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A nova cara dos espanhóis que chegam ao Brasil em busca de oportunidades

18/01/2014 06h03

Aitor Álvarez García.

Rio de Janeiro, 18 jan (EFE).- Fran chegou ao Brasil em 2011, vindo de Sevilha, para concluir o curso de Engenharia da Computação e, vendo as possibilidades oferecidas no Rio de Janeiro para sua carreira, decidiu ficar.

Como ele, outros tantos espanhóis se aventuraram a buscar no Brasil as oportunidades que, por enquanto, a Espanha não oferece, embora às vezes enfrentem algumas dificuldades.

Após uma bolsa de estudos de seis meses em uma multinacional, esse sevilhano de 27 anos foi contratado. Atualmente, ele vive em um apartamento na praia do Arpoador, na Zona Sul do Rio de Janeiro, junto com outros três andaluzes: Sergio, Miguel e Pablo, que no Brasil encontraram uma independência difícil de ser conquistada no país natal.

Os quatro, que atuam nas áreas da Engenharia e Arquitetura, são exemplos do mais novo perfil de imigrante espanhol que chega ao Brasil com formação superior para ocupar postos de trabalho.

"Poderia estar trabalhando na Espanha, mas ganharia mil euros e estaria fazendo um trabalho muito abaixo do meu nível profissional", explicou à Agência Efe Fran, que acrescenta que no Brasil "há mais possibilidades de prosperar do que em Barcelona ou Madri e, além disso, há estabilidade profissional", embora não descarte a possibilidade de voltar para casa em um futuro próximo.

Ele afirma que os engenheiros espanhóis "são muito bem considerados no Brasil", mas adverte que "não é fácil chegar e conseguir um trabalho, porque os trâmites burocráticos são intermináveis, e os empresários brasileiros preferem contratar o pessoal local, já que é tudo mais fácil".

O embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de la Cámara, concorda com o jovem, e adverte: "Por causa do protecionismo profissional existente no Brasil, onde somente 0,3% dos trabalhadores são estrangeiros, torna-se muito difícil chegar até aqui sem nada fixo".

Nesse sentido, Fran assegura ter "amigos que chegaram ao Brasil em busca de oportunidades e tiveram que voltar à Espanha em poucos meses sem ter conseguido nada".

Entre 2008, ano da explosão da crise na Espanha, e 2013 o número de espanhóis residentes no Brasil aumentou 41,5%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Hoje, há, oficialmente, quase 100 mil no país, embora o número real seja muito maior, dado que muitos estão em situação irregular.

As oportunidades de crescimento do setor de infraestrutura no Brasil, possibilidade que há anos desapareceu da Espanha, faz com que cada vez mais espanhóis tenham interesse em vir para o país.

Em um ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o país também atrai muitos jornalistas estrangeiros, ainda que as condições não sejam tão ideais quanto às dos engenheiros.

Esse é o caso de Germán Aranda, jornalista freelancer de Barcelona. Ele é colaborador frequente do jornal "El Mundo", e chegou ao Brasil há dois anos para aproveitar o foco informativo existente e aprender o português.

Germán foi afetado pela crise da imprensa na Espanha. Depois que o jornal em que trabalhava não renovou seu contrato, ele decidiu a atravessar o oceano.

"Um amigo do 'El Mundo', onde eu já tinha colaborado, me disse que no Rio de Janeiro não tinha correspondente naquele momento, e decidi experimentar", contou.

Seu salário, que varia todos os meses em função dos textos que escreve, o possibilita viver na comunidade do Vidigal, onde paga um aluguel muito inferir ao de Fran.

No início eu queria morar em uma favela, mas agora eu gostaria mudar", comentou Germán, que não descarta voltar à Espanha a tentar de novo, "talvez depois da Copa ou das Olimpíadas".

Como ele, muitos espanhóis que trabalham no Brasil querem, em um futuro não muito distante, voltar para casa. Eles aguardam o retorno das oportunidades e, enquanto isso não acontece, seguem melhorando o currículo longe da terra natal para poder voltar com algumas garantias ou, pelo menos, com uma experiência a mais.