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Eleições nos EUA 2020: 'Parem a contagem' - por que Trump repete acusações infundadas de fraude eleitoral

Com a pandemia, um maior número de votos foi enviado pelo correio do que em anos anteriores - Getty Images
Com a pandemia, um maior número de votos foi enviado pelo correio do que em anos anteriores Imagem: Getty Images

05/11/2020 14h15

"Parem a contagem", tuitou Donald Trump na manhã de quinta-feira (05/11).

Desde ontem, o presidente americano exige que a apuração dos votos seja interrompida, alegando que o Partido Democrata tenta fraudar a votação que determinará quem liderará os Estados Unidos pelos próximos quatro anos.

Isso só aumentou a tensão em um momento de forte polarização do país, em meio às medidas legais tomadas pela campanha de Trump em vários Estados-chave para determinar o ganhador: Wisconsin, Michigan, Pensilvânia e Geórgia.

Ainda na quarta-feira, mesmo sem a contagem de todos os votos ter acabado, Trump se declarou o vencedor e denunciou a suposta tentativa de fraude, sem qualquer evidência disso.

Por sua vez, o candidato democrata, Joe Biden, pediu "paciência", considerou as declarações do presidente "ultrajantes" e "sem precedentes" e disse estar confiante de que vencerá a disputa.

O que Trump disse

No final da manhã de quarta-feira, sem haver um vencedor declarado devido à incerteza quanto ao resultado da eleição em vários Estados, o presidente fez um discurso ao vivo da Casa Branca em que garantiu que os republicanos haviam vencido e denunciou que os democratas estavam tentando "roubar" a eleição.

Embora não haja provas disso, Trump continua a repetir as acusações pelo Twitter, o que levou a própria rede social a alertar que suas mensagens poderiam ser "enganosas" e a ocultá-las parcialmente.

"Ontem à noite, eu estava liderando, muitas vezes de forma sólida, em muitos Estados importantes, quase todos controlados e governados por democratas. Então, um por um, eles começaram a desaparecer magicamente enquanto lotes de votos surpresa eram contados. MUITO ESTRANHO", disse Trump.

Aparentemente, ele se referia em sua mensagem a uma situação que já havia sido cogitada, e não há evidências de que indique algum tipo de fraude.

Há uma particularidades das eleições deste ano, realizadas em meio à pandemia: houve um maior número de votos por correio, e há diferentes regras nos Estados sobre quando começar a contar e divulgar o resultado dessas votações.

Outro dado crucial para entender a situação é que as pesquisas realizadas com eleitores registrados mostravam que os democratas tinham maior intenção de votar pelo correio, enquanto os republicanos preferiam ir votar no dia da eleição.

Trump já vinha semeando dúvidas sobre o voto pelo correio há meses e insistia que o vencedor deveria ser proclamado na mesma noite da eleição, algo que geralmente só acontece por causa das projeções da mídia e de uma admissão de derrota por parte do perdedor, mas nunca por parte dos funcionários públicos responsáveis pela apuração.

Em alguns Estados, como a Flórida, os votos pelo correio começaram a ser contados semanas antes da realização da eleição, assim que chegaram. Em outros, como Wisconsin ou Pensilvânia, esse tipo de voto só começou a ser apurado no dia das eleições ou após o fechamento das urnas.

Por todos esses motivos, em alguns Estados, os primeiros resultados iniciais mostraram uma tendência a favor de um candidato e depois viraram a favor do adversário.

Aconteceu tanto para um lado como para o outro. Na Flórida, onde os resultados da votação pelo correio foram divulgados primeiro, o início da apuração apontava Biden na liderança, mas o Estado acabou nas mãos dos republicanos. No Michigan, ocorreu o contrário.

É a isso que Trump parece aludir em seu tuíte, mencionando "votos surpresa" em aparente referência aos votos que chegavam pelo correio e começaram a ser contados mais tarde na noite em Estados importantes como Pensilvânia, Michigan ou Wisconsin, onde o presidente apareceu no começo como líder, mas seu rival diminuiu a diferença mais tarde.

Na verdade, vários analistas, políticos e meios de comunicação do país já haviam alertado para a possibilidade desse fenômeno ocorrer na noite das eleições e que isso poderia gerar confusão: são as "miragens" vermelha ou azul.

Batalhas judiciais

Além de suas críticas, a campanha de Trump recorreu à Justiça. Os republicanos anunciaram na quarta-feira que apresentaram diferentes ações judiciais em Estados-chave para evitar que "os democratas roubem a eleição".

Geórgia

De acordo com a campanha de Trump, um observador republicano viu que 53 votos foram "adicionados ilegalmente" aos que chegaram a tempo pelo correio. O partido pediu que a contagem fosse suspensa no Condado onde isso ocorreu.

A Geórgia é um forte reduto republicano e não vota em um candidato democrata desde 1996, mas, nesta eleição, o a diferença entre Biden e Trump está muito apertada, embora ainda a favor do presidente.

Michigan

A campanha republicana entrou com uma ação para suspender a apuração porque diz ter sido negado "acesso relevante" a seus membros para observar a abertura de votos e a contagem, apesar de a apuração já estar em 96% quando isso ocorreu.

Trump ganhou neste Estado em 2016, mas por uma margem de só 10.700 votos, e tanto a mídia americana quanto a BBC projetam que Biden conseguiu vencer ali neste ano.

Foi o primeiro Estado em que os democratas conseguiram fazer isso, e uma vitória democrata em Michigan reduz as chances do presidente se reeleger.

Wisconsin

A equipe da presidente anunciou que vai pedir a recontagem no Estado, citando "irregularidades em vários municípios".

Não está claro quando isso ocorrerá, já que normalmente não é feito até que as autoridades dos respectivos Condados terminem de analisar os votos. O prazo final dessa parte do processo é 17 de novembro.

O professor da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia, Richard Briffault, lembrou que houve uma recontagem em Wisconsin em 2016 e que isso "mudou cerca de 100 votos".

"A recontagem não é uma forma de contestar a legalidade de um voto", explicou ele, "é simplesmente uma forma de ter certeza de que os cálculos estão corretos."

Pensilvânia

Os republicanos se opõem a uma decisão do Supremo Tribunal Federal daquele Estado que, devido à pandemia, votos pelo correio poderão ser contados até três dias após 3 de novembro, desde que tenham sido enviados naquele dia ou em datas anteriores.

Estima-se que, na Pensilvânia, houve mais de 2,6 milhões de votos pelo correio, dos quais mais de 1 milhão ainda permaneciam não contados na quarta-feira.

Matthew Weil, diretor do projeto eleitoral do Centro de Pesquisa de Políticas Bipartidárias, considerou a disputa da Pensilvânia a mais preocupante, uma vez que há um impasse com o empate dos votos da Suprema Corte do país sobre essa questão.

A juíza Amy Coney Barrett, indicada por Trump, passará a fazer parte do tribunal.

"Alguns dos votos individuais divergentes da Suprema Corte indicaram que estariam interessados em seguir debatendo o assunto mais tarde. Portanto, há o risco de que alguns dos votos [pelo correio] que foram enviados no dia da eleição, mas só serão recebidos até sexta-feira sejam descartados ", disse.

No entanto, Weil advertiu que a diferença entre Trump e Biden teria que ser "muito, muito apertada para que isso afete" o resultado final.

A campanha de Trump declarou vitória na Pensilvânia, apesar de ainda haver muitos votos a serem contados e nenhum grande veículos de mídia projetar um vencedor neste Estado, que muitos analistas consideram que será chave para definir quem ganhou as eleições.