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Tonga: como é um vulcão submarino e por que foi tão violenta a erupção que gerou tsunami no Pacífico

Imagem de satélite mostra erupção no vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha"apai, em Tonga - Instituto Nacional de Informação e Comunicações do Japão/AFP
Imagem de satélite mostra erupção no vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, em Tonga Imagem: Instituto Nacional de Informação e Comunicações do Japão/AFP

Carlos Serrano

BBC News Mundo

18/01/2022 20h17Atualizada em 18/01/2022 20h23

Uma erupção do vulcão perto de Tonga, no dia 15 de janeiro, colocou todo o planeta em alerta.

O vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, localizado no Pacífico Sul, causou uma explosão que pôde ser ouvida até nos Estados Unidos, fazendo com que ondas de mais de um metro atingissem a costa de Tonga.

Em meio a dificuldades em avaliar os danos, o Ministério das Relações Exteriores confirmou duas mortes na terça-feira (17), incluindo uma britânica, segundo a Radio New Zealand. Trata-se de Angela Glover, de 50 anos, que estava tentando salvar seus cães quando a água a levou.

As comunicações na região estão paralisadas, o que dificulta estabelecer a escala da destruição.

Vários países, incluindo Japão e Chile, emitiram alertas de tsunami. No Peru, a 10 mil km do vulcão, foi relatada a morte de duas mulheres devido a ondas anormalmente altas.

Como são os vulcões submarinos como o de Tonga e como eles conseguem desencadear eventos tão poderosos?

O que é um vulcão submarino?

Um vulcão submarino é um vulcão localizado totalmente ou majoritariamente abaixo do nível do mar. Esses vulcões se formam em lugares onde o magma do interior da Terra penetra através de aberturas ou fissuras na crosta terrestre para o fundo do oceano.

As erupções vulcânicas subaquáticas são características das zonas de ruptura onde se formam as placas da crosta terrestre, segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, por sua sigla em inglês).

Nessas áreas de alta atividade sísmica, o magma sobe e se acumula entre as rachaduras nas rochas do vulcão, até que não haja mais espaço e ele exploda.

Segundo a NOAA, três quartos da atividade vulcânica do planeta correspondem a erupções submarinas.

Alguns oceanógrafos estimam que há um milhão de vulcões apenas no fundo do Oceano Pacífico, de acordo com o Museu Marítimo Nacional do Reino Unido.

Como é o vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai?

O vulcão consiste na união de duas ilhas desabitadas, Hunga Tonga e Hunga Ha'apai, localizadas 65 km ao norte de Nuku'alofa, capital de Tonga. Esta é uma área de alta atividade sísmica.

Ele se projeta 100 metros acima do nível do mar, mas abaixo se estende por 1.800 metros de comprimento e 20 km de largura, explica o vulcanólogo Shane Cronin, professor de ciências da Terra da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, em um artigo no The Conversation.

Em 2009, 2014 e 2015 o vulcão registrou erupções de magma e vapor, mas muito menores do que a ocorrida em janeiro de 2022.

Segundo Cronin, esse vulcão é capaz de produzir erupções tão poderosas quanto essa a cada mil anos.

O vulcão está dentro do que é conhecido como "caldeira", que é uma depressão em forma de cratera que se aprofunda a cada erupção.

Quão violenta foi a erupção?

A erupção de 8 minutos foi tão poderosa que pôde ser ouvida a mais de 800 km de distância. A coluna de fumaça e cinzas atingiu 20 km de altura e 260 km de diâmetro.

Cronin afirma que esta foi uma das erupções mais fortes na região de Tonga nos últimos 30 anos.

O vulcão Tonga é do tipo basáltico, como os do Havaí ou das Ilhas Canárias. Ou seja, suas erupções não são tão violentas em comparação aos outros tipos de vulcões.

As erupções basálticas são caracterizadas por uma efusão de magma que flui.

"A diferença ocorre por conta do contato do magma com a água do mar", disse à BBC Mundo o geólogo Daniel Melnick, pesquisador do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Austral do Chile.

O especialista refere-se ao fato de que, quando o magma, que pode estar a uma temperatura em torno de 1.000, entra em contato repentino com a água, ocorre uma reação extremamente violenta que fragmenta o magma.

Este fenômeno é conhecido como "interação combustível-refrigerante".

Nesse momento, começa uma reação em cadeia, na qual os novos fragmentos de magma entram em contato com a água, gerando novas explosões que lançam partículas vulcânicas e detonações com velocidades supersônicas, explica Cronin.

O vulcanólogo, porém, indica que a violenta explosão não pode ser explicada apenas pela interação do magma com a água.

Segundo ele, "esta explosão mostra que grandes quantidades de magma fresco carregado de gás foram ejetadas da caldeira".

O especialista menciona que, através da análise de cinzas de erupções anteriores e técnicas de radiocarbono, ele conseguiu estabelecer que essas erupções em Hunga Tonga-Hunga Ha'apai ocorrem a cada 1.000 anos.

A última ocorreu em 1100, então "a erupção de 15 de janeiro parece estar dentro do prazo para ser 'grande'", escreve Cronin.

Melnick, por sua vez, adverte que ainda é muito cedo para saber como a dimensão desta erupção se compara com as de outras erupções recentes de outros vulcões.

O que causou o tsunami?

De acordo com Melnick, pode haver duas causas principais. A primeira foi a própria erupção. O especialista se refere a um "bombardeamento explosivo" que empurra grandes quantidades de água.

A segunda é que a erupção causou o colapso da caldeira do vulcão. Isso produziu um colapso subaquático, que também empurrou a água.

"É por isso que depois da erupção sobrou apenas um pequeno pedaço da ilha", explica Melnick.

O que se pode esperar nos próximos dias?

"Neste momento, a área onde ocorreu a erupção se parece com Mordor", diz Melnick, referindo-se ao país de aparência infernal da saga O Senhor dos Anéis.

O especialista explica que a fumaça e as cinzas que se espalham densamente pelo ar interagem entre si e com a atmosfera, criando tempestades elétricas e ventos fortes na região. Pode levar semanas até que a região volte ao normal, diz o especialista.

Ele também argumenta que pode haver mais atividade vulcânica, "mas não haverá uma erupção como esta, de jeito nenhum".

"O que pode acontecer é um novo colapso porque todo o material está instável. Pode haver um colapso submarino e gerar outro tsunami, mas com mais efeitos locais em Tonga ou Fiji." De qualquer forma, Melnick e outros especialistas concordam que ainda são necessários mais estudos para entender melhor as causas desse tsunami.

Cronin, por sua vez, acrescenta que, embora este tenha sido um evento que liberou grande pressão de magma, não se sabe se esse foi o clímax da erupção.

O especialista indica que outras erupções da caldeira do vulcão causaram várias explosões separadas.

"Podemos estar a semanas ou mesmo anos de uma nova grande agitação vulcânica do vulcão Hunga-Tonga-Hunga-Ha'apai", diz Cronin.

"Pelo bem do povo de Tonga, espero que não", conclui o vulcanologista.