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Bolsonaro decepcionou eleitores de direita, diz Major Olímpio

18.jan.2019 - Simon Plestenjak/UOL
Imagem: 18.jan.2019 - Simon Plestenjak/UOL

Samy Adghirni

19/05/2020 11h01

O estilo beligerante de Jair Bolsonaro e sua polêmica resposta ao coronavírus podem lhe custar o cargo, disse o senador Major Olímpio, que já foi ardoroso apoiador do presidente.

O líder do PSL no Senado disse que o presidente tem provocado tanta tensão política durante a pandemia que corre o risco de se tornar alvo de manifestações nas ruas quando o surto diminuir. Embora Olímpio não veja um impeachment como iminente, alerta que essa probabilidade pode aumentar se o presidente não mudar de rumo nos dois anos e meio que lhe restam de mandato.

"Vejo 50% de chance de o Bolsonaro não terminar o mandato", disse o senador em entrevista. "Hoje ele está no fio da navalha."

Pelo menos 30 pedidos de impeachment estão na Câmara dos Deputados aguardando aval do presidente da casa, Rodrigo Maia. As acusações contra Bolsonaro vão desde supostas interferências na Polícia Federal até má gestão da pandemia de coronavírus. Maia vem dizendo que não dará andamento aos pedidos de impeachment e que a prioridade do país deve ser o combate ao vírus.

Olímpio já foi um dos aliados mais próximos de Bolsonaro, tendo desempenhado papel fundamental na campanha de 2018 que o elegeu presidente sob bandeira da luta contra a corrupção e da linha dura contra o crime.

No entanto, eles se distanciaram meses atrás em meio a questões como o apoio de Olímpio à CPI da Lava Toga, que buscava investigar supostos abusos do Judiciário. Na entrevista, o senador também criticou a relação de Bolsonaro com partidos do Centrão, muitos dos quais são alvo de investigações de corrupção, dizendo que o presidente traiu sua base com essa aliança.

"Eleitores de direita sentem que Bolsonaro virou as costas para eles. Estão decepcionados", disse Olímpio, que nas eleições de 2018 foi o senador mais votado no país.

Olímpio disse que planeja concorrer ao governo do estado de São Paulo em 2022, o que pode explicar seu distanciamento de Bolsonaro enquanto disputam apoio na mesma base anticorrupção. Quando perguntado sobre seu atual relacionamento com o presidente, ele disse que ainda se considera "um aliado, mas não alienado".

A Presidência da República não quis comentar.

Relações azedadas

Bolsonaro azedou muitas relações desde que assumiu o cargo no início do ano passado. O presidente tem enfrentado o Congresso e o Judiciário ao longo do mandato, e até os próprios ministros, como Nelson Teich, que deixou a pasta da Saúde após 29 dias no cargo.

Teich substituiu Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido por divergir do presidente pelos mesmos motivos: discordâncias sobre o distanciamento social e uso da cloroquina. O Brasil agora é o novo epicentro de coronavírus, com o maior registro de casos diários e tendo ultrapassado o Reino Unido como o país com o terceiro maior número de infecções no mundo.

"Todos os países têm uma crise de saúde pública e uma crise econômica, só quem tem as duas e além delas uma crise política é o Brasil", disse Olímpio. "E o maior causador dessas crises políticas é o próprio Bolsonaro."

Nas últimas semanas, Bolsonaro começou a oferecer cargos em estatais a parlamentares do Centrão na tentativa de se proteger contra um possível impeachment. Olímpio aposta que a estratégia está fadada ao fracasso; ele prevê que os partidos do Centrão vão acabar abandonando Bolsonaro quando a maior parte da opinião pública se voltar contra o presidente.

"A única razão pela qual não vimos manifestações é por causa do vírus", disse o senador. Pesquisas mostram que o índice de aprovação de Bolsonaro, embora em queda, ainda é significativo: a pesquisa mais recente aponta 32% abaixo dos 34,5% pré-pandemia.

"Encerrando o isolamento social, vamos ter um agravamento por conta da crise da economia, do desespero, da fome, e isso pode, sim, desencadear um processo de impeachment", disse Olímpio.