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Espiões russos na Europa: as ações secretas de 'sabotagem, subversão e assassinato' da Unidade 29155

Os suspeitos de um ataque contra Sergei Skripal e sua filha Yulia também estão ligados à uma explosão na República Tcheca - MET Police
Os suspeitos de um ataque contra Sergei Skripal e sua filha Yulia também estão ligados à uma explosão na República Tcheca Imagem: MET Police

Gordon Corera

Repórter de Segurança da BBC News

21/04/2021 08h14

As revelações recentes de que o serviço de inteligência das Forças Armadas Russas (conhecido como GRU) esteve por trás da explosão em um depósito de armas na República Tcheca que matou duas pessoas em outubro de 2014 gerou uma grande disputa diplomática entre Praga e Moscou.

Mas também levantou questões sobre do que o GRU é capaz, se ele pode ser impedido e quais outras operações ele pode ter realizado até agora.

Os serviços de inteligência europeus acreditam que a missão de uma divisão do GRU conhecida como Unidade 29155 é realizar operações de sabotagem, subversão e assassinato.

Após o envenenamento de Sergei Skripal, um ex-oficial russo que trabalhou como agente duplo da inteligência britânica, e sua filha Yulia, na cidade britânica de Salisbury em 2018, os serviços de segurança em toda a Europa têm trabalhado metodicamente para rastrear suas ações, seguindo os movimentos de aproximadamente 20 agentes que realizam missões clandestinas no exterior.

Isso lançou nova luz sobre outros eventos, como o envenenamento de um traficante de armas búlgaro em 2015, bem como a explosão na República Tcheca.

A unidade também esteve ligada a uma tentativa de golpe de 2016 em Montenegro com o objetivo de impedir o país de se aproximar da aliança miitar ocidental Otan. Os supostos agentes foram julgados e condenados (à revelia) pelos tribunais nacionais.

Os serviços de segurança franceses estabeleceram que a unidade usava uma região dos Alpes como base avançada de operações para viajar a outros países.

A unidade também teria alguma conexão com a oferta de recompensas ao Talebã por ataques às forças dos EUA no Afeganistão, embora na semana passada autoridades dos EUA tenham dito haver poucos indícios (confiança de baixa a moderada) sobre essa relação.

O que está por trás dessas operações secretas?

A maioria dos eventos descobertos até agora aconteceu depois de 2014. Naquele ano, especialmente com a crise da Ucrânia, parece ser o ponto em que o Kremlin começou a se ver em desacordo com o Ocidente, em um conflito que não acontece de forma aberta como em uma guerra tradicional, mas sim com métodos que ficam em uma "área cinzenta".

Essas atividades variam desde novas operações de desinformação e hacking na internet visando o Ocidente (incluindo a ação para influenciar nas eleições nos EUA de 2016), realizadas por algumas unidades do GRU, até a criação da Unidade 29155 para realizar ações secretas mais tradicionais.

Alguns se perguntam se a descoberta por agências de inteligência ocidental do que aconteceu na República Tcheca sugere um descuido no trabalho da unidade. Um exemplo disso é a maneira como dois homens usaram as mesmas identidades secretas (Petrov e Boshirov) para aquela operação e para a de Salisbury.

O grupo de pesquisa Bellingcat rastreou a maneira como os agentes do GRU às vezes usavam números de passaporte sequenciais que poderiam ser facilmente vinculados uns aos outros.

Mesmo assim, foram necessários quase sete anos para que se descobrisse o caso tcheco. E só porque uma equipe agiu de forma desleixada uma vez, isso não significa que ela não possa provocar danos graves. Na República Tcheca, duas pessoas morreram; e em Salisbury, uma moradora local foi morta pelo Novichok (o agente nervoso usado no caso Skripal).

E ainda pode haver mais casos para se descobrir. Existem outros eventos, incluindo mortes e explosões, que podem ser reavaliados à luz de novas evidências e vinculados a essa unidade de inteligência russa à medida que os padrões de viagem de seus membros são analisados.

O que tem sido crucial é que, desde Salisbury, mais e mais países estão dispostos a trabalhar juntos para compartilhar informações e confrontar Moscou, cada vez mais indignados com o que consideram táticas agressivas da Rússia.

Além do Reino Unido e dos EUA, diversos países da Europa Oriental, como Polônia, República Tcheca e Bulgária, têm tomado medidas recentes contra espiões russos.

Mas essas revelações servirão para deter a Rússia e o GRU?

Isso pode ser difícil, dada a forma como o Kremlin vê o mundo. Moscou nega todas as alegações, dizendo que são absurdas e exageradas, e não parece estar preocupado com o constrangimento que isso pode trazer.

Mas a esperança é que expor os espiões e suas operações dificulte novas missões. Por exemplo, é improvável que os dois homens acusados ??de estarem envolvidos em Salisbury e na explosão tcheca consigam viajar para fora da Rússia, já que suas identidades foram divulgadas.

No entanto, outros podem ser treinados para ocupar seu lugar e poucos acreditam que Moscou vai parar de usar espiões.