Gaza volta à trágica rotina de dor, morte e enterros

María Sevillano.

Gaza, 20 ago (EFE).- "Não perdi, ganhei!" declarou Amina Abu Yahmad Nasser, mãe da mulher do líder militar do Hamas, Mohammed Deif, morta durante a última noite em um ataque aéreo israelense sobre a casa alugada em que morava.

Centenas de pessoas acompanhavam nesta quarta-feira, no campo de refugiados palestino de Jabalia, a despedida de Widad Mustafa Harb Asfur, sua filha de sete meses e outras três pessoas que morreram na região de Dalu, no bairro de Sheikh Rawdan, na Cidade de Gaza.

"O governo espanhol apoia Israel. Por que não apoia os palestinos? Por que não apoia nossos direitos? Se querem nos ajudar, coloquem na prisão todos os assassinos israelenses pelo que fizeram", disse aos gritos Amina à Agência Efe na saída da mesquita em que o funeral aconteceu.

Em meio ao barulho de mais ataques da aviação israelense, que ontem retomou bombardeios que nas últimas horas causaram pelo menos 18 mortos, outra idosa apoiou as palavras de Amina, enquanto deixava o templo e perguntava o que as crianças fizeram para morrer neste conflito.

Em uma via estreita, sob um calor sufocante, as mulheres se amontoam diante da entrada da mesquita, onde uma delas explicava que os israelenses queriam matar "um grande líder (Mohammed Deif)".

"Achavam que, matando sua família, conseguiriam capturá-lo, mas estão enganados", disse ela.

O próprio Deif foi alvo de vários atentados contra sua vida, em uma tentativa de Israel de matar o líder das Brigadas Azedim Qassam, braço armado do Hamas, que em rara ocasião se pronunciou no atual conflito, sendo mantido com paradeiro desconhecido e alimentando a lenda sobre sua pessoa.

"Mohammed Deif merece morte igual a de (o ex-líder da rede terrorista internacional, Osama) Bin Laden. É um alvo legítimo", justificou o ministro do Interior israelense, Gideon Sa'ar.

"Foi apresentada uma ocasião para eliminá-lo", acrescentou em entrevista à rádio militar, respaldado por sua colega de Justiça, Tzipi Livni.

Segundo a ex-chefe dos negociadores israelenses, "tentar matar uma pessoa que está envolvida em terrorismo não é só legítimo, mas desejável".

No entanto, Deif não foi atingido durante o ataque, mas sim pessoas próximas a ele.

A destruição não afetou apenas o edifício, mas também construções vizinhas, deixando dezenas de feridos e provocando a perda da frota de ônibus da região de Abu Albaa.

Um forte estrondo do que parece ser o lançamento de um foguete lembrou às pessoas que as hostilidades seguem em andamento e alertou sobre uma possível resposta israelense que não demoraria a chegar.

Assim se pôde comprovar no hospital de Al Shifa, onde começaram a chegar feridos das proximidades de Sheikh Rawdan e de outras regiões da Faixa. Lá, o porta-voz do Ministério da Saúde, Ashraf Al Qedra, atualizava os números de mortos e feridos.

Mas as sirenes de ambulância e as lágrimas de parentes anunciaram que o número aumentaria rapidamente e que o ciclo de dor, morte e enterros retornou com sua impiedosa rotina.

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