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4 consequências graves da estagnação das classes médias (e avanço dos ultrarricos) nos países desenvolvidos

21.abr.2019  - França tem enfrentado há meses protestos dos "coletes amarelos" - GETTY IMAGES
21.abr.2019 - França tem enfrentado há meses protestos dos "coletes amarelos" Imagem: GETTY IMAGES

Sean Coughlan

21/04/2019 14h55

Em um contexto de populismo político e preocupações com a ascensão do extremismo, relatório da OCDE diz que as famílias de classe média tradicionalmente moderadas se sentem "abandonadas" e estão cada vez mais propensas a apoiar movimentos "antissistema".

As rendas das famílias de classe média estão estagnadas, enquanto os ultrarricos estão absorvendo cada vez mais dinheiro, diz um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Segundo o estudo, as casses médias estão sendo "desapropriadas", têm cada vez menos probabilidade de prosperar e mais insegurança no emprego.

As classes médias costumam ser a base da democracia para que os países ocidentais enfrentem as consequências políticas dessa situação, alerta a análise da OCDE, apresentada na quarta-feira (17).

Mas, em um contexto de populismo político e preocupações com a ascensão do extremismo, o relatório diz que as famílias de classe média tradicionalmente moderadas se sentem "abandonadas" e estão cada vez mais propensas a apoiar esses movimentos "antissistema".

1. Impacto desestabilizador

A OCDE prevê um impacto desestabilizador se esse setor da sociedade (os que ganham entre 75% e 200% da renda média) continuar perdendo o que consideram prosperidade.

No nível internacional, a OCDE observa um modelo econômico em constante mudança, no qual altos rendimentos disparam, enquanto a renda média mostra "crescimento deprimente" ou queda.

Outro trecho do relatório trata dos 36 países-membros da OCDE, que incluem a maioria das principais economias da Europa Ocidental e da América do Norte, como Alemanha, França, Estados Unidos e México - o Brasil aguarda resposta para seu pedido de integrar a instituição.

Nesse grupo, os 10% mais ricos aumentaram sua renda em um terço a mais do que as pessoas com renda média.

Nos EUA, nas últimas três décadas, o segmento de 1% das pessoas que mais ganham aumentou sua renda anual de 11% a 20%.

Em contraste, "a renda média é hoje pouco maior do que há 10 anos".

2. Nacionalismo, isolacionismo, populismo, protecionismo...

O relatório alerta sobre as conseqüências sociais, além do impacto econômico em cada domicílio, de as classes médias perderem a confiança no sistema.

O aumento da desigualdade de renda poderia ameaçar "sua confiança nos outros e nas instituições democráticas".

Em vez de ver aumentar a mobilidade social e a prosperidade crescente, o relatório diz que as classes médias estão mais preocupadas com a tendência de queda.

O estudo indica que a percepção de diminuição de oportunidades está causando um crescente descontentamento.

O relatório aponta que a "estagnação dos padrões de vida da classe média" foi acompanhada pelo surgimento de "novas formas de nacionalismo, isolacionismo, populismo e protecionismo".

3. Piores condições de moradia e menos segurança no emprego

O relatório, intitulado Sob pressão: a classe média espremida, diz que os pilares da vida familiar da classe média, como o acesso à moradia e ao ensino superior, se tornaram cada vez mais caros.

O aumento no custo da habitação, em particular, superou o crescimento da renda, situação que faz com que os pais se preocupem com as perspectivas de seus filhos conseguirem comprar uma casa ou um apartamento.

Outra vantagem tradicional da classe média vinha sendo a segurança no emprego, mas esse aspecto também vem sendo corroído.

4. Menos jovens

"Hoje, a classe média se parece cada vez mais com um navio em águas turbulentas", diz o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría.

A OCDE destaca uma divisão geracional: há cada vez menos jovens entre a classe média.

A crescente desigualdade de renda levou mais pessoas aos extremos da riqueza e da pobreza, de modo que os millennials, que nasceram do início dos anos 1980 até meados dos 1990, são menos propensos a formar famílias de renda média do que os baby boomers, que estão na faixa dos 50 e 60 anos.

"Uma classe média forte e próspera é crucial para qualquer economia de sucesso e uma sociedade coesa", afirma Gabriela Ramos, encarregada da Iniciativa de Crescimento Inclusivo e Novas Abordagens à Economia, na apresentação do estudo.

No entanto, de acordo com o relatório, os agregados familiares de classe média têm uma sensação de "injustiça" e estão "cada vez mais preocupados com a sua situação econômica".