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Netanyahu: um líder astuto que transformou Israel

Benjamin Netanyahu ficou 12 anos no poder - Reuters
Benjamin Netanyahu ficou 12 anos no poder Imagem: Reuters

Yolande Knell - BBC News, Jerusalém

Da BBC News, em Jerusalém (Israel)

13/06/2021 17h19

Amado e odiado, o longevo primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu ficou 12 anos no poder e deixou marcas em seu país e no mundo.

Ele já foi chamado de "o rei de Israel" e "o grande sobrevivente". Durante uma geração, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ou "Bibi", como é popularmente conhecido, dominou a política israelense. Foram 12 anos no poder em Israel, encerrados com a aprovação de um novo governo de coalização neste domingo (13) e a escolha de Naftali Bennett como primeiro-ministro.

Conhecido por seu estilo combativo, Benjamin Netanyahu desempenhou um papel fundamental na mudança do país para uma visão nacionalista mais de direita. No cenário internacional, ele tem sido a cara de Israel, falando em inglês fluente com sotaque americano e garantindo que Israel tenha uma influência maior do que se esperaria de um país pequeno.

Para o biógrafo Anshel Pfeffer, um dos principais legados de Netanyahu foi supervisionar uma "mudança total de paradigma" sobre a visão que se tinha de Israel. Antes o país era visto internacionalmente apenas pelo prisma de seu conflito de longa data com os palestinos.

"Isso foi virado de cabeça para baixo", diz Pfeffer, autor do livro Bibi: The Turbulent Life and Times of Benjamin Netanyahu (Bibi: as turbulentas vida e época de Benjamin Netanyahu).

"Apesar de estar mais longe do que nunca de resolver o conflito, [Netanyahu] acaba de fechar quatro acordos diplomáticos com países árabes, Israel tem melhores relações com o mundo e, antes da covid, houve uma década de crescimento econômico ininterrupto", diz Pfeffer

Líder mais jovem

Há um quarto de século, Netanyahu se tornou o primeiro-ministro mais jovem de Israel, com uma vitória estreita sobre o então líder trabalhista, Shimon Peres.

A eleição ocorreu poucos meses após o assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, que havia assinado o Acordo de Oslo, um acordo de paz revolucionário com os palestinos.

Netanyahu apelou aos eleitores conservadores ao se opor veementemente às negociações de paz, que ele afirmava serem uma ameaça à segurança de Israel.

Quando subiu ao poder, no entanto, ele cedeu à pressão dos Estados Unidos para assinar novos acordos com os líderes palestinos, o que acabou levando ao colapso de seu primeiro governo de direita.

Mais tarde, fora do gabinete do primeiro-ministro, ele permaneceu uma figura popular no partido Likud e serviu como ministro na época da Segunda Intifada Palestina de 2000-2005, um levante contra a ocupação israelense na região.

Ele criticava as concessões aos palestinos, incluindo a retirada de Israel da Faixa de Gaza e de vários assentamentos na Cisjordânia.

Processo de paz está parado

Netanyahu voltou ao poder em 2009 e afirmou que apoiava a existência de um estado palestino independente, com a condição de que ele teria que ser desmilitarizado e formalmente reconhecer Israel como um Estado judeu.

Os líderes palestinos rejeitaram esses termos e, sob a supervisão de Netanyahu, a presença de Israel continuou a crescer na Cisjordânia ocupada.

As conversas com os palestinos foram em grande relegadas a um segundo plano em seu governo.

Netanyahu preferia acreditar que o conflito não resolvido poderia ser gerenciado como um problema de segurança.

Continuaram a ocorrer combates mortais entre Israel e palestinos em Gaza. Em 2014, houve críticas internacionais ao alto número de palestinos mortos em uma operação militar de grande escala para impedir o lançamento de foguetes contra o sul de Israel.

Isso aumentou as tensões com o governo do então presidente Barack Obama, que já estavam crescendo por causa do Irã. No início de 2015, enquanto os EUA lideravam negociações para conter as ambições nucleares do Irã, Netanyahu irritou Obama ao falar, por suas costas, diretamente com Congresso dos EUA

Ele disse aos legisladores que um possível acordo com o país representaria uma "grave ameaça, não apenas para Israel, mas para a paz do mundo inteiro".

