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Roma lembra tragédia nazista perpetrada há 70 anos

16/10/2013 16h03

Roma, 16 out (EFE).- Há exatamente 70 anos, Roma foi testemunha da primeira depotação de judeus do país, uma trágica efeméride que permanece na memória coletiva da cidade pois foram apenas 16 os sobreviventes dos 1.024 que foram detidos e levados aos campos de extermínio nazista da Europa.

Apesar do gueto judeu, no coração da capital italiana, ter se transformado em um bairro moderno infestado de cafeterias e restaurantes, ainda permanece a lembrança da tragédia que, segundo assegurou nesta quarta-feira à Agência Efe o historiador Marcello Pezzetti, "constitui a maior afronta realizada aos judeus romanos".

Entre os geométricos e cinzentos paralelepípedos que cobrem o milenário solo do gueto, dezenas deles se destacam por uma insólita cor dourada na qual está inscrito o nome e a data do deportado naquela trágica madrugada.

"Aqui foi capturada Emma Vivanti, nascida em 1882 e deportada a Auschwitz em 16 de outubro de 1943", diz um destes paralelepípedos metálicos presentes no bairro judaico de Roma.

E é que nessa data, em 16 de outubro de 1943, Roma despertou com os gritos de centenas de famílias judias que se viram detidas pelas forças policiais nazistas presentes na capital italiana.

Nos dias prévios a 16 de outubro, o chefe da polícia alemã presente em Roma, Herbert Kappler, recebeu um esclarecedor telegrama dos escritórios do próprio Heinrich Himmler, o todo-poderoso chefe das tropas SS, em Berlim.

"A temor do interesse da atual situação política e, concretamente, da situação da Itália, os judeus do país devem ser imediatamente eliminados. Adiar a operação suporia permitir aos judeus se esconder na casa dos italianos", especificava a carta.

Foi por causa deste fato que a maquinaria nazista começou a funcionar com o objetivo de cumprir com as diretrizes marcadas pela capital do Reich alemão.

Kappler representava o braço policial, os executores que, por sua vez, seguiam a batuta de um comando militar representado pelo comandante Beiner Stahel e pelo diplomata Friedrich Moellhausen, cônsul geral alemão na Itália e cujos rostos estão expostos na mostra que o cêntrico Altar da Pátria de Roma exibirá desde hoje até o próximo dia 30 de novembro sob o título "A caça dos judeus de Roma".

Os 365 policiais alemães presentes na capital italiana seguiram as ordens de Berlim e procederam com a detenção, que terminou em uma deportação em massa, a primeira ao país.

As ordens de Berlim estipulavam que dos 14 mil judeus que viviam na cidade -não só no gueto-, 8 mil deviam ser "imediatamente" deportados.

Setenta anos depois, a tragédia protagonizou a agenda política e social das instituições italianas, que, nos últimos dias, têm realizado atos nos quais lembraram a data marcada em vermelho no calendário da capital.

Na terça-feira, o Senado italiano dava sinal verde quase por unanimidade à inclusão no artigo 414 do código penal do "delito de negacionismo", que condenará quem fizer apologia ao nazismo e negar o Holocausto com penas de prisão de 1 a 5 anos.

A comunidade judaica de Roma realizou hoje, além disso, um ato solene em sua monumental sinagoga encravada em pleno bairro judaico, a margens do Tibre.

Durante este ato em memória dos afetados por esta tragédia há 70 anos, o presidente da República da Itália, Giorgio Napolitano, foi recebido pelos aplausos dos presentes, que escutaram como o prefeito da cidade, Ignazio Marino, reconhecia que Roma "deve se ajoelhar" perante eles.

Também foi lida uma carta do papa Francisco na qual pediu às novas gerações que não deixem de se levar pela ideologia e a "não descer a guarda contra antissemitismo ou qualquer ato racista".