China permite viagem do dissidente Chen Guangcheng aos Estados Unidos

Pequim, 4 mai (EFE).- O Governo da China abriu nesta sexta-feira a porta para o dissidente Chen Guangcheng viajar aos Estados Unidos para estudar, no mesmo dia em que os dois Governos encerraram um diálogo estratégico onde admitiram diferenças na adoção de direitos humanos.

"Chen Guangcheng poderá solicitar os estudos no exterior de acordo à lei", informou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Liu Weimin. Enquanto isso, a chanceler americana, Victoria Nuland, que se encontra na China em viagem com a secretária de Estado, Hillary Clinton, garantiu que Pequim aceitará a solicitação e dará a Chen os documentos necessários para sair do país e seguir aos EUA.

Esta foi a primeira medida tomada por Pequim para encerrar as tensões diplomáticas entre China e EUA que duraram semanas. Após escapar de sua prisão domiciliar, Chen se refugiou na Embaixada americana por seis dias e fez com que Pequim pedisse a Washington desculpas oficiais.

Chen, um advogado cego, denunciou em 2005 esterilizações e abortos forçados a sete mil mulheres na província de Shandong. O dissidente afirmou que as autoridades chinesas o tiraram da embaixada com pressões e ameaças e por isso teria pedido inicialmente para seguir em seu país em vez de se exilar nos EUA.

A crise diplomática ocorreu na mesma semana em que a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, viajou à China para presidir o IV Diálogo Estratégico e Econômico entre os dois países, uma reunião anual que nesta edição ficou em segundo plano devido ao caso Chen.

Hillary, diante de pressões da oposição republicana para que o Governo de Barack Obama defendesse de forma mais incisiva a decisão do advogado cego, declarou apoio ao dissidente em entrevista coletiva nesta sexta. "Todos nossos esforços se concentram em atender sua escolha e os nossos valores", afirmou a secretária, um dia depois do candidato republicano à Presidência, Mitt Romney, acusar Obama de uma atuação desastrosa da diplomacia americana no caso.

Essa é a segunda vez que os Governos da China e EUA entram em conflito em 2012 pelo pedido de refúgio de um cidadão chinês. Em fevereiro, o chefe de Polícia Wang Lijun invadiu um consulado americano, desencadeando um escândalo em torno do político comunista Bo Xilai.

No diálogo realizado nesta semana, também foram tratados temas como o aumento da segurança de internet diante de ataques cibernéticos mútuos, e o consenso em conflitos como os da Coreia do Norte, Irã ou Síria. Na ocasião, os dois países reconheceram que os direitos humanos seguem sendo um empecilho nos laços.

"Em questão de direitos humanos, ainda há diferenças, mas nenhum país é perfeito", disse o conselheiro de Estado, Dai Bingguo, chefe da delegação chinesa no diálogo estratégico, que assegurou que a China está realizando progressos na área.

Hillary, visivelmente cansada pelas tensões diplomáticas da semana, pediu na abertura da reunião mais esforços da China na defesa do direito de seus cidadãos. No entanto ressaltou que essas discordâncias não podem atrapalhar as relações entre os países. "Não podemos permitir que as diferenças dificultem nossos laços".

No meio dos altos e baixos bilaterais, Chen Guangcheng confirmou à Agência Efe seu desejo de ir aos EUA. "O acordo entre as autoridades chinesas e norte-americanas garantiriam meus direitos civis. Penso que isso significa que posso abandonar China e voltar com liberdade. Se este é o caso, voltarei. Mas não tenho certeza se a promessa será cumprida", falou.

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