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1914: Reino Unido declara guerra à Alemanha

Rachel Gessat (gh)

04/08/2016 04h43

Na noite de 4 de agosto de 1914, o governo britânico, sob comando do primeiro-ministro Henry Asquith, declarava guerra ao Império Alemão.

"Povo alemão! Agora, a espada há de decidir. Em meio à paz, fomos atacados pelo inimigo. Por isso, às armas! Qualquer hesitação seria uma traição à pátria", disse o último imperador da Alemanha, Guilherme 2º. Embora nos dez anos anteriores o país tivesse se preparado militarmente para um confronto, a decisão política de declarar guerra permaneceu controversa até o último momento.

Quando o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, foi assassinado por nacionalistas sérvios em 28 de junho de 1914, a maioria dos ingleses achava que esse conflito continental não os atingia. Algumas semanas depois, ficou evidente que se travata de um engano. Com o ultimato dado pela Áustria à Sérvia, em 23 de julho, exigindo duras providências, o conflito bilateral ameaçou a alastrar-se.

Quase todas as potências europeias já haviam optado por alianças políticas. A Inglaterra, a França e a Rússia, por exemplo, haviam formado a Tríplice Entente. Já a Alemanha deu uma espécie de cheque em branco aos vizinhos austríacos, garantindo apoio. Para os russos, um ataque austríaco à Sérvia era inaceitável. Uma guerra teuto-russa forçosamente envolveria a França.

A única questão em aberto era a posição do Reino Unido. Londres preservava uma tradição política de não se intrometer em assuntos do continente europeu, a não ser que interesses vitais do país estivessem em perigo. Não havia consenso nem mesmo entre os membros do governo se esse seria o caso naquele momento.

Neutralidade belga

Em 1º de agosto, o primeiro-ministro liberal Henry Asquith ainda escreveu a uma amiga: "Há ameaças de renúncias. A principal controvérsia refere-se à Bélgica e à sua neutralidade. Se entrarmos em guerra, haverá uma divisão no gabinete. Se Grey renunciar, eu também renuncio, e aí haverá uma derrocada geral".

Dois dias depois, em 3 de agosto, o ministro das Relações Exteriores Edward Grey conseguiu convencer a maioria dos parlamentares de que a Inglaterra não poderia se manter fora do conflito por mais tempo: "Mesmo que nos mantenhamos fora, não posso imaginar um só momento em que, no final dessa guerra, estejamos em condições de neutralizar suas consequências, que, diante de nossos olhos, toda a Europa Ocidental caia sob o domínio de um só império".

No final das contas, a questão da neutralidade belga foi decisiva. Os planos de ataque da Alemanha à França previam, há tempos, a passagem pela Bélgica, o que significaria uma violação do tratado de 1839, em que os belgas definiram a sua perpétua neutralidade. O Reino Unido era um dos países que, ao lado da França e da Rússia, haviam se comprometido a proteger a inviolabilidade das fronteiras belgas.

Em 2 de agosto de 1914, quando tropas alemãs invadiram a cidade belga de Liège, o rei da Bélgica pediu ajuda a esses países. O Reino Unido deu um ultimato ao Império Alemão, exigindo o fim da invasão. Se até a meia-noite no horário alemão (23 horas em Londres) do dia 4 de agosto não viesse uma resposta satisfatória de Berlim, o Reino Unido declararia guerra à Alemanha.

Não houve resposta. A guerra durou quatro anos e deixou 10 milhões de mortos.