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"Ele chorou e me abraçou": O drama de um brasileiro separado do filho nos EUA

Vinte e seis dias depois de ser detido na fronteira EUA-México com seu filho, um brasileiro diz que não tem idéia de quando poderá ver seu filho de nove anos. Ele teme pelo garoto, que só sabe se comunicar em português  - Denis Poroy/AP
Vinte e seis dias depois de ser detido na fronteira EUA-México com seu filho, um brasileiro diz que não tem idéia de quando poderá ver seu filho de nove anos. Ele teme pelo garoto, que só sabe se comunicar em português Imagem: Denis Poroy/AP

Separado do filho

22/06/2018 08h47

Detidos em locais diferentes há quase um mês, pai e filho e outras famílias de migrantes têm esperança de fim da separação após ordem assinada por Trump. Melania causa polêmica em visita a menores no Texas. Um brasileiro detido ao tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos através da fronteira do México relatou à agência de notícias "Associated Press" o drama da separação de seu filho de nove anos de idade, após ambos serem levados para locais diferentes pelas autoridades americanas

O brasileiro de 31 anos teme pelo bem-estar do menino num dos abrigos para menores de idade nos Estados Unidos e se preocupa com o fato de ele conseguir se comunicar apenas em português.

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Enquanto milhares de famílias vivem situações semelhantes, aumentam as esperanças após a ordem executiva assinada pelo presidente americano, Donald Trump, nesta quarta-feira (20/06), para suspender as separações forçadas após a imensa rejeição às medidas de "tolerância zero" adotadas pelo governo americano.

O pai brasileiro, que conversou por telefone com a Associated Press, não quis se identificar. Ele está preso no Centro Correcional de Cibola, na cidade de Milan, no estado americano do Novo México.

O brasileiro, que entrou com um pedido de refúgio nos EUA, diz que conversou apenas uma vez com o filho durante os 26 dias sob custódia das autoridades. "Ele chorou, estava muito triste", contou. "Eu tinha prometido a ele que isso duraria entre três e cinco dias."

O homem, proveniente do estado de Minas Gerais, disse que perdeu recentemente seu emprego numa padaria. Ele afirma ter dívidas no valor de 8 mil dólares que não consegue pagar e que sofria ameaças de um grupo de criminosos que exigem o dinheiro de volta.

Por esse motivo, ele decidiu tentar a sorte nos EUA. Juntamente com o filho, ele entrou num voo para a Cidade do México e prosseguiu até a fronteira. Seu objetivo era encontrar trabalho e enviar o dinheiro para a esposa e o outro filho, de três anos de idade. Ao tentar entrar no território americano próximo à cidade de San Ysidro, na Califórnia, pai e filho foram detidos pelas autoridades.

Os dois foram levados para um centro de detenção juntamente com outras famílias. "Durante dois dias, nos deram apenas Doritos, barras de cereal e suco", afirmou. Mais tarde, foi informado de que seu filho seria levado para um centro para menores, mas que eles não passariam mais de cinco dias separados.

"Não quis assustá-lo. Eu disse 'filho, eu vou ficar longe por três, cinco dias no máximo'", disse o pai. "Ele chorou e me abraçou. Ele é um bom menino. Nunca tinha sido separado de mim ou da mãe."

Dez dias após a separação, ele soube que o filho foi levado para o Escritório de Reassentamento de Refugiados em Chicago. O menino, que ficou com o telefone celular do pai após a separação, conseguiu falar com a mãe no Brasil.

Ela contou à AP que o filho tem a permissão de telefonar para ela às segundas e quintas-feiras, quando conversam por 30 minutos. Segundo diz, o menino estava mais calmo nas primeiras conversas, mas está cada vez mais ansioso. Ele toma o medicamento Ritalina para combater a hiperatividade, que continua sendo fornecido pelo centro de detenção.

A esperança dos pais do menino aumentou após a ordem executiva assinada por Trump para suspender as separações familiares, embora muitos ativistas ainda se preocupem com a situação de milhares de crianças afetadas pela política migratória de tolerância zero imposta pelo governo.

A ordem executiva gerou confusão nas agências do governo encarregadas de processar e deter as famílias de migrantes ilegais. Segundo uma fonte do governo americano, os órgãos federais trabalham na elaboração de um processo de reunificação centralizado.

Apesar de suspender as separações, a ordem assinada por Trump manteve a política de tolerância zero, que prevê que todos os que tentarem cruzar ilegalmente a fronteira dos EUA, inclusive requerentes de refúgio, devem ser indiciados criminalmente.

Segundo dados oficiais do governo americano, ao menos 2.300 crianças foram separadas de seus familiares na fronteira do país com o México entre 5 de maio e 9 de junho. Um funcionário do governo americano afirmou que cerca de 500 das crianças já foram reunidas com seus pais, mas não ficou claro quantos dos menores ainda estão detidos com a família.

A polêmica jaqueta de Melania

Após dias de críticas ao governo americano devido às separações de famílias, a primeira dama dos EUA, Melania Trump, realizou uma visita surpresa a um centro de detenção de menores no Texas, que abriga cerca de 55 crianças de diferentes países latino-americanos, com idades entre 5 e 17 anos.

"Gostaria de perguntar a vocês como posso ajudar essas crianças a se reunirem com suas famílias o mais rápido possível", disse Melania, numa conversa com assistentes sociais e autoridades. Há poucos dias, numa de suas raras declarações públicas, a primeira-dama havia pedido um consenso político para pôr fim às separações.

Ela passou pouco mais de uma hora no centro, onde conversou com as crianças em inglês ou espanhol, com a ajuda de um tradutor. Melania, porém não conseguiu evitar novas controvérsias.

Ao embarcar no avião com destino ao Texas e ao desembarcar de volta a Washington, ela vestia uma jaqueta com os dizeres: "I really don't care. Do u?" ("Eu realmente não me importo. E você?"). A frase repercutiu negativamente na internet.

Trump, através do Twitter, tentou minimizar a polêmica, dizendo que, na verdade, seria uma referência à "imprensa mentirosa". "Ela aprendeu como eles são desonestos e, realmente, não se importa mais", disse o presidente.

RC/ap/afp

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