Diálogo cria mesas de trabalho e recebe vítimas do golpe de 2002 na Venezeula

Alberto Andreo.

Caracas, 24 abr (EFE).- O governo e a oposição da Venezuela se reuniram pela terceira vez nesta quinta-feira no contexto do diálogo para buscar uma saída para a crise política vivida pelo país, um encontro que determinou a criação de três mesas de trabalho e no qual foram ouvidos os familiares das vítimas do fracassado golpe de Estado de abril de 2002.

As partes concordaram com o estabelecimento de três mesas para tratar da formação da Comissão da Verdade, que investigará os incidentes violentos ocorridos no país desde o dia 12 de fevereiro, além de abordar a proposta de uma lei de anistia, que é rejeitada pelo governo, e a descentralização de competências em governos regionais e Prefeituras.

A Venezuela vive há mais de dois meses uma onda de protestos liderados por setores da oposição e movimentos estudantis que, em algumas ocasiões, terminaram em episódios de violência, deixando um saldo oficial de 41 mortos e mais de 650 feridos, o que levou o governo a dialogar com esses grupos para buscar uma solução para a crise.

O secretário-executivo da coalizão de oposição Mesa de la Unidad Democrática (mesa da unidade democrática, MUD), Ramón Guillermo Aveledo, informou sobre o acordo para a formação dessas mesas com a finalidade de agilizar as reuniões semanais, nas quais também participam o núncio do Vaticano e chanceleres latino-americanos em representação da União das Nações Sul-americanas (Unasul).

O trio de ministros das Relações Exteriores se reduziu nesta quinta-feira para uma dupla, já que o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, não pôde acompanhar seus colegas de Brasil, Luis Alberto Figueiredo, e Colômbia, María Ángela Holguín, pois embarcou junto com o presidente de seu país, Rafael Correa, em um giro pela Europa.

No encontro de hoje, conforme havia sido estabelecido na semana passada dentro das deliberações para a lei de anistia, a oposição ouviu os familiares das vítimas do fracassado golpe de Estado de abril 2002 contra o então presidente Hugo Chávez, que deixou 19 mortos e mais de 110 feridos.

"Houve uma reunião que classifico de histórica, a mesa do diálogo de paz recebeu às vítimas do 11 de abril e elas explicaram aos dirigentes políticos da oposição, durante uma hora, o que foi a operação de massacre para justificar o golpe de Estado", disse o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em um ato público.

Para o governante, "sem dúvidas esse tipo de exercício, de encontros da verdade, vai nos trazer resultados muito bons a médio prazo para cultivarmos a paz".

Com a lei de anistia, da qual o governo é contrário, a oposição pede a libertação dos estudantes detidos desde 12 de fevereiro nos protestos e dos denominados "presos políticos", entre os quais se encontra o dirigente Leopoldo López, dois ex-prefeitos e o delegado Ivan Simonovis.

Simonovis foi condenado a 30 anos de prisão pelo assassinato de duas pessoas durante o golpe de 11 de abril de 2002 e a oposição solicita sua libertação por motivos humanitários, alegando uma situação de deterioração de sua saúde.

"Parece-nos ofensivo, grosseiro e oportunista a solicitação de uma lei de anistia, não pode haver anistia quando este julgamento apenas começou", disse Edgar Márquez em nome da Associação de Vítimas do Golpe de Estado de 11 de abril na Venezuela (Asovic).

"Nós não somos deus e não perdoamos, não acreditamos em nenhuma lei de anistia nem a compartilhamos, e dissemos isso a todos", acrescentou, insistindo que não podem apoiar essa iniciativa até que se sintam "ressarcidos".

Márquez agradeceu, no entanto, os membros da oposição que estiveram presentes no diálogo, "pelas perguntas que fizemos sobre a mesa de alguns deles e seu comportamento", disse.

"Os escutamos com muitíssimo respeito, foi uma conversa muito interessante para nós, muito importante em perspectiva humana e venezuelana", comentou Aveledo sobre a exposição da Asovic.

"O sentido desta luta e dos diálogos é que essa dolorosa experiência vivida pelos venezuelanos não se repita jamais, não importa sua opção política, não importa sua posição no debate nacional", acrescentou.

Aveledo agradeceu a chanceler colombiana por expor a experiência de seu país com o conflito interno para, disse, "nos fazer pensar".

"Agradeço as palavras do doutor Ramón Guillermo Aveledo, tenho que dizê-lo, quando disse que coisas como essas não devem se repetir nunca mais na Venezuela, assim eu acredito de verdade, que nós, os democratas verdadeiros, não podemos permitir que coisas como essas aconteçam nunca mais na Venezuela", declarou Maduro posteriormente. EFE

aa/rpr

(foto)

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