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França proíbe exportação de obra-prima do século 13 encontrada em cozinha de idosa

O Escárnio de Cristo é um dos três painéis de Cimabue que ainda existem; trabalhos são datados de 1280 - Reuters
O Escárnio de Cristo é um dos três painéis de Cimabue que ainda existem; trabalhos são datados de 1280 Imagem: Reuters

24/12/2019 13h10

Pintura O Escárnio de Cristo, de Cimabue, havia sido vendida em leilão por 108 milhões de reais, mas será declarada patrimônio nacional

A descoberta de uma pintura do século 13 pendurada em cima do fogão de uma senhora de 90 anos no norte da França surpreendeu o mundo da arte em setembro de 2019.

A obra é do pintor italiano Cenni di Petro Cimabué, um importante artista pré-renascentista e se chama O Escárnio de Cristo.

A pintura foi vendida em um leilão em outubro por 24 milhões de euros, ou 108 milhões de reais, para um comprador nos EUA.

No entanto o quadro ainda não foi enviado, porque o governo francês barrou sua exportação por 30 meses na tentativa de arrecadar fundos para incluir o quadro no acervo do Louvre. O quadro foi declarado um tesouro nacional.

Como O Escárnio de Cristo foi encontrado

A pequena obra, de apenas 20,3 por 28,5 centímetros, foi encontrada por uma leiloeira durante uma visita à casa de uma idosa perto da cidade de Compiègne, que fica a 90 km ao norte de Paris.

A senhora estava se mudando para uma casa de repouso e um inventário seria realizado antes que a casa fosse esvaziada.

A leiloeira Philomène Wolf encontrou o trabalho pendurado acima das bocas de um fogão na cozinha. Os donos teriam achado que o quadro fosse uma reprodução russa cujas cores foram se apagando com os anos.

A casa já tinha sido vendida. "Eu tive uma semana para avaliar a mobília e esvaziá-la", disse Wolf à imprensa francesa. "Precisei abrir em espaço na minha agenda, senão tudo teria ido para o lixo reciclável."

Avaliado por especialistas em Paris, o quadro foi então identificado como obra de Cimabue e colocado para leilão. O comprador não foi confirmado, mas relatos na imprensa francesa dizem que seria uma dupla de colecionadores chilenos que vivem nos EUA e são especializados em arte renascentista.

Por que a pintura de Cimabue é importante?

Cimabue foi um dos primeiros pintores italianos a fugir do estilo de arte bizantino, mais formal, mas uma representação mais realista das pessoas. É fácil de entender por que O Escárnio de Cristo foi confundido por um ícone bizantino: os trabalhos do pintor eram produzidos em painéis de madeira, com o fundo em tinta dourada.

Conhecido como pintor de afrescos em Florença e Roma, ele sinalizou o começo da Renascença Florentina e acredita-se que foi o professor de Giotto, o grande artista florentino do século 14.

Seu Escárnio de Cristo é um de três painéis que sobreviveram de sua obra Díptico da Devoção, pintada por volta de 1280. Os outros dois estão na Galeria Nacional de Londres e na Galeria Nacional de Nova York.

O ministério da Cultura francês disse em uma nota que o Escárnio de Cristo estava em boas condições e tinha mais detalhes do que os outros dois painéis de Cimabue, mostrando um nova forma de expressão, especialmente "um tratamento humanístico e visível da face de Jesus, as expressões faciais das pessoas e o espaço".

A pasta disse que o ministro da Cultura, Franck Riester, seguiu a recomendação da Comissão Nacional de Tesouros ao bloquear a exportação da peça. A idea é que o governo levante fundos para comprar a obra e exibi-la no Louvre, em Paris, ao lado de outro trabalho de Cimabue, o Maestà de Santa Trinita.