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Ativistas e igreja exigem justiça por morte de indígenas na Guatemala

06/10/2012 20h28

Guatemala, 6 out (EFE).- Ativistas humanitários e religiosos da Guatemala exigiram neste sábado às autoridades que sejam punidos os responsáveis pela morte de seis indígenas na quinta-feira passada durante um protesto popular no noroeste do país que deixou dezenas de feridos.

A Procuradoria Geral da Guatemala já recebeu os relatórios das autópsias das seis vítimas, que foram enterradas neste sábado no departamento de Totonicapán.

Os incidentes confusos da quinta-feira passada, que envolveram centenas de manifestantes e contingentes militares antichoque, deixaram pelo menos seis indígenas mortos, 34 feridos - 30 deles por tiros - assim como oito soldados com golpes e arranhões, de acordo com informação disponível.

O diretor do Instituto Nacional de Ciências Legista (Inacif), Jorge Cabrera, disse aos jornalistas que ainda não se pode revelar o tipo de munição que provocou a morte das seis pessoas,e que a única coisa que pode ser confirmada é que apresentam ferimentos de bala.

O presidente da República, Otto Pérez Molina, disse ontem que sete soldados admitiram ter disparado durante o protesto, mas "para o ar" e em defesa própria.

Os militares foram postos à ordem da justiça com as armas para que sejam investigados.

Segundo Pérez Molina, o estopim da violência foi que "um guarda de segurança privada" que vigiava um caminhão comercial, e que também foi entregue às autoridades, disparou contra a multidão supostamente para abrir passagem.

O fato ocorreu em um trecho da estrada Interamericana conhecido como Alasca, quando centenas de moradores dos 48 cantões de Totonicapán bloquearam seis passagens em protesto contra as reformas da Constituição promovidas por Pérez Molina, e exigência de uma redução na tarifa elétrica de uma empresa privada, entre outros.

O vice-presidente da Junta Direção de Prefeitos dos 48 cantões de Totonicapán, Eusebio Hernández, disse a veículos de imprensa locais que os manifestantes foram atacados sem piedade por supostos militares e que (os manifestantes) estavam desarmados.

Hernández disse este sábado a jornalistas que pedirão ao Estado que os familiares das vítimas sejam indenizados, e que os responsáveis sejam punidos.

O Comitê de Desenvolvimento Camponês (Codeca), que reúne organizações indígenas do ocidente da Guatemala, exigiu em comunicado "Justiça, respeito à vida, fim da militarização, (e) fim da rigidez contra o povo que luta por seus direitos".

O diretor do Centro Internacional de Investigação em Direitos Humanos (Ciidh), Jorge Santos, declarou por sua vez que "é necessário haver uma investigação transparente", e anunciou que pedirão constituir-se em querelantes aderidos do caso.

"Nos transformaremos em querelantes nos processos de acesso à Justiça, (porque) há crimes penais que devem ser esclarecidos", disse Santos neste sábado.

O escritório do alto comissário da ONU para os Direitos Humanos na Guatemala (Oacnudh) condenou em comunicado os incidentes violentos de quinta-feira, e fez um apelo ao diálogo e ao esclarecimento, urgente, das mortes dos indígenas.

A Conferência Episcopal da Guatemala também pediu às autoridades que a profundidade dos fatos seja investigada.

"A Igreja Católica considera fundamental e imprescindível, diante das versões contraditórias, que se estabeleça uma sincera e crível busca pela verdade", manifestou o Episcopado em comunicado.