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Após prisão de opositor, Putin tenta reprimir onda de protestos progamada para mais de 60 cidades na Rússia

A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, é acusada de violar as leis de protesto - APF
A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, é acusada de violar as leis de protesto Imagem: APF

23/01/2021 09h05

Polícia russa detem assessores do opositor de Putin Alexei Navalny, enquanto ativistas da oposição iniciam série de manifestações em todo o país

A polícia russa deteve auxiliares próximos ao político da oposição Alexei Navalny na tentativa de conter uma série de protestos programados em todo o país para este sábado (23).

Navalny foi preso no domingo (17) após voltar para Moscou vindo de Berlim, onde se recuperava de um ataque químico quase fatal por um agente nervoso em agosto passado.

Atualmente, ele é o crítico mais importante do líder russo Vladimir Putin.

Nos últimos dias, a polícia interrompeu manifestações na região leste de Khabarovsk e reforçou duras advertências para as pessoas ficarem em casa.

Apoiadores de Navalny inundaram as redes sociais com chamados para os protestos em dezenas de cidades. A rede social TikTok se tornou uma das principais plataformas para as convocações.

Preso imediatamente após chegar em Berlim, Navalny foi considerado culpado por violar regras de sua liberdade condicional.

O opositor, por sua vez, diz que este seria um caso inventado para silenciar suas críticas ao governo russo.

Prisões

Mais de 60 milhões de pessoas assistiram a um vídeo de Navalny que mostra um suposto palácio de luxo atribuído ao presidente Vladimir Putin no Mar Negro. O Kremlin nega que a propriedade pertença ao presidente.

Entre os detidos em Moscou na quinta-feira (21) estavam sua porta-voz, Kira Yarmysh, e uma de suas advogadas, Lyubov Sobol. Elas enfrentam multas ou penas curtas de prisão.

A advogada Sobol, que tem um filho pequeno, foi libertada posteriormente.

Apoiadores importantes de Navalny também foram detidos nas cidades de Vladivostok, Novosibirsk e Krasnodar.

Protestos

Atos não autorizados estão sendo planejados em mais de 60 cidades da Rússia para este sábado (23). A polícia de Moscou afirma que quaisquer manifestações ou provocações serão "imediatamente reprimidas".

Aproximadamente mil pessoas teriam saído às ruas na região de Khabarovsk, segundo relatos, e agumas delas já teriam sido detidas.

A esposa de Navalny, Yulia, que viajou da Alemanha para a Rússia com ele, disse que participaria de protestos em Moscou "por mim, por ele, por nossos filhos, pelos valores e ideais que compartilhamos".

A Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny (FBK) atraiu milhões de seguidores nas redes sociais, por meio de vídeos que alegam corrupção oficial em grande escala. Há anos, ele denuncia o governo de Putin como "feudal" e cheio de "vigaristas e ladrões".


Análise: Por que Navalny mexe com os nervos do KremlinPor Steve Rosenberg, correspondente da BBC em Moscou

Por muito tempo, autoridades russas trataram Alexei Navalny como alguém irrelevante. Apenas um blogueiro. Com um pequeno número de seguidores. Que não representava ameaça alguma.

Os eventos recentes sugerem o contrário. Primeiro, Navalny foi alvo de um ataque com um agente nervoso, supostamente por mesmos do serviço secreto de segurança russo FSB.

Em vez de investigar o envenenamento, a Rússia está investigando o envenenado: ao voltar da Alemanha, o crítico do Kremlin foi imediatamente preso.

Depois de colocar Navalny atrás das grades, as autoridades estão pressionando seus apoiadores. O maior medo do Kremlin é qie uma revolução ao estilo ucraniano na Rússia que varresse os que estão no poder.

Não há indicação de que tal cenário seja iminente. Mas com o crescimento dos problemas econômicos, o Kremlin teme que Navalny possa agir como uma espécie de pára-raios para o sentimento de protesto. Isso explica a repressão policial contra os aliados de Navalny antes dos potenciais protestos de sábado.

Além disso, o caso está ficando pessoal. O vídeo de Navalny sobre o "Palácio de Putin" no Mar Negro foi criado para causar o máximo de constrangimento ao presidente russo.


Oposição a Putin

No vídeo "Palácio de Putin", Navalny alega que ricos empresários próximos a Putin pagaram por um suntuoso palácio de 17,7 mil metros quadrados para ele em Gelendzhik, no Mar Negro.

Alega-se que a propriedade tem casino, teatro e outros luxos, como plantação de uvas e uma casa de chá. O Kremlin considerou o vídeo do YouTube uma "pseudo-investigação" com o objetivo de arrecadar dinheiro para Navalny.

Promotores alertaram a população russa contra os protestos em apoio a Navalny no sábado. O Ministério da Educação da Rússia disse aos pais para não permitirem que seus filhos comparecessem.

Algumas celebridades russas nas artes e nos esportes, como a estrela do hóquei no gelo Artemi Panarin, prometeram apoiar Navalny.

O ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov - agora um importante ativista anti-Putin baseado nos Estados Unidos - tuitou que as postagens pró-Navalny estavam sendo amplamente bloqueadas na Rússia.

"As páginas no Facebook dos grupos e apoiadores de Navalny e Khodorkovsky foram suspensas. Mesmo contas pequenas como o Free Russia Forum no Instagram foram bloqueadas após milhares de reclamações falsas de novas contas de robôs do Kremlin", escreveu.


Resposta europeia

Em um telefonema para o presidente Putin na sexta-feira, o presidente do Conselho da União Europeia (UE), Charles Michel, expressou "grande preocupação" com a prisão de Navalny.

Michel disse que a UE está "unida em seu apelo à Rússia para libertar rapidamente Navalny e prosseguir com a investigação da tentativa de assassinato contra ele, com total transparência e sem mais demora".

Em outubro, a UE impôs sanções a seis altos funcionários russos e a um centro de pesquisa de armas químicas da Rússia pelo envenenamento de Navalny.

O Kremlin retaliou, negando qualquer papel no ataque e rejeitando a descoberta de especialistas de que o agente nervoso russo havia sido usado na operação.

TikTok

O aplicativo TikTok tem uma enxurrada de vídeos de russos promovendo os protestos planejados para sábado. As mensagens sobre Navalny têm viralizado há vários dias.

Um conhecido usuário russo do TikTok, Slava Varfolomeyev, disse à BBC News Rússia: "Eu abro o TikTok e vejo que um em cada três vídeos é sobre o 'palácio de Putin', a detenção de Navalny e o comício de 23 de janeiro".

Ele disse que na quinta-feira "isso atingiu o máximo: praticamente sete em cada 10 vídeos eram sobre esse assunto [Navalny]". A popularidade do TikTok é fruto de seus vídeos curtos e ágeis.

Na quarta-feira, o órgão oficial de observação de imprensa da Rússia, Roskomnadzor, exigiu que a TikTok retirasse qualquer informação "encorajando menores a agir ilegalmente", ameaçando a imposição de duras multas.


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