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Em reviravolta, Senado decide ouvir testemunhas e adia veredito sobre impeachment de Trump

13/02/2021 14h22

O Senado americano decidiu em votação neste sábado (13/2) convocar testemunhas ao julgamento de impeachment do ex-presidente americano Donald Trump, atrasando um veredito esperado para hoje. A decisão pode fazer o julgamento se estender por dias.

O ex-presidente americano é acusado de incitar a insurreição contra o Capitólio americano no dia 6 de janeiro, quando legisladores estavam reunidos para certificar a vitória do presidente Joe Biden. Trump nega. A invasão deixou cinco mortos.

Os senadores querem ouvir a deputada republicana Jaime Herrera Beutler, que na sexta (12/2) chamou a atenção de legisladores com uma declaração. Segundo Beutler, outro congressista republicano, Kevin McCarthy, lhe disse que Trump havia demonstrado apoio à insurreição enquanto ela acontecia, em um telefonema entre os dois naquele 6 de janeiro. McCarthy ainda não se pronunciou publicamente sobre o relato de Beutler.

A decisão de chamar testemunhas foi aprovada por 55 dos 100 senadores em meio a um debate acalorado.

Analistas apontam que uma condenação de Trump pelo Senado é improvável. Para que isso ocorra, 67 dos 100 senadores teriam que votar contra ele. Como só contam com 50 cadeiras, os democratas precisariam convencer 17 republicanos para chegar a esse resultado. Mas apenas 6 deles se mostraram dispostos a reconhecer a legalidade do julgamento contra Trump, indicando como a maioria deve votar.

Este é o segundo julgamento de impeachment de Trump. Nas duas vezes, a Câmara aprovou seu impeachment, fazendo dele o primeiro presidente a sofrer um impeachment duas vezes.

Caso o Senado condenasse Trump agora, os senadores também poderiam decidir se ele seria impedido de concorrer a cargos políticos. Se não for condenado - como em seu primeiro processo de impeachment -, o caminho para Trump concorrer em eleições seguirá livre.

O que disse a acusação

No começo da semana, os deputados a cargo da tarefa de denunciar Trump revistiraram os passos do republicano e seus aliados que levaram ao que qualificaram como desfecho "previsível" da manifestação: a violenta tomada do Capitólio pelos manifestantes trumpistas, que resultou na morte de 5 pessoas.

Retrocederam meses para mostrar como Trump já havia estabelecido na campanha presidencial a narrativa de que só perderia para Biden se as eleições fossem roubadas.

De acordo com a acusação, depois das eleições, Trump passou a acusar o adversário de fraude, entrando com dezenas de ações judiciais em oito estados para contestar o resultado. Embora não tenha vencido os processos, as ações deram força aos apoiadores, que se diziam injustiçados e passaram a participar de protestos em que cobravam revisão do resultado, segundo a acusação.

Nesse clima, foram chamados pelo presidente americano a uma grande manifestação na capital federal, no dia da certificação dos votos pelo Colégio Eleitoral. "Donald Trump, durante muitos meses, cultivou a violência, elogiou-a e, então, quando viu a violência de que seus apoiadores eram capazes, ele a canalizou para seu grande, selvagem e histórico evento", afirmou Stacey Plaskett, delegada legislativa das Ilhas Virgens Americanas (espécie de representante mas sem direito a voto) que faz parte da equipe de acusação.

A acusação também exibiu vídeos daquele 6 de janeiro, do comício de Trump, em que seus apoiadores gritavam "invadam o Capitólio" enquanto Trump discursava, e da própria insurreição, mostrando como os invasores chegaram perto de legisladores e até do vice-presidente americano Mike Pence. Imagens também mostraram manifestantes gritando em busca da presidente da Câmara Nancy Pelosi quando entraram no prédio.

A defesa de Trump

Advogados de Trump apresentaram sua defesa nesta sexta (12/2) em pouco menos de quatro horas das 16 que tinham disponíveis, tentando acelerar o julgamento.

Disseram que a acusação é uma "mentira monstruosa" e que é uma "caça politicamente motivada" pelos democratas.

"Afirmar que o presidente de alguma forma desejou ou encorajou um comportamento violento ou fora da lei é uma mentira absurda e monstruosa", disse o advogado Michael van der Veen. "Na verdade, as duas primeiras mensagens que o presidente enviou via Twitter assim que a incursão no Capitólio começou foram 'Fiquem pacíficos' e 'Sem violência porque somos o partido da lei e da ordem'", argumentou.

Segundo ele, quando Trump disse em seu discurso naquele dia 6 de janeiro para que seus apoiadores "lutassem como nunca", ele fazia apenas um discurso político.

Além disso, Trump tinha o direito legal de questionar os resultados das eleições, afirmou.