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Livro de John Bolton: 4 revelações sobre Trump nas polêmicas memórias do ex-assessor presidencial que a Casa Branca quer proibir

John Bolton foi o assessor de Segurança Nacional do governo de Donald Trump - Reuters
John Bolton foi o assessor de Segurança Nacional do governo de Donald Trump Imagem: Reuters

18/06/2020 12h16

É provavelmente o livro mais esperado do ano nos Estados Unidos.

A sua publicação foi anunciada em janeiro e desde então há leitores que já encomendaram suas cópias.

Trata-se do livro de memórias de John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional do governo de Donald Trump, que promete revelar informações relevantes que não vieram à tona durante o processo de impeachment.

Com o título "O Quarto onde Aconteceu (The Room Where It Happened, em inglês)", de 577 páginas, o livro deve chegar às lojas no dia 23 de junho — caso a Casa Branca não consiga impedir a sua publicação.

De acordo com o Departamento de Justiça, o livro contém "informações confidenciais". Na quarta-feira (17), o governo pediu que um juiz impeça a sua publicação.

Trump acusou Bolton, em uma entrevista na televisão na quarta-feira, de infringir as leis ao publicar o livro.

Bolton, que tinha sido embaixador dos EUA na ONU durante o governo de George W. Bush, trabalhou com Trump na Casa Branca de abril de 2018 até setembro de 2019. Ela nega que esteja cometendo algum crime.

A BBC conta abaixo algumas das revelações mais polêmicas do livro que já foram divulgadas pela imprensa americana até agora:

1. Trump buscou apoio da China para garantir sua reeleição

De acordo com o livro de Bolton, o presidente americano pediu ajuda ao seu colega chinês, Xi Jinping, para conseguir se reeleger neste ano.

Segundo Bolton, Trump pediu ajuda ao presidente chinês Xi Jinping para se reeleger - Reuters - Reuters
Segundo Bolton, Trump pediu ajuda ao presidente chinês Xi Jinping para se reeleger
Imagem: Reuters

A mensagem havia sido transmitida em diversas oportunidades.

Em uma cúpula de 2019, Trump teria dito a Xi que o aumento de compras agrícolas e de grãos americanos por parte dos chineses melhoraria suas perspectivas eleitorais.

Também em junho de 2019, durante um encontro bilateral na Cúpula do G20 no Japão, Trump teria falado com Xi sobre os comícios presidenciais nos Estados Unidos "referindo-se à capacidade econômica da China para influenciar a campanha em curso, pedindo a Xi que assegurasse que ele ganharia".

"(Trump) Destacou a importância dos agricultores e de um aumento das compras chinesas de soja e trigo no resultado eleitoral. Eu publicaria as palavras exatas de Trump, mas o processo de revisão prévia do governo me impediu", diz Bolton no livro, segundo o The Washington Post.

Quando Xi concordou em dar prioridade aos produtos agrícolas durante as negociações comerciais, Trump se referiu a ele como "o maior líder da história da China".

Na quarta-feira pela tarde, o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, refutou a versão de Bolton e disse que o pedido de ajuda para a reeleição "nunca ocorreu".

2. Invadir Venezuela seria 'legal'

De acordo com o relato de Bolton, que era um dos críticos mais ferrenhos ao presidente venezuelano Nicolás Maduro nos EUA, muitos dos governantes ajudados por Trump em troca de apoio tiravam proveito do presidente, na tentativa de manipulá-lo.

Um exemplo citado no livro foi uma ligação telefônica em maio de 2019 na qual o presidente da Rússia, Vladimir Putin, comparou o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó a Hillary Clinton, candidata democrata rival de Trump nas eleições de 2016.

Bolton classifica essa jogada como "uma brilhante amostra da propaganda no estilo soviético", que teria como objetivo assegurar apoio a Maduro, que é aliado do Kremlin.

E o resultado disso? Segundo Bolton, os argumentos de Putin "persuadiram Trump em grande parte".

O governo Trump, no entanto, mantém seu apoio firme a Guiadó como presidente interino e até aumentou as sanções contra o governo de Maduro.

Ao mesmo tempo, Bolton atribui a Trump uma série de afirmações escandalosas, como por exemplo, de que seria "cool" ("legal") invadir a Venezuela e que o país sul-americano é "na verdade parte dos Estados Unidos".

3. 'Ajudar os ditadores'

No livro, Bolton faz referência a várias ocasiões em que — segundo sua versão — Trump manifestou disposição em impedir investigações penais "para, na verdade, fazer favores pessoais a ditadores que lhe agradam".

O ex-assessor de Segurança Nacional diz que, em maio de 2018, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, entregou a Trump um documento no qual defendia a inocência de uma empresa turca que estava sendo investigada por promotores do Distrito Sul de Nova York por supostas violações a sanções contra o Irã.

"Trump então disse a Erdogan que tomaria as rédeas das coisas, explicando a ele que as pessoas da promotoria do Distrito Sul não eram pessoas suas, mas sim de Obama [ex-presidente Barack Obama, antecessor de Trump na Casa Branca], um problema que estaria solucionado quando fossem substituídos por pessoas suas", escreve Bolton, que diz que a obstrução de Justiça parecia ser padrão no governo, o que informou o procurador-geral William Barr sobre isso.

4. Obsessão por reeleição

Bolton assegura que Trump tinha um único objetivo acima de todos: garantir sua permanência na Casa Branca por mais quatro anos.

"É difícil achar alguma decisão significativa de Trump durante meu período com ele que não estivesse motivada por cálculos sobre sua reeleição", escreve.

Um exemplo disso foi a decisão de Trump de falar publicamente sobre seu desejo de tirar Maduro do poder durante 2018, o que - segundo o livro - estava motivado por seu desejo de agradar eleitores republicanos na Flórida.

No entanto, Bolton descreve Trump como hesitante na hora de apoiar Juan Guaidó, que se declarou presidente interino da Venezuela com apoio americano em janeiro de 2019.

Mesmo tendo apoiado a proposta de Bolton para reconhecer Guaidó como presidente legítimo da Venezuela, em apenas 30 horas, Trump já estava considerando voltar atrás, pois considerava Guaidó frágil como um "menino" em comparação com o "robusto" Maduro.

Com a mesma motivação eleitoral, Bolton diz que, em 2018, Trump gritou em uma reunião com um dos seus principais assessores, indicando que o muro da fronteira do México precisava ser construído e que a imigração ilegal precisava cair.

"Fui eleito por causa deste tema e agora não vou ser reeleito por causa disso", teria dito Trump, segundo Bolton.