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Imprensa internacional repercute agressão a jornalistas brasileiros em ato com Bolsonaro em Roma

01.nov.2021 - Apoiadores recebem o presidente Jair Bolsonaro em Anguillara Veneta, na Itália - PIERO CRUCIATTI / AFP
01.nov.2021 - Apoiadores recebem o presidente Jair Bolsonaro em Anguillara Veneta, na Itália Imagem: PIERO CRUCIATTI / AFP

01/11/2021 12h11

Investigação está em curso após queixa prestada por profissionais agredidos; ainda não está claro quem são agressores.

A agressão contra jornalistas brasileiros, entre os quais um repórter da BBC News Brasil, durante um ato a favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no centro de Roma no domingo (31/10) também foi notícia na imprensa italiana e internacional.

Uma reportagem do jornal italiano La Repubblica disse que uma investigação está em curso após queixa prestada por alguns dos profissionais de comunicação agredidos.

O texto acrescentou que ainda não está claro se os agressores faziam parte da "escolta de Bolsonaro" ou se eram "policiais" cedidos pelas autoridades italianas para garantir a segurança do presidente brasileiro.

Bolsonaro chegou à Itália na sexta-feira (26/10) para participar da reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) e deve voltar ao Brasil nesta terça-feira (2/11).

"A Delegacia de Polícia negou o episódio ocorrido no domingo na Piazza Navona (praça onde fica a embaixada brasileira em Roma, que serviu de acomodação para Bolsonaro). Mas os repórteres não recuam e agora há uma investigação sobre o caso", escreveu o La Repubblica.

"Existem vários vídeos que documentam o ataque aos dois jornalistas e que agora foram entregues aos carabinieri (polícia militar italiana), em apoio à denúncia".

Já o site da emissora Sky TG24, o segundo maior canal de notícias da Itália, republicou o vídeo da agressão, feito pelo jornalista e colunista do portal UOL Jamil Chade.

A BBC News Brasil também gravou o ataque.

No Reino Unido, o jornal The Guardian disse que "os supostos ataques contra repórteres brasileiros, que Bolsonaro há muito acusa de tratá-lo injustamente e publicar notícias falsas, culminaram em um fim de semana sombrio para o presidente de direita".

O diário descreveu Bolsonaro como "uma figura isolada, que não fez parte da foto tirada na Fontana de Trevi (famoso ponto turístico de Roma) com os líderes mundiais. Nas ruas de Roma, ele foi fortemente criticado por sua forma de lidar com a pandemia brutal do país, sendo considerado 'genocida' pelos críticos".

No Twitter, o Instituto Internacional de Imprensa (IPI) disse condenar "veemente a violência contra os jornalistas brasileiros" e pediu às autoridades italianas que "investiguem esses incidentes".

Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) repudiou o ataque e disse que Bolsonaro "incentiva mais ataques do gênero" ao não condenar "atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar".

"A Abraji repudia mais esse ataque à imprensa envolvendo a maior autoridade do país. Ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores a jornalistas que tão somente estão cumprindo seu dever de informar, o presidente da República incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal", disse a entidade por meio de um comunicado.

"Atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido", acrescentou a nota.

Na mesma linha, o Instituto Vladimir Herzog afirmou, por meio de um comunicado, que "não há dúvidas de que a atitude covarde e beligerante dos seguranças contra os jornalistas é consequência direta da postura do próprio presidente que, de forma sistemática e permanente, estimula com atos e palavras a intolerância diante da atividade jornalística".

"Não podemos tratar mais este episódio de violência contra jornalistas de forma isolada. Sob o atual governo, o Brasil se tornou um lugar hostil para o exercício da atividade jornalística. Questionar a imprensa ou discordar dela são atitudes legítimas; tentar silenciá-la com ataques e tentativas de intimidação é mais uma evidente e grave violação à Constituição e ao Estado democrático de Direito, que infelizmente se tornaram comuns no Brasil", acrescentou a nota.

