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1976: Eclode "doença dos legionários"

26/08/2016 05h01

Em 26 de agosto de 1976, as autoridades sanitárias dos EUA informaram sobre uma nova epidemia após congresso de veteranos da Legião Americana num hotel da Filadélfia.

Eram dias muito quentes na Filadélfia, em julho de 1976. Mas as dependências do Hotel Bellevue tinham uma temperatura fresca, agradável, possibilitada pelo sistema de ar condicionado. Mais de 4 mil veteranos reuniram-se ali naqueles dias para o Congresso da Legião Americana.

Já no segundo dia do congresso, alguns tiveram febre, começaram a tossir e apresentaram os sintomas de uma pneumonia. Em dez dias, mais de 200 estavam contaminados: a maioria teve de ser internada em unidades de tratamento intensivo - 34 morreram.

Quase meio ano de buscas

As autoridades sanitárias norte-americanas começaram a investigar o que ocorrera. Segundo Martin Exner, da Universidade de Bonn, acreditava-se inicialmente em peste suína e outras causas misteriosas, até que em 1977 um funcionário do Departamento de Saúde dos EUA encontrou a causa.

Tardara cerca de meio ano até se poder constatar como as pessoas se contaminaram. Durante esse período, os norte-americanos estavam extremamente preocupados e as autoridades sanitárias eram acusadas de negligência.

A causa foi encontrada, finalmente, no sistema de ar condicionado do hotel. Lá, os pesquisadores se depararam com um novo tipo de bactéria. A contaminação fora provocada através das minúsculas gotas de água que o sistema soltara no ar. Quem inalasse tais gotinhas, estava infectado. E como os primeiros a se contaminar foram os veteranos da Legião Americana, os cientistas batizaram a nova bactéria de legionela (Legionella pneumophila).

A enfermidade passou a ser denominada "doença dos legionários" ou, para os médicos, "legionelose". A bactéria necessita de água e de determinada temperatura para sobreviver, encontrando condições ideais entre 40 e 50 graus centígrados.

Desde a descoberta na Filadélfia, já foram registradas diversas epidemias. Durante uma exposição de flores na Holanda, a causa foi uma piscina jacuzzi: das 100 pessoas que adoeceram, 20 morreram. Num hospital parisiense, 12 pessoas se infectaram através de um sistema de esquentar água potável. A maior epidemia registrada até agora foi na cidade espanhola de Múrcia, onde mais de 800 pessoas contraíram a doença dos legionários em 2001.

Contaminação fácil

As legionelas propagam-se, de preferência, em grandes sistemas de circulação de água. Podem ser sistemas de ar condicionado, piscinas de água quente ou umidificadores de ar. Quando os encanamentos estão sujos, forma-se uma microflora. Essa película biológica cria uma crosta, na qual as bactérias se proliferam rapidamente.

Na maioria dos casos, elas chegam ao organismo humano através das vias respiratórias, transportadas pelas gotículas d'água liberadas no ar. Mesmo a três quilômetros do foco de infecção, é possível o contágio. Em Londres, várias pessoas contraíram a doença dos legionários quando passeavam pela Trafalgar Square. As bactérias saíram do sistema de ar condicionado do prédio da BBC.

Quem se contamina pode apresentar os primeiros sintomas no prazo de dez dias: febre, dores pulmonares, eventualmente diarreia. São conhecidos casos em que a infecção provocou, adicionalmente, transformações de personalidade. Mas a febre e as dores pulmonares são os sintomas principais, sempre presentes.

Pessoas mais idosas, do sexo masculino, que fumam e bebem álcool, estão mais sujeitas à contaminação. Uma vez contraída, a doença tem de ser tratada com antibióticos especiais.

Diagnóstico difícil

É extremamente difícil diagnosticar a doença dos legionários. Os médicos e pesquisadores continuam levando o problema muito a sério. A enfermidade continua sendo extremamente perigosa e de risco incalculável, pois pneumonias sempre são doenças graves.

Os médicos afirmam ser possível evitar a doença dos legionários. Para isso, seria necessário apenas fazer uma limpeza periódica e regular em todos os sistemas em que circula água morna.

Gábor Halász (am)