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Ucrânia comparecerá na cúpula de Minsk para negociar paz com a Rússia

21/08/2014 16h13

Boris Klimenko

Kiev, 21 ago (EFE).- A paz no leste da Ucrânia está em mãos da Rússia, sobre cujos ombros as autoridades de Kiev carregam praticamente toda a responsabilidade do sangrento conflito armado, segundo revelam as declarações feitas nesta quinta-feira o presidente ucraniano, Petro Poroshenko.

"Vamos a Minsk falar da paz", disse o líder ucraniano sobre sua participação em 26 de agosto da cúpula entre a União Aduaneira (Rússia, Cazaquistão e Belarus), a União Europeia e Ucrânia que ocorrerá na capital da Bielorrússia, na qual ele se encontrará com o presidente russo, Vladimir Putin.

Agora que algumas vozes no Ocidente, sobretudo na UE, voltaram a pedir a Kiev um cessar-fogo na zona do conflito armado, Poroshenko reitera que "a Ucrânia quer a paz", mas insinua imediatamente que o fim da guerra com os separatistas pró-Rússia depende de Moscou e não de Kiev.

"Pedimos que levem os guerrilheiros da Ucrânia. Tenho certeza que conseguiremos", disse o líder ucraniano em uma clara alusão à Rússia.

Enquanto a Chancelaria russa pediu hoje a cooperação do Conselho de Segurança da ONU para forçar as partes em conflito a "declarar um cessar-fogo" a fim de facilitar a entrada de ajuda humanitária russa no leste da Ucrânia, Kiev insistiu que a trégua será possível só se se forem cumpridas suas condições.

"Esperamos conseguir acordos na reunião de Minsk, e o plano de paz oferecido pelo presidente da Ucrânia ainda tem vigência", apontou a respeito o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia (CSND), Andrei Lisenko, em outra clara referência à Rússia como um país capaz de pôr fim por si só ao conflito armado.

Dito plano de paz, rejeitado várias vezes pelos pró-Rússia que combatem contra as tropas ucranianas no leste do país, abrange apenas a rendição incondicional dos rebeldes, embora ofereça a possibilidade de "deixar a Ucrânia" ou se acolher a uma anistia, caso não pesarem crimes sobre eles.

Quanto à proposta do cessar-fogo temporário, a Ucrânia pede as mesmas condições que já questionava há um mês e meio em idênticas circunstâncias: o respeito mútuo da trégua, a libertação de todos os prisioneiros tomados pelos separatistas e a impermeabilização da fronteira por parte da Rússia.

Kiev se arma de provas para demonstrar o suposto envolvimento direto de Moscou na guerra com as tropas ucranianas nas rebeldes regiões orientais de Donetsk e Lugansk.

O porta-voz do CSND informou hoje sobre a captura de dois blindados das forças russas, supostamente abandonados por seus tripulantes no meio de um combate nos arredores da sitiada cidade de Lugansk.

Aparentemente, os soldados ucranianos encontraram em um dos blindados toda classe de documentação, incluindo documentos pessoais de seus ocupantes, que demonstraria que a tripulação e o veículo pertencem à divisão de Pskov (735 quilômetros ao noroeste de Moscou) das Forças russas.

O Ministério da Defesa russo desmentiu a informação sobre a presença de suas tropas na Ucrânia e acusou Kiev de mentir e de falsificar documentos para acusar a Rússia.

O porta-voz oficial da pasta russa, Igor Konashenkov, se surpreendeu pela quantidade de documentos achados a bordo de um blindado, já que, a tripulação deveria pelo menos fazer todo o possível para ocultar pertencer às Forças Armadas russas, disse.

"Quanto aos passaportes, cartões de crédito e apólices de seguro, só posso dizer que às conquistas do Serviço de Segurança da Ucrânia é preciso acrescentar outra, a compra de documentos roubados", apontou o general russo.

Por outro lado, o comboio humanitário russo retido há uma semana na fronteira russo-ucraniana poderia entrar a partir de amanhã e de maneira escalonada no leste da Ucrânia, segundo disse hoje em Moscou o chefe da Cruz Vermelha na Europa e Ásia Central, Loran Korba, em declarações aos meios de comunicação entre os quais estava a Agência Efe.

Após vários dias, a Alfândega ucraniana iniciou hoje a certificação da ajuda carregada em 262 caminhões russos e que após sua entrada em território ucraniano sob controle dos rebeldes será transportada, administrada e repartida por pessoal do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

A organização internacional, que se negava a assumir a jurisdição da carga até obter garantias de segurança de todas as partes, deu por superados hoje os empecilhos e se mostrou disposta a iniciar em seguida o envio do comboio à população civil na zona do conflito.

No terreno militar, os combates mais cruéis entre as forças de Kiev e os separatistas continuaram na pequena cidade de Ilovaisk, a cerca de 40 quilômetros da cidade de Donetsk.

Pelo menos 16 soldados das tropas ucranianas morreram nas últimas 48 horas em combates nessa cidade de apenas 16 mil habitantes.