmente vinculante. O acordo foi abandonado em maio por Trump.

"A ONU e seus Estados-membros, em concordância com o estatuto da ONU e a lei internacional, devem resistir a esses atos equivocados e responsabilizar os EUA por eles", afirmou o embaixador iraniano na ONU, Gholamali Khoshroo, em carta ao secretário-geral da entidade, António Guterres.

Já no domingo, milhares de iranianos foram às ruas gritar "morte à América", e o presidente do país, Hassan Rouhani, afirmou que pretende continuar a exportar petróleo, ameaçando desrespeitar as sanções.

O acerto de 2015 entre EUA e Irã, cujo objetivo era conter as ambições nucleares iranianas em troca de mais abertura internacional ao país persa, fora alvo de diversas críticas de Trump, que o chamou de "o pior acordo" já negociado pelo governo americano.

Washington afirma também que quer conter as atividades "maliciosas" de Teerã, como ciberataques, testes de mísseis e apoio a grupos extremistas e milícias no Oriente Médio.

Qual pode ser o impacto das sanções?

As sanções atingem diretamente a indústria petrolífera, vital para a economia iraniana, embora oito países e territórios (China, Índia, Itália, Grécia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Turquia) tenham recebido permissões temporárias para continuar a negociar petróleo com os iranianos.

Estão na lista de sanções, também, cerca de 700 indivíduos ou entidades, entre bancos iranianos e suas subsidiárias, embarcações marítimas, empresas exportadoras e a companhia aérea nacional do país, a Iran Air, segundo comunicado do Departamento de Tesouro americano.

Analistas explicam que os EUA já vinham, nos últimos meses, restabelendo antigas sanções contra o país persa, mas a rodada recém-anunciada é de longe a mais significativa.

Segundo Pompeo, mais de cem grandes empresas internacionais já deixaram de lado sua presença no Irã em antecipação às sanções e a exportação de petróleo do país - sua principal fonte de renda - já enfrenta baixa.

Além disso, acredita-se que o sistema bancário Swift, usado para o pagamento de transações internacionais, deva cortar elos com as entidades iranianas alvo de sanções, alijanda-as do sistema financeiro global.

Reações da UE

O Reino Unido, a Alemanha e a França, que estão entre os cinco países participantes do acordo nuclear de 2015, manifestaram objeções às sanções americanas.

Os países prometeram dar apoio a empresas europeias que queiram fazer "negócios legítimos" com o Irã e estabeleceram um mecanismo alternativo de pagamento - SPV, sigla em inglês para Veículo de Propósito Especial - que ajudarão as companhias a negociar sem enfrentar penalidades dos EUA.

No entanto, analistas têm dúvidas de que isso vá amenizar o impacto das sanções no Irã.

Recentemente, além disso, o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, disse que Washington vai alvejar "agressivamente" qualquer empresa ou organismo que "fuja das nossas sanções".

Embaixada americana em Teerã

As sanções americanas voltam um dia após o aniversário da tomada da Embaixada americana em Teerã, em 4 de novembro de 1979, ocorrida pouco depois da destituição do xá Reza Pahlevi, cujo regime era apoiado pelos EUA.

Na ocasião da tomada da Embaixada, 52 americanos foram feitos reféns por 444 dias, episódio que foi crucial na deterioração das relações bilaterais até hoje.

O aiatolá (líder supremo) Ali Khamenei afirmou, em discurso no sábado, que os EUA "não restabelecerão a dominação" que tinham sobre o Irã até 1979.

Houve, nas ruas e nas redes sociais iranianas, protestos tanto para comemorar o aniversário do episódio e criticar as sanções quanto para opositores tecerem críticas ao regime islâmico em vigor no país.