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'Pessoas mantêm 1m de distância até nas filas', diz brasileiro na Itália

Luis Barrucho - @luisbarrucho - Da BBC News Brasil em Londres

13/03/2020 11h01

Há dois anos em Milão, Diego Werneck diz que bares, discotecas e cinemas estão fechados; "a relação humana agora é por redes sociais", diz.

Morando há dois anos em Milão, na Itália, o engenheiro mecânico carioca Diego Werneck, de 30 anos, diz que 'acabou' a vida social com a epidemia de coronavírus. Ele está em autoisolamento desde o último sábado, depois que o governo italiano pediu à população que ficasse em casa e restringisse a movimentação devido à doença.

Até agora, a Itália é o segundo país mais afetado pelo novo vírus, atrás apenas da China. O ritmo acelerado de infectados pela doença vem colocando enorme pressão sobre o sistema de saúde do país, um dos mais avançados da Europa. São mais de 15 mil infectados e mil mortos.

"Não estamos proibidos de sair de casa. O governo italiano pediu à população que ficássemos em casa o máximo possível. Isso quer dizer que não é para sair para tomar uma cerveja ou passear no parque. A recomendação é que você só saia para atividades de primeira necessidade, como fazer supermercado ou ir à farmácia", diz.

"Na última semana, houve uma conscientização muito grande dos cidadãos de cumprir as regras. Isso não estava acontecendo no começo. O efeito foi perceptível. Há muito poucas pessoas na rua. Mas não há falta de comida. E há filas no supermercado pois não pode entrar todo mundo ao mesmo tempo", acrescenta.

Werneck conta que, nas filas, as pessoas têm observado as recomendações das autoridades de saúde de manter uma distância mínima de um metro uma das outras como forma de diminuir a possibilidade contágio.

Diego Werneck mora com a namorada italiana e os dois estão trabalhando de casa.

"A empresa já permitia que trabalhássemos de casa. Mas antes só podíamos fazer isso por oito dias no mês. Agora estamos trabalhando de casa e isso é incentivado. Concentramos os dias que saímos de casa e fazemos compras grandes no supermercado", diz.

"O principal impacto é a vida social. Ficou muito limitada. Não se pode mais sair para encontrar as pessoas. Não se pode ir a um bar. Ou a uma discoteca ou a um cinema, que estão fechados. Não existe mais a reunião de amigos. A relação humana é por redes sociais", acrescenta.

Werneck conta que, desde o último sábado, quando as medidas de contenção social foram tomadas, não encontra seus amigos. Sua namorada tampouco visita a família, que vive a 1h30 de carro de Milão.

"Só vejo os meus amigos agora no supermercado. Mas falamos todo dia. Também deixamos de visitar os pais e avós da minha namorada. Mais por prevenção", diz.

"É estranho ficar em casa todo dia. Pode ser difícil principalmente pela falta de contato humano. Por sorte, tenho a minha namorada. Mas alguns amigos que moram sozinhos sofrem mais. Não existe mais vida na cidade. Neste momento, nossa vida é em casa", acrescenta.

Segundo Werneck, as medidas de distanciamento social impactaram fortemente a cultura italiana.

"Quando falamos com qualquer pessoa, tentamos manter no mínimo 1 metro de distância, até nas filas de supermercado. Também deixamos de cumprimentá-las. Aqui não damos beijos e abraços em desconhecidos. Mas é um povo brincalhão e caloroso. Mas, agora, nem um aperto de mãos", diz.

"Fomos a uma loja de móveis na semana passada e o vendedor pediu desculpas, mas não nos cumprimentamos", acrescenta.

Após falar com a reportagem, Werneck enviou uma foto à BBC News Brasil da fila do supermercado próximo à sua casa.

Ele diz que nenhum dos seus amigos próximos ou parentes deles contraíram o coronavírus.

Questionado sobre qual recomendação daria aos brasileiros, uma vez que a Itália está experimentando um estágio mais avançado da epidemia, Werneck diz que "não se pode menosprezar a situação".

"Mesmo que os sintomas sejam parecidos aos de uma gripe muito forte, o problema real é o da saúde pública. Sabemos que a doença afeta os mais idosos e só 10% evoluem para casos graves. Mas os casos aumentam exponencialmente e isso afeta bastante o sistema de saúde. Esse é o risco maior. O recado é não menosprezar e tentar aprender com a lição de outros países", conclui.


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