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Vodca atômica: o primeiro produto para consumo fabricado na zona de exclusão de Chernobyl

Victoria Gill - BBC News

08/08/2019 17h27

Bebida destilada, chamada Atomik, é feita a partir de cereais e água da área abandonada ao redor da usina nuclear.

"Essa é a única garrafa que existe - eu tremo só de pegar nela", diz o professor Jim Smith, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, erguendo cuidadosamente uma garrafa da "vodca artesanal" Atomik.

A bebida é feita a partir de cereais e água da zona de exclusão que ainda vigora ao redor da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia.

É o primeiro produto para consumo proveniente da área abandonada em torno da usina, palco em 1986 do pior acidente nuclear da história.

A equipe, que iniciou o projeto para fabricação da vodca cultivando cereais em uma fazenda na zona de exclusão, inclui Smith e outros pesquisadores que trabalham há muitos anos na região estudando como a terra se recuperou desde o desastre nuclear.

O grupo espera usar o lucro das vendas da bebida para ajudar as comunidades ainda afetadas pelo impacto econômico do acidente na Ucrânia.

A bebida é radioativa?

"Não é mais radioativa do que qualquer outra vodca", responde Smith. "Quando você destila alguma coisa, as impurezas ficam nos resíduos."

"Pegamos então o centeio que estava levemente contaminado e a água do aquífero de Chernobyl e destilamos." Os pesquisadores pediram a colegas da Universidade de Southampton, no Reino Unido, que tentassem encontrar radioatividade por meio do laboratório deles de ponta de análise de rádio.

"Eles não conseguiram encontrar nada - estava tudo abaixo do limite de detecção."

Gennady Laptev, cientista do Instituto Hidrometeorológico da Ucrânia, em Kiev, também é membro fundador da recém-criada Chernobyl Spirit Company.

Em uma incursão à zona de exclusão, onde acompanhei uma equipe que realizava pesquisas ambientais e estudos de cultivo, Laptev me explicou que o grão de centeio e a bebida resultante dele mostram como parte da terra poderia ser usada produtivamente.

"Não precisamos abandonar a terra", diz. "Podemos usá-la de diversas maneiras e podemos produzir algo que será totalmente limpo de radioatividade."

Por que uma vodca?

A escolha de produzir a bebida se deu em parte porque é um produto purificado, destilado que pode ser feito a partir de grãos contaminados. Mas, de acordo com Smith, da Universidade de Portsmouth, o objetivo deste projeto vai além de fabricar uma bebida "exclusiva".

A principal meta é a possibilidade de obter apoio às comunidades que vivem ao redor da zona de exclusão com uma "bebida social" - 75% do arrecadado será destinado a essas pessoas.

Smith, que realiza pesquisas em Chernobyl desde a década de 1990, afirma que ficou impressionado com a maneira como as condições econômicas permaneceram difíceis para a população na Ucrânia, enquanto a paisagem se recupera lentamente.

"Há pontos de radiação [na zona de exclusão], mas a maior parte da contaminação é menor do que a encontrada em outras partes do mundo com radiação de fonte natural relativamente alta", explica. "O problema para a maioria das pessoas que vivem lá é que elas não têm uma alimentação adequada, serviços de saúde de qualidade, empregos ou investimentos."

Segundo ele, "depois de 30 anos, acho que o mais importante é o desenvolvimento econômico da região, e não a radioatividade".

Smith afirma que há diversas áreas nessa região nas quais há pessoas vivendo, mas a agricultura permanece banida mesmo que não haja risco à saúde das pessoas com o cultivo de produtos ali.

O restante será reinvestido no negócio, embora Smith pretenda pagar também a equipe para trabalhar meio período em seu "empreendimento de bebida social".

E qual é o gosto da Atomik?

Uma equipe de especialistas de um bar de coquetéis em Londres descrevem o sabor da Atomik.

"É mais uma bebida destilada de cereais do que uma vodca, por isso tem muito mais notas frutadas - você consegue saborear o centeio", diz Sam Armeye, do bar Swift, no centro de Londres.

E qual seria o coquetel que Armeye faria com ela?

"Definitivamente um martini clássico, mas também misturaria com champanhe."

Com apenas uma garrafa produzida até agora, vai demorar um pouco até que os martinis de vodca Atomik estejam disponíveis.

Mas Smith e sua equipe esperam fabricar 500 garrafas ainda neste ano, vendendo inicialmente para o crescente número de turistas que visitam a zona de exclusão. O preço ainda não foi divulgado.


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