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Biden eleito presidente: como ele vai mudar a política externa dos EUA

O presidente eleito, Joe Biden, tem uma visão mais globalista, de inserção dos EUA, do que o atual presidente, Donald Trump Imagem: Getty Images

Barbara Plett Usher - Correspondente do Departamento de Estado - BBC

10/11/2020 09h54

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se relaciona com o mundo a partir de um nacionalismo que definiu como "America First" (América em Primeiro Lugar), abandonando acordos internacionais que ele acreditava terem dado ao país dele um pacto injusto.

É uma visão transacional, disruptiva e unilateralista. Também agiu de forma pessoal e errática, moldado por seus sentimentos viscerais e relacionamentos com líderes, e impulsionado por seu feed do Twitter.

O presidente eleito, Joe Biden, tem uma visão muito mais tradicional do papel e dos interesses dos Estados Unidos, baseado em instituições internacionais estabelecidas após a Segunda Guerra Mundial e em valores democráticos ocidentais compartilhados.

A visão de mundo está baseada em alianças globais em que os Estados Unidos lideram as nações livres no combate às ameaças transnacionais.

O que pode mudar durante o governo Biden? Alguns pontos se destacam: a abordagem em relação aos aliados, as mudanças climáticas e ao Oriente Médio.

Lidando com aliados

O presidente Trump elogiou autocratas e insultou aliados. No topo da lista de tarefas de Joe Biden, está a restauração de relacionamentos tensos, especialmente na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e o retorno a alianças globais.

O governo Biden também voltaria à Organização Mundial da Saúde e buscaria liderar uma resposta internacional ao coronavírus.

A campanha de Biden enquadrou isso como uma grande reconfiguração para resgatar a imagem danificada dos EUA e para reunir as democracias contra o que considera uma onda crescente de autoritarismo.

No entanto, pode ser mais estilo do que substância, contrapõe Danielle Pletka, do conservador American Enterprise Institute. Ela argumenta que o governo Trump conquistou muito no cenário global, apenas com cotoveladas afiadas.

"Perdemos amigos para ir a festas? Pode apostar", diz ela. "Ninguém quer ir a festas com Donald Trump. Perdemos poder e influência nas métricas que realmente importaram nos últimos 70 anos? Não."

Mudança climática

Por falar em substância, Joe Biden diz que fará do combate às mudanças climáticas uma prioridade e voltará a aderir ao Acordo Climático de Paris, um dos acordos internacionais que Donald Trump abandonou.

Nesta questão, os dois estão em polos opostos. Trump vê o combate ao aquecimento global como uma ameaça à economia. Ele promoveu os combustíveis fósseis e reduziu inúmeras proteções ambientais e regulamentações climáticas.

Biden está prometendo um ambicioso plano de US$ 2 trilhões para atingir as metas de redução de emissões. Ele diz que faria isso construindo uma economia de energia limpa e criando milhões de empregos nesse processo.

Irã

Joe Biden diz que está preparado para retomar outro acordo internacional abandonado pelo presidente Trump: o acordo que deu ao Irã o alívio das sanções em troca da redução de seu programa nuclear.

O governo Trump retirou-se em 2018, dizendo que o acordo de controle de armas era muito estreito para lidar com as ameaças representadas pelo Irã e muito fraco em seus limites à atividade nuclear, que expiram com o tempo.

O republicano impôs sanções novamente e continua a aumentar a pressão econômica, tendo recentemente colocado quase todo o setor financeiro iraniano na lista negra. Em resposta, o Irã parou de seguir algumas das restrições à sua atividade nuclear.

Biden diz que esta política de "pressão máxima" falhou, enfatizando que levou a uma escalada significativa nas tensões, que os aliados a rejeitaram e que o Irã está agora mais perto de uma arma nuclear do que quando Trump assumiu o cargo.

Ele diz que retornará ao acordo nuclear se o Irã voltar ao cumprimento estrito - mas ele não suspenderia as sanções até então. Biden então negociaria para tratar das preocupações que ele compartilha com o presidente.

Iêmen

Biden também encerraria o apoio dos EUA à guerra liderada pelos sauditas no Iêmen. O alto número de civis mortos criou uma forte oposição ao envolvimento dos EUA por parte da ala esquerda do partido e de um número crescente de parlamentares no Congresso.

A Arábia Saudita é o aliado árabe mais próximo do presidente Trump, uma pedra angular da aliança anti-Irã. Analistas veem Biden recuando na aceitação amplamente acrítica de Trump da monarquia do Golfo.

"Eu realmente acho que no Oriente Médio haverá uma mudança radical", diz Pletka, "uma política mais pró-Irã e menos pró-saudita, com certeza."

Conflito árabe-israelense

Joe Biden viu com bons olhos o acordo do presidente Trump entre Israel e os Emirados Árabes Unidos. Como a velha guarda democrata, Biden é um defensor ferrenho e apoiador de longa data de Israel - a palavra ocupação não está incluída na plataforma de política externa do partido.

Mas é improvável que ele adote as políticas do governo Trump em relação à Cisjordânia ocupada. Isso inclui uma declaração de que os assentamentos israelenses não violam o direito internacional e a tolerância (senão o entusiasmo) pelos planos israelenses de anexar unilateralmente partes do território.

A ala esquerda do Partido Democrata, que tem uma coalizão de política externa muito mais desenvolvida e assertiva do que nos anos anteriores, está pressionando por uma ação maior em relação aos direitos palestinos.

"Acho que tivemos um engajamento muito mais forte de defensores dos direitos palestinos, palestinos- americanos, árabes-americanos", disse Matt Duss, assessor de política externa do ex-rival de Biden, Bernie Sanders, "mas também de vários grupos judeus-americanos que entendem que acabar com a ocupação é uma questão fundamental para a política externa dos Estados Unidos. "

Então, isso é algo para aguardarmos.

O que permaneceria da mesma forma?

Como o presidente Trump, Biden quer acabar com as guerras eternas no Afeganistão e no Iraque, embora deva manter uma pequena presença de tropas em ambos para ajudar no combate ao terrorismo. Também não é esperado que corte o orçamento do Pentágono ou suspenda os ataques de drones, apesar da pressão da esquerda.

E, quando se trata de adversários geopolíticos, pode haver menos diferença do que você esperaria.

Rússia

O relacionamento no topo certamente mudaria. O presidente Trump frequentemente parecia disposto a perdoar pessoalmente Vladimir Putin por comportamentos que violavam as normas internacionais.

Mas o governo Trump foi muito duro com a Rússia, punindo o país com sanções. Isso provavelmente continuaria sob a presidência de Biden, sem as mensagens confusas.

O ex-vice-presidente disse sem rodeios à CNN que acreditava que a Rússia era "um oponente". Ele prometeu uma resposta enérgica por interferência eleitoral e por supostos pagamentos de recompensas ao Taleban para alvejar as tropas americanas no Afeganistão, algo que Trump não tratou.

Ao mesmo tempo, Biden deixou claro que deseja trabalhar com Moscou para preservar o que resta dos tratados de controle de armas que restringem seus arsenais nucleares. O presidente Trump retirou-se de dois, acusando a Rússia de trapacear, e está tentando negociar a prorrogação de um terceiro, que expira em fevereiro. Biden se comprometeu a estendê-lo sem condições se for eleito.

China

Em 2017, Donald Trump descreveu como ele e Xi Jinping se reuniram e comeram bolo de chocolate. Mas, desde então, Trump trocou sua amizade com o presidente chinês por acusações de disseminação do coronavírus, por medidas duras e por uma nova retórica da Guerra Fria.

Sobre endurecer com a China (sobre comércio e outras questões), a questão que pode mudar é a tática.

Biden pode continuar com a política do presidente Trump de combater as "práticas econômicas abusivas" da China, mas em conjunto com aliados, em oposição à preferência de Trump por acordos comerciais unilaterais.

Os cotovelos afiados da administração Trump foram bem-sucedidos em obter apoio global para um boicote à tecnologia de comunicação chinesa. Isso é parte de uma séria escalada nos esforços dos EUA para reagir contra Pequim em muitas frentes, o que levou as relações ao ponto mais baixo em décadas.

Esta campanha é liderada pelos falcões chineses de Trump - "competição estratégica", como eles chamam, mas "confronto estratégico" é como alguns analistas descrevem. Joe Biden deve buscar mais ativamente áreas de cooperação com uma China em ascensão.

Ele diz que quer reviver a liderança americana.

Mas o mundo também mudou nos últimos quatro anos, com o retorno robusto da competição de grandes potências e pesquisas recentes mostrando que a reputação dos Estados Unidos despencou mesmo entre aliados leais - aqueles que Biden aspiraria liderar.

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