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A incrível vida de Marcel, o herói de seis anos da 2ª Guerra Mundial homenageado pela França

Marcel Pinte tinha seis anos e era o herói mais jovem da Resistência Francesa à ocupação nazista - AFP/Coleção Gwenola Balmelle
Marcel Pinte tinha seis anos e era o herói mais jovem da Resistência Francesa à ocupação nazista Imagem: AFP/Coleção Gwenola Balmelle

14/11/2020 15h14Atualizada em 14/11/2020 15h20

Ele era um agente de ligação, levando mensagens secretas e cartas para fazendas vizinhas na região central da França.

"Com a mochila escolar nas costas, ninguém desconfiava dele", lembra seu sobrinho.

Por causa de sua memória "assombrosa", confiaram nele para transmitir as mensagens que escondia sob a camisa.

Marcel Pinte tinha seis anos e era o herói mais jovem da Resistência Francesa à ocupação nazista durante a 2ª Guerra Mundial.

Depois de muitos anos, seu nome foi finalmente inscrito em um monumento na França, junto com os de outros que lutaram contra a Alemanha de Hitler.

A criança mensageira morreu tragicamente em agosto de 1944 por um disparo acidental.

Mas sua memória foi homenageada no Dia do Armistício, 11 de novembro, em uma cerimônia em Aixe-sur-Vienne, perto da cidade de Limoges, no centro da França.

Memória incrível

O pai de Marcel, Eugène Pinte (também conhecido por Athos) liderava uma rede da Resistência na remota casa de fazenda da família em La Gaubertie, um vilarejo na área de Aixe-sur-Vienne.

Um de seus netos, Marc Pinte, explica à agência de notícias AFP que Marcel "entendeu tudo de uma vez" , por isso conquistou rapidamente a confiança dos guerrilheiros.

Ele estava ansioso para desempenhar um papel na luta contra a Alemanha nazista e se tornou um agente apelidado de "Quinquin", ou "menininho".

Marcel ficou feliz em passar um tempo na floresta com membros da Resistência, conhecidos como maquisards, onde aprendeu seus métodos clandestinos.

Eugène Pinte, junto com sua esposa Paule e seus cinco filhos, organizou encontros secretos nas fazendas e até escondeu um paraquedista britânico no sótão de sua casa.

Outro parente de Marcel, Alexandre Brémaud, passou anos pesquisando a história do menino porque os registros oficiais focavam mais nas guerrilhas da Resistência e nas operações de sabotagem, e menos nos auxiliares, muitas vezes mulheres e crianças, que também corriam riscos para derrotar a ocupação nazista.

"Minha avó o descrevia como um irmão extremamente feliz, inteligente e brilhante, cheio de travessuras", diz Brémaud à BBC.

Ele conta que o menino ria quando o operador de rádio clandestino, que trabalhava na sala de jantar da família, fingia engolir a pílula de cianeto que carregava.

O vilarejo era "um lugar escondido e de muito difícil acesso", e os guerrilheiros consideravam o local "prático e discreto", diz Brémaud à AFP.

O papel de Marcel foi finalmente reconhecido pelo Estado francês. Em 1950, ele foi condecorado postumamente com o posto de sargento da Resistência.

Então, em 2013, o Escritório Nacional para Ex-Combatentes e Vítimas de Guerra do país emitiu para ele um cartão oficial póstumo para "combatentes voluntários da Resistência".

Morte trágica

Quando os Aliados entraram na França vindos da Normandia no verão de 1944, a Resistência intensificou suas operações contra os alemães.

Uma noite, Marcel acompanhou um grupo de maquis em uma operação. Eles haviam recebido uma mensagem em código pela BBC: "O não-me-esqueças é minha flor favorita."

O encontro era em La Gaubertie e de repente, enquanto eles esperavam, uma das pistolas Sten dos homens disparou acidentalmente, matando Marcel.

Sua certidão de óbito foi forjada para manter a existência da unidade em segredo.

Brémaud diz que os britânicos homenagearam o menino usando paraquedas pretos em sua próxima entrega de suprimentos.

Foi uma nota encontrada por Brémaud nos arquivos militares de Vincennes que narrava a história de Marcel, escrita por um oficial do exército francês.

As façanhas de guerra do pai de Marcel, Eugène, já eram bem conhecidas. Ele morreu em 1951, aos 49 anos.

O menino foi enterrado em agosto de 1944, poucas horas antes da libertação de Limoges, "na presença de vários batalhões; o caixão foi coberto com a bandeira tricolor", diz Marc Pinte.