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Psicólogos se mobilizam para ajudar sobreviventes, familiares e socorristas no desabamento de prédio em Fortaleza

"Temos vários tipos de luto que precisam ser identificados e acompanhados neste processo. No momento, tudo se resume a desespero, dor e desamparo", diz Renê Vieira Dinelli, que coordena os voluntários - RODRIGO PATRICIO/AFP
'Temos vários tipos de luto que precisam ser identificados e acompanhados neste processo. No momento, tudo se resume a desespero, dor e desamparo', diz Renê Vieira Dinelli, que coordena os voluntários Imagem: RODRIGO PATRICIO/AFP

Thays Lavor - De Fortaleza para a BBC News Brasil

16/10/2019 17h51

'O trabalho está apenas começando. Temos vários tipos de luto que precisam ser identificados e acompanhados neste processo. No momento, tudo se resume a desespero, dor e desamparo', diz Renê Vieira Dinelli, que coordena os voluntários.

Incrédulos, parentes de moradores do Edifício Andréa chegavam na manhã desta quarta-feira (16/10) ao prédio, que desabou no dia anterior em Fortaleza. Embora os escombros estivessem diante de seus olhos, processar o que eles viam parecia difícil. O silêncio tenso era quebrado por gritos de desespero ou de alívio em rever algum familiar.

De acordo com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, há três mortos, nove pessoas resgatadas com vida e nove desaparecidos. As buscas seguem e não têm hora para terminar.

Durante 6 horas, a reportagem da BBC News Brasil acompanhou as idas e vindas de familiares que buscavam informações de seus parentes. Presenciou o choro de profissionais que integravam as equipes de busca e, nesses momentos de extrema vulnerabilidade, acompanhou a acolhida dos profissionais de psicologia que se mobilizaram para atender os envolvidos.

Houve grande mobilização por parte da categoria em Fortaleza. Individualmente ou em grupos, estudantes ou profissionais, com suas identificações em punho, passavam pelos bloqueios e apresentavam-se a todo o momento ao local do desabamento.

Tratava-se de um atendimento psicológico, um escuta qualificada, uma acolhida a fim de atender às demandas dos atingidos pela tragédia. Há algum tempo a psicologia vem discutindo a atuação dos profissionais na gestão integral de riscos.

Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP), não se trata apenas de levar atendimento a um território atingido por desastres, mas também de atender às demandas de uma população que já se encontra em uma situação de vulnerabilidade, sob a perspectiva das estratégias de mitigação, prevenção e antecipação.

Não se sabe o total de voluntários envolvidos na ação, mas o número, até o momento, foi suficiente para que pudessem se organizar em turnos de três horas. Segundo o psicólogo e um dos coordenadores desta frente, Renê Vieira Dinelli, para cada turno de 3 horas existem 10 psicólogos atendendo.

Necessidades urgentes

"O trabalho está apenas começando. Temos vários tipos de luto que precisam ser identificados e acompanhados neste processo. No momento, tudo se resume a desespero, dor e desamparo. As pessoas ainda não conseguem processar o que estão vivendo", explicou Dinelli.

O grupo tem conseguido fazer a primeira acolhida familiar junto com profissionais de outras áreas, como assistentes sociais e Defesa Civil, e assim identificar as primeiras necessidades das famílias. Outros blocos são responsáveis pelos direcionamentos médicos, identificação de familiares, moradores e oficiais, entre outros.

Um plano de ação pós-desastre está sendo pensado. Segundo Rennê, além da articulação junto aos órgãos competentes tanto municipais quanto estaduais, será feita uma leitura territorial para identificar as clínicas particulares e universidades que possam disponibilizar o serviço para essa população específica.

"São inúmeros os possíveis usuários do serviço, desde os sobreviventes, aqueles que foram resgatados dos escombros ? mas que perderam suas casas ? temos os familiares das pessoas que vieram a óbito, temos a vizinhança, uma infinidade de pessoas que precisam deste apoio."

As estratégias de ação pós-desastre também serão articuladas junto do Conselho Regional de Psicologia (CRP-11). O conselheiro suplente do CRP-11, Eduardo Taveira, explicou que o órgão está mobilizado em atuar dentro das políticas públicas, "na identificação da rede de atenção psicossocial e contato com as autoridades para unir as ações".

Para o integrante do Grupo de Trabalho que trata da Gestão Integral de Riscos e Desastres do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Theófilo Gravins, essa articulação com a Defesa Civil e outros órgãos é fundamental. O CFP produziu uma nota técnica específica sobre a atuação dos profissionais nestas situações de desastre.

Um ponto do documento para o qual Gravins chama atenção é a necessidade da uma escuta livre de convicções religiosas e preconceituosas, além de especialização na área.

"A percepção de riscos por parte dos profissionais é importante, pois não sabemos como estas pessoas irão reagir e agir. Além disso, uma escuta qualificada livre de convicções religiosas, políticas e preconceituosas é importante para que estas pessoas não sejam induzidas", frisou Gravins.

O impacto do apoio psicológico profissional pode abranger diversos integrantes da família, assim como pessoas que moram no entorno, de acordo com os especialistas. O mais comum são casos de desorientação, transtorno de ansiedade, luto, depressão, negação, entre outras reações.

"Em um primeiro momento alguns negam a perda e percorrem um caminho muito singular até chegar à aceitação. Portanto, acompanhar esses processos com um olhar de cuidado é fundamental."

Ele explica que uma escuta empática e qualificada, "que busca a não revitimização da população", pode ajudar a prevenir possíveis efeitos colaterais e permite identificar outras demandas.


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