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O que os Trumps da Alemanha pensam de "The Donald"?

Aaron Skiba

02/03/2016 16h32

O defensor de um muro na fronteira dos EUA com o México é neto de imigrantes alemães. Na aldeia de origem, porém, ninguém mais parece estar interessado nele --nem mesmo para despertar o interesse pela região.

Donald John Trump, o típico vencedor: a onda de êxito do negociante populista se manteve na Superterça. Com grande alarde, o ultra-americano se coloca em evidência, esbraveja contra imigrantes --e com isso emplaca bem entre seus eleitores.

No entanto, ele próprio é um imigrante de terceira geração, pois seus avós paternos vêm da Alemanha, para ser exato da aldeia vinícola de Kallstadt, na Renânia-Palatinado.

O que acham de "The Donald", como costumam chamá-lo nos Estados Unidos, seus parentes alemães? Eles se alegram com o sucesso do republicano ou são céticos em relação a ele? O repórter da DW Aaron Skiba foi atrás de respostas e fez o relato abaixo.

Tolerância zero

Depois de ter pesquisado alguns números, eu pego o fone. Antes mesmo de dar a partida, já tenho uma vaga intuição: talvez os habitantes de Kallstadt não tenham uma opinião muito boa desse Donald Trump.

As primeiras ligações confirmam minha sensação: os Trumps do Palatinado estão mais é fartos do parente americano. "Não quero ter nada a ver com isso", diz o primeiro. Dos dez para quem eu ligo, só uma minoria se dispõe a falar comigo. E todos querem permanecer anônimos.

Pelo menos uns poucos se mostram abertos e tentam me ajudar nas minhas pesquisas. A maioria dos Trumps do catálogo telefônico procura, audivelmente irritada, um pretexto para escapar --se sequer o faz. Alguns simplesmente desligam, sem comentários.

Isso não chega a me perturbar. Repetidamente me digo: se eu morasse no Palatinado e me chamasse Trump, na verdade não teria a menor disposição de responder às mesmas perguntas de sempre que os jornalistas fazem sobre um parente distante nos EUA.

Uma das minhas perguntas mais insistentes é: "Donald Trump, o homem, é tema de conversas no Palatinado, no momento?" Aparentemente não. "Ninguém mais tem coragem de dizer o que pensa, e isso é um problema. Pelo menos não em público: a portas fechadas, é uma outra coisa", revela um Trump de meia idade.

E outro: "Nós gostamos de dizer em alto em bom som o que pensamos." No mínimo, Donald Trump parece ter herdado a mentalidade dos nativos de Kallstadt.

Talvez o Palatinado --que já é famoso por sua vinicultura-- acabe lucrando com o reboliço da imprensa. Talvez o alvoroço atraia mais turistas ao "local do vinho nobre", como a aldeia se apresenta em seu site oficial.

No entanto um morador me revela: "Não acho que vá ter grande efeito sobre o turismo, no máximo vai despertar curiosidade. Não acredito que as pessoas vão vir a Kallstadt porque os ancestrais de Trump eram daqui."

Para faturar como vinicultor em Kallstadt, ao que tudo indica, ninguém precisa de um parente distante que está querendo ser o próximo presidente dos Estados Unidos e que faz manchetes como republicano conservador.