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Che Guevara: a inédita homenagem na Bolívia a militares da operação que matou o guerrilheiro

11/10/2020 12h48

Se antes guerrilheiro socialista era reverenciado pelo então presidente Evo Morales, agora a governante interina, Jeanine Áñez, promove homenagem a militares que reivindicam ter participado de ação contra Che em 1967.

Uma das frases que Fidel Castro e Ernesto Guevara gritaram com maior veemência foi "pátria ou morte", diante de uma multidão que sempre respondia "venceremos".

Décadas depois que o slogan da Cuba socialista se tornou um emblema dos movimentos progressistas latino-americanos, o então presidente boliviano Evo Morales conseguiu fazer com que as tropas de seu país também o entoassem.

Foi o que aconteceu durante os anos de Morales. Mas na última sexta-feira (9/10) o governo da presidente interina, Jeanine Áñez, realizou um "ato de reparação" sem precedentes para os militares que reivindicam ter matado Guevara no país andino.

"Parabéns pela derrota do invasor comunista", disse a mandatária na manhã de sexta-feira, em uma cerimônia diante dos soldados que participaram da campanha de 1967.

A história entre as Forças Armadas da Bolívia e o guerrilheiro argentino-cubano tem raízes profundas.

Quando Ernesto Guevara foi capturado há 53 anos em um dos vales bolivianos, os militares celebraram como um ato de defesa da soberania de seu país.

Foi assim que contou Teófilo Zárate, presidente da Confederação dos ex-combatentes de Ñancahuazú, a unidade de militares que, mais de meio século depois, reivindica ter derrotado Che.

"Fomos cumprir um dever e obedecer ao chamado do país", disse o militar aposentado (mas com uniforme de campanha) em um ato inédito no qual o governo transitório atual da Bolívia reverenciou os soldados que lutaram em 1967.

Bolívia

Che se preparou para entrar na Bolívia pelo menos dois anos antes de sua chegada ao país.

Ele teve o apoio de alguns dos mais famosos guerrilheiros cubanos que participaram da Revolução na ilha caribenha em 1959 e que levou Fidel Castro ao poder.

Na Bolívia, ele conseguiu reunir militantes leais, mas também enfrentou adversários comunistas e a rejeição imediata do governo à época.

O projeto de Guevara de "exportar a Revolução Cubana" para a América do Sul é conhecido como um fracasso militar, mas não se nega que o que aconteceu há mais de meio século o tornou um ícone da esquerda latino-americana.

Ele foi fuzilado em 9 de outubro de 1967, em uma cidade perto de Vallegrande, no sudeste da Bolívia.

Trinta anos depois, de acordo com uma perícia feita por Cuba, os restos mortais do chamado "guerrilheiro heróico" foram encontrados naquela cidade e em seguida transferidos para Cuba.

"A ordem foi para desaparecer com os restos dele para que não houvesse um lugar de peregrinação", disse à BBC o general aposentado Gary Prado. O militar dirigiu a companhia do Exército boliviano que capturou Guevara, que tentava organizar um levante na Bolívia nos moldes da revolução cubana, em 8 de outubro de 1967.

Em 1995, o pacto de segredo foi rompido, e o oficial Mario Vargas Salinas revelou ao jornalista americano Jon Lee Anderson, biógrafo de Guevara, que os restos dele estavam enterrados na velha pista de pouso de Vallegrande.

A partir dessa informação, uma equipe de especialistas cubanos chegou a Vallegrande para iniciar as buscas pela vala com os restos mortais do guerrilheiro, que foram encontrados em 1997.

Com a descoberta dos restos mortais de Che Guevara em Vallegrande, aconteceu justamente o que os militares bolivianos temiam: o local virou ponto de peregrinação.

Mudança de postura e reparação

Durante os quase 14 anos de governo de Evo Morales, os "combatentes" da guerrilha de Che pediram reconhecimento em diversas ocasiões.

Jamais foram proibidos atos militares em homenagem aos militares que lutaram contra o socialista argentino-cubano, mas os integrantes da unidade ficaram em segundo plano diante das aparições de Morales com artistas pró-Cuba.

Por isso, neste ano, o atual governo transitório da Bolívia decidiu realizar um "ato de reparação" com os militares que participaram desse conflito armado nos anos 1960.

Desde a renúncia de Evo Morales e a posse da nova presidente, opositora do ex-mandatário, a Bolívia ordenou a saída de mais de 700 cubanos e congelou as relações com a ilha caribenha..

É uma postura bem diferente daquela que o ex-presidente boliviano expôs em diversas ocasiões, a exemplo de quando cumprimentava seguidores com o grito eternizado por Fidel e Guevara: "Até a vitória sempre".

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