Fragilidade da espionagem eletrônica ressuscita a máquina de escrever

Arturo Escarda.

Moscou, 12 jul (EFE).- A fragilidade da espionagem eletrônica, em evidência em função das revelações do ex-técnico da CIA, Edward Snowden, ressuscitou a máquina de escrever na redação de documentos secretos no dia a dia dos serviços de inteligência russos.

As recentes declarações do técnico americano e o escândalo do Wikileaks, que divulgou informações sigilosas de diplomatas do mundo todo, deixaram claro que, embora a tecnologia tenha facilitado o trabalho dos espiões, seus segredos estão paradoxalmente mais vulneráveis e acessíveis que nunca.

"Do ponto de vista da segurança, qualquer meio de comunicação eletrônico é vulnerável. De um computador, você pode extrair qualquer informação. Embora existam meios de proteção, não há uma garantia de que funcionem 100%", disse o ex-diretor do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (antiga KGB), Nikolai Kovalev.

Depois da divulgação das informações secretas, o Serviço Federal de Proteção (SFO) russo, responsável pela segurança dos altos cargos do Estado, optou por 20 máquinas de escrever para redigir documentos secretos e evitar possíveis vazamentos pelo uso de meios eletrônicos, segundo o jornal russo "Izvestia".

"Após os escândalos com a divulgação de documentos secretos através do Wikileaks, as revelações de Edward Snowden e as informações sobre as escutas de Dmitri Medvedev (ex-presidente russo) durante a cúpula do G20 em Londres, decidimos ampliar a prática de criar documentos em papel", afirmou ao jornal uma fonte do SFO.

Os serviços secretos e outras administrações públicas russas, como os ministérios de Defesa e Situações de Emergência, nunca renunciaram aos meios de escritura tradicionais, inclusive a caneta, diante dos vários riscos de trabalhar com suportes e meios eletrônicos.

Os especialistas acreditam que, embora o fator humano seja a principal causa do vazamento de informações, os suportes eletrônicos como HDs ou dispositivos de memória USB permitem que quantidades absurdas de informação possam ficar escondidas no bolso de uma jaqueta.

"Frequentemente, um funcionário que tem acesso legitimado a certos dados, leva consigo alguns documentos que acredita que podem servir no futuro, quando ele deixar o trabalho. Depois pode 'perder' o dispositivo ou entregá-lo a outras pessoas interessadas nesses documentos", declarou Oleg Glebov, especialista em segurança informática.

As máquinas de escrever compradas pelo SFO foram especialmente desenvolvidas para a redação de documentos secretos, entre elas a Triumph Adler Twen 180, segundo informa o site do estado, onde são divulgadas as compras realizadas pelas administrações públicas russas.

O fabricante desta máquina de escrever alemã a recomenda "para a redação de documentos secretos" e informa que ela "permite a criação de documentos bastante complexos".

Outro fabricante que abastece o serviço secreto encarregado da segurança do Kremlin aponta que cada uma de suas máquinas de escrever deixa uma impressão de caráter individual único, algo que permite identificar os documentos escritos por ela, segundo o "Izvestia".

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos