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Trabalhar em Fukushima, uma tarefa de risco e muita complexidade

22/07/2014 06h07

Antonio Hermosín.

Okuma (Japão), 22 jul (EFE).- Cobertos da cabeça aos pés com trajes antirradiação e com um calor asfixiante, milhares de trabalhadores lutam a cada dia na central de Fukushima para desmantelar os reatores e conter os vazamentos radioativos, uma tarefa de risco para a qual há escassez de candidatos.

A usina de Fukushima Daiichi fica em um entorno natural privilegiado, rodeada por montanhas e na primeira linha do litoral oriental do Japão, embora estas instalações nucleares se distanciem muito de ser um local de trabalho idílico.

Os operários manejam maquinaria pesada sobre o lodo e entre estruturas desvencilhadas pelo terremoto e tsunami de 11 de março de 2011, trabalhos que são ainda mais árduos devido às medidas excepcionais de segurança pelas altas radiações que emanam dos reatores nucleares danificados.

Os trabalhadores ou qualquer pessoa que chegue às instalações de Fukushima Daiichi deve passar por até três controles de segurança localizados em diferentes pontos da "zona de exclusão" de 20 quilômetros no entorno da usina.

Na entrada do penúltimo destes controles, um cartaz recomenda "ingerir líquido com frequência e consumir suficiente sal" para prevenir a desidratação e os golpes de calor, talvez os menores perigos para os trabalhadores nesta época do ano, quando as temperaturas podem superar os 35 graus e a umidade ultrapassa 95%.

O equipamento obrigatório para os operários das instalações nucleares inclui um traje antirradiação, máscara completas de rosto, capacete, luvas, botas e um dosímetro que mede sua exposição às radiações.

Os trabalhadores devem usar sobre todo o corpo três camadas de tecidos especiais para se proteger da radioatividade, o que não evita que muitos deles tenham recebido doses perigosas para a saúde.

Por estes motivos, os turnos dos operários que participam atualmente da construção do "muro de gelo subterrâneo" -a última medida iniciada pela operadora TEPCO para controlar os vazamentos ao mar de água radioativa procedentes da central - não podem superar as cinco horas diárias.

O diretor da central, Akira Ono, reconhece que melhorar as condições e a segurança de seus empregados "é um dos grandes desafios" enfrentados pela Tokyo Electric Power Company (TEPCO), segundo disse durante um recente encontro com jornalistas estrangeiros, que foram convidados a visitar a usina.

A TEPCO planeja instaurar turnos de trabalho noturnos para evitar o intenso calor e estuda métodos para proteger melhor os operários perante as emissões radioativas, como levantar uma parede de concreto em torno dos reatores e empregar novos materiais de proteção, explicou Ono.

Apesar destas condições de trabalho "extremamente duras", a usina "não sofre uma carência de trabalhadores maior do que outras empresas da área da construção", afirmou o diretor de Fukushima Daiichi.

No entanto, cerca de três mil trabalhadores da TEPCO deixaram a empresa desde a catástrofe de março de 2011, o que reduziu o quadro de funcionários total da empresa para cerca de 35,7 mil, segundo a companhia.

Atualmente, cinco mil operários trabalham nas tarefas de desmantelamento e de controle dos vazamentos, embora muitos deles fazem isso através de diversas terceirizas da TEPCO e não pertencem a seu quadro de funcionários, o que dificulta comparar tanto os números reais de altas e baixas como as condições trabalhistas.

A escassez de trabalhadores no setor da construção é um problema generalizado no Japão, um país que chega perto do pleno emprego e com quase um quarto de sua população maior de 65 anos, onde os que procuram emprego costumam preferir postos melhores remunerados e de menor exigência física.

No total, cerca de 30 mil pessoas trabalharam no processo para resolver a crise nuclear e para desmantelar a usina, dos quais pelo menos 170 ficaram expostas a doses de radiação que aumentam o risco de câncer, segundo dados do Executivo japonês, que recomenda revisões médicas pela vida toda para a maioria destes operários.

Ainda serão necessários muitos mais empregados para completar os trabalhos de desmantelamento de Fukushima Daiichi, que se prolongarão por entre 30 e 40 anos.