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"Estou morrendo. Desculpe, mãe": últimas revelações sobre a morte de 39 imigrantes em caminhão 

Policiais retiram caminhão onde foram encontrados 39 corpos no Reino Unido - Ben Stansall/AFP
Policiais retiram caminhão onde foram encontrados 39 corpos no Reino Unido Imagem: Ben Stansall/AFP

Da Redação

29/10/2019 16h10

A família de Pham Thi Tra My aguarda ansiosamente a identificação dos 39 corpos encontrados na quarta-feira (23), dentro de um caminhão refrigerado em Essex, 15 quilômetros a leste de Londres.

A polícia disse que será um processo longo, mas a família vietnamita aguarda, porque há uma forte suspeita de que um dos falecidos seja a garota de 26 anos.

"Sinto muito, mamãe e papai, minha viagem à terra estrangeira falhou", escreveu por mensagem de texto aos pais, como contaram eles à BBC.

"Estou morrendo, não consigo respirar. Amo muito vocês, mãe e pai. Desculpe, mãe", escreveu a jovem.

Seu irmão, Pham Ngoc Tuan, disse à BBC que Tra My está desaparecida desde o mesmo dia em que o caminhão com os 39 corpos foi encontrado.

Phan Ngoc disse que parte dos quase US$ 38 mil que essa viagem lhe custou foi paga a traficantes de pessoas.

A maior investigação da história

A polícia de Essex disse que estava trabalhando para "reunir todas as informações desse terrível acontecimento", que eles descreveram como a maior investigação de assassinato na história da polícia local.

Embora a polícia tenha dito inicialmente que todos os corpos podiam ser de cidadãos chineses, eles agora alertam que alguns dos mortos podem ser vietnamitas.

Outra família que aguarda investigações é a de Le Van Ha, 30, que também desapareceu na mesma data. Eles hipotecaram seus dois lotes de terra para pagar a viagem ao Reino Unido.

Seu pai, Le Minh Tuan, está convencido de que o filho está morto. Em uma das últimas mensagens que recebeu dele, ele disse que partiria para a Inglaterra.

Minh Tuan disse à BBC que sua família não tinha mais nada depois de pagar US$ 25 mil para garantir a entrada ilegal no Reino Unido.

Le Van Ha deixou para trás um filho pequeno e sua esposa grávida, que deu à luz durante esses dias de incerteza sobre seu paradeiro.

"Isso nos deixou com uma dívida enorme", disse Minh Tuan. "Não sei quando poderemos pagar. Sou um homem idoso, tenho uma saúde muito ruim e preciso ajudar a criar os netos."

O homem, de uma cidade agrícola no interior do Vietnã, seguiu o caminho que outros de seus compatriotas já haviam percorrido: partindo para o Ocidente em busca de melhores salários.

Acredita-se que uma parte dos vietnamitas encontrados no caminhão veio do mesmo distrito, Yen Thanh, na província de Nghe An.

Outras pessoas relatadas como possíveis vítimas por seus parentes são Bui Thi Nhung, 19, e Tran Thi Tho, 21.

Um amigo de Tran Thi Tho, que vive em Glasgow, na Escócia, e não quis ser identificado, disse à BBC que ele havia combinado de encontrá-la quando ele chegasse ao Reino Unido, mas não foi contatado.

Do Vietnã ao Reino Unido

Muitas dessas famílias pagam redes internacionais de facilitadores que cobram grandes somas de dinheiro em troca de mover pessoas ilegalmente através de diferentes fronteiras.

Os valores variam entre US$ 12 mil e US$ 38 mil. Muitos dos que deixam o Vietnã o fazem pela China, mas quando chegam ao Canal da Mancha, uma das maneiras de entrar ilegalmente é dentro de caminhões.

Após a notícia, o primeiro-ministro vietnamita, Nguyen Xuan Phuc, ordenou uma investigação sobre redes de tráfico humano, mas esse é um problema de longa data.

Um porta-voz da Embaixada do Vietnã em Londres confirmou que seu governo estava em contato com a polícia de Essex e abriu uma linha telefônica para consultas familiares.

O que se sabe dos suspeitos?

Pouco tempo depois de a polícia encontrar os corpos, o motorista do caminhão, Maurice Robinson, irlandês de 25 anos, foi acusado pelo assassinato das 39 vítimas, além de tráfico de pessoas, crimes relacionados à imigração ilegal e lavagem de dinheiro, informou a polícia local.

Ainda no âmbito da investigação do caso, um homem de 46 anos, também da Irlanda do Norte, foi preso no aeroporto de Stansted, em Londres, na sexta-feira, mas ele e mais dois foram libertados sob fiança.

A polícia de Dublin prendeu no sábado um homem que também poderia estar ligado à tragédia.

As autoridades também pediram a cooperação de imigrantes que vivem ilegalmente no Reino Unido, sob a promessa de que, se cooperarem, não serão tomadas medidas legais contra eles.