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"Minha consciência não permite votar em Trump", diz eleitor que desistiu do Colégio Eleitoral

O presidente eleito Donald Trump aponta para simpatizantes com uma árvore de Natal ao fundo durante evento em Orlando, Flórida - Joe Burbank/Orlando Sentinel via AP
O presidente eleito Donald Trump aponta para simpatizantes com uma árvore de Natal ao fundo durante evento em Orlando, Flórida Imagem: Joe Burbank/Orlando Sentinel via AP

Michael Knigge

18/12/2016 11h49

No último ato da eleição americana, Colégio Eleitoral se reúne para confirmar resultado. Historicamente, os grandes eleitores, como são chamados os membros do Colégio Eleitoral, votam como votou o povo em seu estado. Mas, no Texas, um republicano se rebelou. À DW, ele conta por quê.

Os 538 representantes de cada um dos Estados americanos – o chamado Colégio Eleitoral – se reúnem nesta segunda-feira (19) para confirmar a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, mais de um mês após os eleitores terem ido às urnas.

No complicado sistema americano, cada Estado está representado no Colégio Eleitoral relativamente de acordo com sua população. Para vencer, o candidato precisa ter a maioria no Colégio Eleitoral, ou seja, 270 votos.

Historicamente, os chamados grandes eleitores não votam como acharem melhor: eles seguem a tendência do voto popular em seu Estado. Neste ano, porém, há pelo menos uma exceção: o republicano Art Sisneros, que renunciou a sua cadeira no Colégio Eleitoral.

Em entrevista à DW, ele conta por que se recusa a votar em Donald Trump, apesar de o republicano ter conquistado a maioria dos votos no Texas, Estado que Sisneros representa no Colégio Eleitoral.

DW: O que fez você decidir não votar em Trump?

Art Sisneros: Quando fui escolhido para essa honrosa posição, comecei a estudar qual era a função dos chamados grandes eleitores quando o Colégio Eleitoral foi criado. E descobri que eles tinham que votar com a consciência, e não necessariamente de acordo com a vontade da maioria. Então, me perguntei: "Para onde a minha consciência aponta?" E, como cristão, decidi que deveria recorrer à Bíblia para ver o que ela diz sobre em quem eu deveria votar. Ali estão diretrizes específicas sobre que tipo de pessoa deve ser eleita, e me toquei que Trump não possui essas qualificações.

Dentro desse mencionado ponto de vista cristão, em que medida Trump não é qualificado?

É bem básico: deveria ser um cara que teme o Senhor, que governe de forma justa de acordo com os padrões de Deus, isto é, nós não favorecemos um determinado grupo ou determinados amigos. Significa que a lei é igual para todos, que não roubamos de outros e não usamos o Estado em nosso benefício próprio. Mesmo como empresário, ele usou o Estado e fez lobby de forma desleal para benefício próprio. Eu entendo que ele faça isso, mas não acho que, como autoridade, ele vai tratar todo mundo justamente.

Quando você tomou a decisão de não votar?

Foi mais um processo. Trump foi sempre o mesmo: nada mudou nele de um ano atrás, de seis meses atrás, para hoje. Foi mais um processo em minha convicção sobre como votar. Quando esses valores ficarão claros em minha cabeça, [percebi] que ele jamais se enquadrou ou jamais foi qualificado para esse papel. Não foi uma mudança em Trump, mas no meu entendimento sobre a situação.

Quando disse que não poderia votar em Trump, você foi alvo de muitas críticas. Arrepende-se da decisão?

Estou convencido de que foi a decisão correta. Os valores ainda são os mesmos, e nada vai mudá-lo: ele não é qualificado. A principal razão para minha renúncia foi que, no processo eleitoral em nosso estado, o Texas, há um compromisso de votar no nome indicado [candidato com mais votos no estado]. Eu fui eleito de acordo com essas regras e não disse a ninguém que não as seguiria. Então, eles ainda terão alguém que votará no candidato indicado, e eu deixei claro que essa pessoa não pode ser eu porque eu não posso me comprometer.

Você tem alguma mensagem para os grandes eleitores republicanos, uma vez que, durante a campanha, muitos expressaram dúvidas sobre Trump?

O principal desafio como grande eleitor é entender o que é essa posição, que não foi criada para carimbar o voto popular. Esse não é o nosso sistema. Nosso sistema não é uma democracia pura nesse sentido, é mais o de uma república. Os grandes eleitores precisam avaliar o papel que têm e o que sua consciência diz. Eu não digo "você tem que pensar dessa forma". Eu apenas explico como estou pensando, e você tem que votar como a sua consciência está lhe dizendo.