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Deficiências justificam protestos contra a Copa, afirma Aldo Rebelo

02/07/2014 22h19

José Antonio Bautista.

Rio de Janeiro, 3 jun (EFE).- O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, avaliou positivamente a Copa do Mundo organizada pelo Brasil e justificou os grandes protestos que a antecederam pela insatisfação da população com deficiências importantes do país.

"As pessoas tem razão em sua insatisfação. Há deficiências importantes no Brasil", disse o ministro em entrevista à Agência Efe ao ser perguntado sobre o respaldo de 34% dos brasileiros às manifestações contra a Copa, segundo uma pesquisa do próprio governo divulgada na semana passada.

Rebelo, no entanto, ressaltou que "não se pode ver apenas o aspecto das deficiências" quando se analisa o Brasil, e deu como exemplo a criação de 16 milhões de postos de trabalho nos últimos anos e os programas de transferência de renda do governo, "os maiores do mundo".

"Enquanto o centro do capitalismo avança rumo à concentração de riqueza, na periferia, que é o Brasil, fazemos o movimento oposto", declarou.

O ministro fez uma leitura muito positiva do Mundial e destacou que os aeroportos, hotéis e dispositivos de segurança e mobilidade urbana estão funcionando corretamente.

"A infraestrutura é boa. Há grande qualidade técnica no campo e isso, junto ao calor humano, completa a festa", afirmou Rebelo, que destacou principalmente o "excepcional nível técnico" do futebol exibido pelas 32 seleções nos gramados.

O ministro do Esporte rejeitou as críticas sobre a cessão de parte da soberania nacional à Fifa através da Lei Nacional da Copa, que permitiu, entre outras coisas, que a entidade registrasse os direitos comerciais de várias palavras e suprimisse a proibição de vender cerveja nos estádios e os descontos que o Brasil garante no preço de ingressos para estudantes e aposentados.

"A Fifa é uma entidade sem poder de fato. Há os que querem fazer dela uma Otan do futebol", opinou Rebelo.

Sobre a proximidade do governo brasileiro com a Fifa, motivo de várias críticas no país, o ministro lembrou sua boa relação com o secretário da Fifa, Jérôme Valcke, mas admitiu que "no início houve desentendimentos sobre a organização".

"É uma entidade bem-sucedida do ponto de vista geopolítico, como o Vaticano. Além disso, a Fifa é mais representativa que a ONU, tem mais países e acolhe, por exemplo, Israel e Palestina", comentou.

Segundo fontes oficiais, o Brasil investiu US$ 10 bilhões na construção e modernização da infraestrutura esportiva e de transportes para se preparar para a Copa.

Vários coletivos sociais e da oposição criticaram a construção de "elefantes brancos", como os estádios de Manaus, Brasília e Cuiabá, cidades que não têm times na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

"Essa é uma visão de mercado. Essas cidades têm inclusive mais tradição de futebol que Rio e São Paulo", respondeu Rebelo.

Sobre as denúncias que milhares de famílias foram desalojadas para dar espaço às obras de infraestrutura, o ministro garantiu que "não há nenhum deslocado pela Copa. Os desalojamentos são consequência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e várias áreas foram desalojadas porque estavam ocupadas ilegalmente".

O ministro do Esporte manifestou ainda seu reconhecimento às famílias dos mortos durante a construção dos estádios e apoiou o pedido de uma plataforma social para construir um monumento em memória destes trabalhadores.

"Em breve teremos os Jogos Olímpicos. É preciso fortalecer a segurança dos trabalhadores para que isto não aconteça mais", declarou.

Por fim, o ministro disse não estar preocupado com o que vai acontecer depois da Copa, em alusão às eleições de outubro, e opinou que "serão eleições difíceis porque há uma oposição muito forte, mas a presidente (Dilma Rousseff) ganhará no segundo turno de acordo com as pesquisas".