Retrospectiva 2012

Lugo, o primeiro presidente destituído no Paraguai democrático

Ricardo Grance

Em assunção

  • Jorge Adorno/Reuters

    Presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, em seu escritório político em Assunção

    Presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, em seu escritório político em Assunção

Fernando Lugo se tornou, em 2012, o primeiro presidente do Paraguai destituído em julgamento político durante uma crise assumida com tranquilidade pelos cidadãos, mas que levou o país a um isolamento regional.

Lugo deixou o cargo em 22 de junho, após ser submetido pelo Legislativo a um processo que durou menos de 30 horas e que derivou, sete dias depois, na suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul.

A decisão do Parlamento, que não foi evitada nem com a visita de urgência a Assunção dos chanceleres da Unasul, foi recebida com passividade pela população, que fecha o ano imersa nas primárias para as eleições gerais de 21 de abril de 2013.

Essas eleições têm especial interesse regional, pois o Mercosul e a Unasul advertiram que só reconhecerão as autoridades que forem escolhidas pela população e mantêm o isolamento ao governo de Federico Franco.

O Executivo de Franco - o ex-vice-presidente de Lugo - qualificou de "ilegais" as sanções e rejeitou, além disso, a incorporação plena da Venezuela ao Mercosul, assim como o início do processo de adesão da Bolívia a este bloco.

O Paraguai, membro fundador desse bloco junto com Brasil, Argentina e Uruguai, expressou em diversas ocasiões sua intenção de continuar no Mercosul, mas deixou em aberto a possibilidade de se retirar da Unasul, que segundo o país é dominado por interesses "ideológicos".

As esperanças de romper o isolamento regional seguem depositadas nas eleições de 2013, que contarão com o acompanhamento de uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) a cargo de Óscar Arias, ex-presidente da Costa Rica.

O duas vezes governante costarriquenho e Prêmio Nobel da Paz em 1987, que na primeira semana de dezembro concluiu sua primeira visita a Assunção, se ofereceu para ser moderador de um eventual diálogo entre os candidatos presidenciais para tentar assegurar a harmonia política durante a campanha.

Arias disse esperar, além disso, que "as eleições de 2013 serão iguais ou melhores em transparência, justiça e liberdade do que as eleições de 2008", quando o ex-bispo Lugo pôs fim a 61 anos de hegemonia do Partido Colorado (conservador).

O empresário Horacio Cartes, eleito candidato à presidência nas primárias de seu partido no dia 9 de dezembro, tentará recuperar o poder para os "colorados" em um pleito no qual enfrentará o ex-ministro de Obras Públicas Efraín Alegre, candidato do governamental Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA, de centro-direita).

O PLRA, segunda força política do país e parte da aliança que levou Lugo ao poder, retirou seu apoio ao ex-líder poucas horas antes da abertura do julgamento político.

Esse processo, pelo qual Lugo foi declarado culpado pelo "mau desempenho de suas funções", teve como fator chave a morte de 6 policiais e 11 camponeses em um tiroteio durante uma operação de despejo de 'sem terras', em uma propriedade rural em Curuguaty (nordeste).

Para Lugo, os fatos de Curuguaty, que tingiram de sangue a luta pela terra no Paraguai, foram parte de um plano para tirá-lo do poder, instigado por Cartes.

O ex-presidente promove agora sua candidatura ao Senado pela Frente Guasú, uma coalizão de partidos minoritários de esquerda que mantiveram o apoio, mas não conseguiram manter a unidade.

A Frente Guasú sofreu uma significativa divisão com o afastamento do agora candidato presidencial pelo movimento "Avança País", o ex-apresentador de televisão Mario Ferreiro.

O impeachment de Lugo foi a segunda grande crise da jovem democracia paraguaia, instaurada após a queda em 1989 do governo ditatorial de Alfredo Stroessner, que chegou ao poder em 1954.

O último julgamento político de um presidente havia acontecido em março de 1999 - no caso, Raúl Cubas, que optou por renunciar e foi substituído pelo presidente do Congresso, já que o vice-presidente, Luis María Argaña, tinha sido assassinado.

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