Parceria com Trump

Mas em pouco as relações com o aliado mais forte de Israel mudariam dramaticamente. Netanyahu chamou o presidente Trump de "melhor amigo" de seu país na Casa Branca.

Os EUA reconheceram Jerusalém como a capital de Israel, mudando sua embaixada de Tel Aviv para lá, derrubando décadas de política diplomática dos EUA e de consenso internacional.

Essas medidas enfureceram os palestinos ? que querem Jerusalém Oriental como a capital de seu próprio estado ? e os fizeram romper os laços com Washington.

Os americanos também saíram do pacto nuclear feito com o Irã em 2015, em uma atitude elogiada por Netanyahu.

Trump chegou a criar um "plano de paz" para Israel e os palestinos, mas o projeto estava fortemente inclinado a favor de Israel e nunca foi implementado.

Netanyahu recebeu crédito pessoal pelo avanço nas relações diplomáticas com alguns países árabes e por fechamento de acordos com eles, intermediados pelos EUA.

Assim Israel se aproximou de países da Liga Árabe: Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos.

Julgamento por corrupção

Apesar de seu aparente sucesso no cenário global, Netanyahu passou a ter problemas crescentes em casa.

O primeiro-ministro estava sob investigação por supostamente aceitar presentes luxuosos de empresários como suborno e oferecer favores para tentar obter uma cobertura mais positiva da imprensa.

Ele continua sendo julgado, negando as acusações contra ele e chamando-as de "caça às bruxas" política.

Israel tornou-se cada vez mais polarizada, com protestos diversos de apoio e contra o primeiro-ministro

"Ele está fazendo tudo o que pode para escapar da Justiça", disse Nurit Gil à BBC News no protesto anti-Netanyahu.

"Eles estão tentando dar um golpe governamental", afirmou uma apoiadora de Netanyahu, Shoshana Idisis.

Para muitos israelenses, o longo processo contra Netanyahu na Justiça está vinculado a um período de impasse político ? que resultou em quatro eleições gerais inconclusivas em dois anos.

"Nunca experimentamos nada parecido desde o estabelecimento do país em 1948", disse o correspondente político do jornal Times of Israel, Tal Schneider, após a última votação

"Tem sido muito cansativo para as pessoas. O problema, claro, é que, se você não tem um governo funcionando, não tem um orçamento e serviços completos".

União da Oposição

Após a última eleição, Netanyahu não conseguiu formar um consenso no Parlamento, apesar de seu partido ter tido o maior número de votos. No regime parlamentarista, para governar um partido precisa não apenas ser o primeiro em número de votos, mas ter também maioria no Parlamento.

Com a incapacidade do Likud de formar um governo, coube ao segundo colocado nas eleições, o partido de centro Yesh Atid, tentar formar maioria. Ele conseguiu isso com ajuda improvável do partido ultranacionalista Yamina (ou "À direita").

Com os dois partidos e o apoio de outros partidos pequenos, conseguiu se formar um novo governo de coalização. O novo primeiro-ministro será Naftali Bennett, do Yamina, até 2023, quando será substituído por Yair Lapid. A troca é parte do acordo entre os partidos, unidos principalmente com o objetivo de tirar Netanyahu do poder.

Bennett prometeu colocar Israel "de volta nos trilhos", mas com as profundas diferenças ideológicas no frágil governo de coalização, há muitas políticas sensíveis que terão dificuldade em passar.

Netanyahu, que está 71 anos, já indicou que planeja permanecer como líder de seu partido Likud, que controla um quarto das cadeiras do Parlamento.

Na oposição, procurará explorar as fraquezas da coalizão governista. Ele já tentou desacreditar Bennett, seu ex-chefe de gabinete, acusando-o de cometer "a fraude do século" para criar "um governo de esquerda" que, disse ele, "colocaria Israel em perigo".


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