Entidade chilena condena proposta de militares de trocar informação por penas


Santiago do Chile, 20 out (EFE).- Os familiares das vítimas da ditadura chilena qualificaram neste domingo de "sinistra e perigosa" a proposta dos militares chilenos condenados por violações aos direitos humanos de entregar informação sobre seus crimes em troca de receber benefícios penais.

"Acho que estamos frente a uma ofensiva muito sinistra e perigosa", disse a presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD), Lorena Pizarro.

A oferta foi feita ontem, sábado, pelo advogado René López, defensor do general Manuel Contreras, antigo chefe da Dina, a temida polícia secreta de Augusto Pinochet, condenado a mais de 300 anos de prisão por dezenas de crimes de contra a humanidade.

López disse que deve se formar "uma mesa de diálogo" entre os condenados e os familiares de desaparecidos políticos para materializar a iniciativa e convidou o presidente Sebastián Piñera a respaldá-la.

"Se o presidente autorizar, podemos conversar, formar uma mesa de diálogo, checar antecedentes, buscar por aqui e ali", explicou.

Pizarro assegurou que "estão jogando com a busca de uma verdade que é pedida por nós há muitos anos" ao assinalar que os oficiais fechados na prisão de Punta Peuco, a 35 quilômetros de Santiago, estariam dispostos a colaborar para dar o paradeiro dos desaparecidos.

Durante a ditadura de Pinochet (1973-1990), cerca de 3.200 chilenos morreram nas mãos de agentes do Estado, e 1.192 ainda estão desaparecidos, enquanto 34 mil sofreram torturas e foram presos por motivos políticos.

A presidente da AFDD disse que com a proposta do jurista López "se demonstra mais uma vez que existe um pacto de silêncio e que não dizem toda a verdade que sabem".

A candidata a presidência da oposição 'Nova Maioria', Michelle Bachelet, disse este domingo em durante ato de campanha que "com crimes de contra a humanidade não se negocia. Essa proposta é inadmissível".

A ex- presidente (2006-2010) afirmou que Contreras enganou por anos sobre o paradeiro dos desaparecidos "e só pretende negociar impunidade".

Bachelet, favorita nas pesquisas para as eleições de novembro, enfatizou que se os militares presos por violações aos direitos humanos têm informação deveriam entregá-la e que não fazê-lo "é manter a dor dos familiares das vítimas".

Já o deputado da ultraconservadora União Democrata Independente (UDI) Jorge Ulloa sustentou que "a entrega de antecedentes tem que ser em troca de nada".

"Não cabe pedir nada em troca e que o que temos que fazer é o tremendo esforço para identificar todas as pessoas que estão desaparecidas, tomara todas", acrescentou.

Por outro lado, o deputado comunista e advogado de várias causas de direitos humanos Hugo Gutiérrez afirmou que não parece que diminuir a pena de Contreras para que fique em liberdade pelos crimes cometidos "seja o correto para a construção de uma democracia saudável".

Também o vice-presidente da AFDD, Mireya García, qualificou de "chantagem inaceitável" a proposta de López.

"Isso confirma algo que os familiares das vítimas sempre souberam: que a informação existe. Os militares presos devem entregá-la aos tribunais de justiça e não chantagear com a informação", criticou.

O presidente do Partido Socialista do Chile, deputado Osvaldo Andrade, fez coro a Mireya ao afirmar também que a proposta "é uma chantagem inaceitável. O advogado deste sujeito (Contreras) está oferecendo esta negociação que é absolutamente inaceitável, eticamente imoral", disse.

"Mas esta interpelação a instalar uma mesa que fez ao presidente Sebastián Piñera para nós é uma chantagem inaceitável que não estamos em condições nem de reconhecer", enfatizou.

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