"O Instituto Vladimir Herzog presta solidariedade a todas e todos os profissionais covardemente agredidos em Roma e reafirma o compromisso em promover articulações, desenvolver novas iniciativas e acionar todas as vias legais para responder aos complexos e perigosos desafios que atravessamos. Somente assim é que seremos capazes de interromper a escalada de violações à liberdade de expressão e de ataques a jornalistas e comunicadores em todo o país", concluiu a entidade.

O que aconteceu?

O ataque a profissionais da imprensa brasileira ocorreu durante um ato pró-Bolsonaro em frente à embaixada do Brasil em Roma, na Itália.

Segundo relato do enviado especial da BBC News Brasil ao evento, Matheus Magenta, agentes de segurança "empurraram, deram socos, arrancaram celular de um repórter que filmava a manifestação, seguraram, gritaram e impediram jornalistas de chegar perto do presidente para entrevistá-lo".

Enquanto isso, eles permitiam que apoiadores se aproximassem de Bolsonaro para tirar selfies.

A manifestação havia sido organizada por brasileiros que vivem na Itália.

O ato começou pacificamente por volta das 15h (horário local) e reuniu dezenas de pessoas nos fundos da representação brasileira. Vestidos de verde e amarelo, elas cantavam o hino brasileiro e gritavam palavras de ordem a favor de Bolsonaro enquanto o aguardavam.

Cerca de uma hora depois, o presidente acenou da sacada e em seguida desceu para discursar para apoiadores reunidos numa praça do centro da capital italiana.

Ele se defendeu das críticas e acusações à sua gestão da pandemia e fez críticas à imprensa e à CPI da Covid. Enquanto isso, era filmado das janelas da embaixada por integrantes de sua comitiva.

Depois de sua fala, ouvida em silêncio por todos, Bolsonaro decidiu caminhar pelas ruas do centro de Roma.

Foi quando o tumulto começou.

Jornalistas de diversos veículos de comunicação brasileiros, entre eles a BBC News Brasil, credenciados para a cobertura da reunião do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo), tentaram se aproximar do presidente para entrevistá-lo. Bolsonaro foi questionado sobre os motivos de sua ausência na COP26 (Cúpula do Clima na Escócia) e sobre a greve dos caminheiros prevista para esta segunda-feira (1º/11) no Brasil, entre outros temas.

Mas ele não respondeu a nenhuma das perguntas durante sua caminhada de menos de 10 minutos, registrada por câmeras de jornalistas, assessores e apoiadores.

Enquanto isso, os agentes de segurança do Brasil e da Itália que o cercavam só deixavam apoiadores com as cores verde e amarela e membros da comunicação do governo se aproximarem de Bolsonaro para tirarem fotos e se abraçarem enquanto intimidavam e agrediam jornalistas em seu entorno.

Parte dos apoiadores xingou e intimidou repórteres.

O jornalista Jamil Chade, do UOL, teve o celular arrancado de suas mãos, enquanto filmava a manifestação, por um agente de segurança que não quis se identificar. Em seguida, o aparelho foi jogado no chão pelo policial durante a manifestação e recuperado pelo jornalista instantes depois.

Ao fim do evento, diversos jornalistas brasileiros questionaram os agentes de segurança à paisana sobre as agressões que eles cometeram durante o ato. Em resposta, eles disseram "podem registrar queixa" e não se identificaram. Parte dos profissionais de imprensa do Brasil que cobriu o ato decidiu prestar queixa formal junto à polícia militar italiana.

Procurada pela BBC News Brasil para comentar a violência contra os jornalistas, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República não respondeu aos questionamentos da reportagem até o momento da publicação deste texto.

Nota da BBC: O jornalista da BBC News Brasil, Matheus Magenta, foi alvo de tratamento violento por parte da segurança de presidente brasileiro enquanto cobria o G20 em Roma.

Matheus Magenta foi empurrado, segurado e recebeu golpes nas costas enquanto tentava fazer perguntas a Jair Bolsonaro durante uma caminhada improvisada do presidente com apoiadores pelas ruas de Roma no domingo à noite.

A BBC condena fortemente qualquer tipo de violência contra a imprensa e insiste que o governo brasileiro assegure a segurança de jornalistas no desempenho de suas função no espaço público. (publicado às 13:35 de 1/11/2021)


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