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Opinião: Um fim de semana de terror nos EUA

4.ago.2019 - Homenagens são postas em frente ao Walmart de El Paso, Texas, onde 20 pessoas morreram em um ataque a tiros - Mark Ralston/AFP
4.ago.2019 - Homenagens são postas em frente ao Walmart de El Paso, Texas, onde 20 pessoas morreram em um ataque a tiros Imagem: Mark Ralston/AFP

Carla Bleiker

05/08/2019 08h08

Ao menos 20 mortos em El Paso, no Texas. Ao menos nove mortos em Dayton, em Ohio. Quase 30 pessoas foram mortas em dois ataques a tiros num intervalo de 14 horas, fazendo deste um dos mais sangrentos fins de semana da história recente dos Estados Unidos. Muitos mais ficaram feridos e ainda estão sendo tratados em hospitais. Isso ocorreu após três pessoas serem mortas a tiros no domingo anterior, num festival de comida em Gilroy, na Califórnia, o que significa um total de 32 vítimas de violência armada em apenas uma semana.

Na sequência do ataque em El Paso, o presidente dos EUA, Donald Trump, escreveu no Twitter que envia seus "sinceros pensamentos e orações" para o povo do Texas. Enviar "pensamentos e orações" para os afetados se tornou a resposta padrão de políticos toda vez que há um ataque a tiros nos Estados Unidos. Deveria ser um gesto bonito, mas na realidade ele não tem efeito algum.

Talvez o presidente devesse considerar o fato de que a polícia de El Paso encontrou um manifesto online que se acredita ter sido publicado pelo suspeito, de 21 anos. No texto, o autor descarrega seu ódio aos imigrantes, dizendo que é contra a "invasão hispânica do Texas".

O presidente Trump também descreveu a imigração da América Central como uma "invasão". Ele não esconde o fato de que não quer imigrantes nos Estados Unidos. Trump gostaria até de enviar alguns membros não brancos do Congresso que nasceram nos Estados Unidos ou que se tornaram cidadãos americanos "de volta ao lugar de onde vieram".

Declarações como essas da pessoa que ocupa o mais alto cargo no país tornam o ódio e a xenofobia socialmente aceitáveis. Quando estes conduzem à violência, como aconteceu neste fim de semana em El Paso, o presidente não pode negar completamente a responsabilidade pelo que aconteceu.

Os "pensamentos e orações" que os políticos expressaram após os ataques em El Paso e Dayton são também uma forma de evitar agir politicamente. O que os Estados Unidos realmente precisam é de uma legislação de armas mais rigorosa.

O atirador em Dayton partiu para o ataque com um fuzil de assalto e vários carregadores adicionais. É fácil conseguir esse tipo de armas e munições nos Estados Unidos - nos chamados "gun shows", por exemplo. Se a polícia não tivesse chegado menos de um minuto após o início do ataque a tiros, o agressor poderia ter matado centenas de pessoas.

Toda vez que há um novo ataque, há pedidos renovados pela introdução de uma licença de armas de fogo, por uma verificação universal de antecedentes e por outras leis mais rígidas.

Foi o que aconteceu em 2012, depois que 20 crianças com idades entre seis e sete anos e seis adultos foram mortos a tiros na escola primária Sandy Hook, em Connecticut. Foi o que também aconteceu depois que um atirador matou 58 pessoas em um show em Las Vegas há quase dois anos. E aconteceu depois que um assassino atirou em 17 alunos e professores da Marjorie Stoneman Douglas High School em Parkland, na Flórida, no Valentine's Day de 2018. Em resposta, jovens de Parkland iniciaram um movimento de protesto. Dezenas de milhares de pessoas participaram do "March for Our Lives" no ano passado, em Washington.

Mas o lobby das armas nos EUA, particularmente a National Rifle Association (NRA), tem poder e dinheiro demais para que essas vozes prevaleçam. Depois do ataque de El Paso, o governador republicano do Texas não falou sobre controle de armas. Em vez disso, disse que o perpetrador pode ter estado mentalmente doente (não há evidências até agora que sugiram isso) e que havia uma "necessidade de que o Estado e a sociedade façam um melhor trabalho para lidar com questões desafiadoras de saúde mental".

Mas também há pessoas com problemas de saúde mental em outros países. E, no entanto, em nenhum lugar há tantos homens, mulheres e crianças baleados como nos Estados Unidos. Até que os políticos finalmente se dissociem da NRA e de outros poderosos lobistas de armas e introduzam leis de armas mais duras, pessoas continuarão a ser baleadas e mortas em todo o país.