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O padre russo que escalou o Everest, foi aos polos e quer atingir estratosfera em um balão

Padre Fedor Konyukhov quer voar com um balão de ar quente até a estratosfera - BBC
Padre Fedor Konyukhov quer voar com um balão de ar quente até a estratosfera Imagem: BBC

Magnus Bennett

BBC Escócia

12/11/2019 15h34

O aventureiro Fedor Konyukhov está se preparando para um de seus maiores desafios até agora: voar com um balão de ar quente até a estratosfera.

O padre ortodoxo russo, de 67 anos, alcançou os polos norte e sul, escalou o Monte Everest duas vezes, remou pelos oceanos Atlântico e Pacífico e deu a volta ao mundo navegando por quatro vezes.

Mas sua próxima aventura é especial, mesmo para seus padrões.

Konyukhov tentará um recorde mundial de altitude viajando em um balão de ar quente.

Ele usará equipamentos projetados e construídos pela empresa Cameron Balloons - com sede em Bristol, na Inglaterra -, a mesma que o levou ao redor do mundo em um balão em tempo recorde em 2016.

Fedor Konyukhov  - Getty Images - Getty Images
Fedor Konyukhov tentará atingir 25 km de altitude em um balão, mais do que o dobro da altura em que os aviões comerciais costumam voar
Imagem: Getty Images

Ao decolar de um local no oeste da Austrália, Konyukhov tentará atingir 25 km de altitude (82 mil pés) - mais que o dobro da altura em que os aviões comerciais costumam voar.

Pelo plano, ele começará sua jornada até o fim desta semana.

Quem é Fedor Konyukhov?

Konyukhov nasceu em 1951, na costa do mar de Azov, na Ucrânia.

Foi ordenado sacerdote na Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscou, em 2010.

Ele completou o Grand Slam dos Aventureiros, chegando aos polos norte e sul e alcançando os picos mais altos dos sete continentes.

O padre é membro honorário da Academia de Artes da Rússia e produziu mais de 3 mil pinturas.

Konyukhov, cujos patrocinadores de voo incluem a gigante russa do setor de energia Gazprom, diz que quer "voar alto o suficiente para ver a curvatura da Terra e observar a escuridão do cosmos".

O recorde atual foi estabelecido em 2005 pelo indiano Vijaypat Singhania, que subiu 21 km (69 mil pés) em outro balão fabricado pela Cameron.

O russo teve de adiar sua tentativa de recorde prevista para o início deste ano, depois de ter demorado mais do que o planejado para completar a primeira etapa dos 12 mil km de uma viagem solo ao redor do hemisfério sul em um barco a remo.

O balão necessário para a tentativa de quebrar o recorde em altas altitudes é o maior que já foi construído.

A parte inflável do balão Z-3.500, chamada de envelope, é feita de cerca de 9 km de tecido leve especial e - junto com a gôndola ou cápsula - terá 68m de altura, quando inflado.

Um envelope padrão para um balão esportivo tem cerca de 2.500 metros cúbicos de volume. Este tem impressionantes 100 mil metros cúbicos.

"Borda do espaço"

O executivo-chefe da Cameron Balloons, Don Cameron, que ajudou a construir o primeiro balão de ar quente moderno da Grã-Bretanha, o Bristol Belle, em 1967, diz que seu vasto tamanho apresenta grandes desafios técnicos.

Segundo ele, o balão precisa ser extraordinariamente grande, porque ele irá até a extremidade do espaço, onde restam apenas cerca de 2% da atmosfera. "Isso significa que a força de elevação é muito fraca e só podemos neutralizar isso fazendo um balão enorme."

"Tivemos grandes dificuldades até para inspecioná-lo e testá-lo porque, se o inflarmos sob o sol, apenas o calor do sol que o aquece alguns graus na superfície daria a ele uma quantidade incontrolável de sustentação."

"Nós o levamos a um grande hangar de aeronaves em Bristol, onde eu trabalhava anos atrás, e o inspecionamos minuciosamente, mas não conseguimos inflá-lo completamente. Só será inflado completamente no dia em que voar."

Konyukhov e sua minúscula cápsula Z-3.500 receberão paraquedas especiais para o caso de um acidente.

Mas o aventureiro, que afirma realizar suas tentativas recordes de "ultrapassar os limites da resistência humana", reconhece que ainda é "um voo arriscado".

"Quando eu estava voando ao redor do mundo em 2016, minha altitude de voo variava entre 8 e 10 km", diz ele.

"A cabine não era pressurizada. Eu podia abrir a escotilha e subir em cima da cápsula, limpar o gelo dos queimadores e verificar as mangueiras do tanque de combustível usando uma máscara de oxigênio, para ter muito mais controle da situação."

"Desta vez, voando a 25 km de altura, usarei uma cápsula pressurizada. É como uma pequena nave espacial. Essa cápsula oferece mais conforto e sensação de segurança, mas só terei botões para controlar os queimadores e o envelope."

Konyukhov pode se confortar com o histórico de Cameron com tentativas de quebra de recorde mundial.

Sua empresa fabricou os únicos três balões que circunavegaram o mundo com sucesso sem parar - o Breitling Orbiter 3, em 1999, The Spirit Of Freedom de Steve Fossett, em 2002 e Morton de Konyukhov, em 2016.