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Alex Salmond, o sonho da independência a poucos votos

16/09/2014 07h07

Londres, 16 set (EFE).- Carismático, pragmático e temperamental, o primeiro-ministro do governo autônomo da Escócia, o social-democrata Alex Salmond, está a um punhado de votos do que foi seu sonho desde pequeno: a independência escocesa.

Uma surpreendente maioria absoluta em 2011 levou este popular político nacionalista de 59 anos a se atrever a lançar ao governo de Londres a melhor de suas cartas: um referendo sobre a independência.

Apesar de ninguém subestimar a capacidade do perseverante político para conseguir o que se propõe, muito poucos acreditavam nesse momento que ele poderia convencer os escoceses a respaldar por maioria o fim de 307 anos de história compartilhada com o Reino Unido.

A evolução das enquetes, que passaram em dois anos de mostrar um apoio de apenas 30% para dar asas a seu sonho nacionalista com pesquisas que falam de empate técnico, voltou a mostrar que na política nada está escrito. E muito menos se está envolvido Alex Salmond, o dirigente que mais tempo leva à frente do governo escocês - mais de sete anos.

Seja qual for o resultado do referendo de 18 de setembro, a cabeça-dura e sorridente do político escocês já conseguiu que seu nome entre nos livros de história e o compromisso de que a Escócia obterá mais autonomia caso vença o "não".

Durante a campanha foram constantes seus ataques à "equipe Westminster", em referência à elite política inglesa, à qual acusou de "subornar" com promessas de última hora perante seu avanço nas pesquisas, ao mesmo tempo em que reconheceu seu sucesso para vender uma proposta positiva, contra o negativismo do "não".

Alex Salmond nasceu em 1954 na monumental cidade escocesa de Linlithgow, filho de uma mãe conservadora e um pai trabalhista, maioria entre os eleitores dessa região. Foi na elitista Universidade de St. Andrews onde aprimorou seus enraizados ideais nacionalistas e se formou em Econômica e História.

Após alguns anos trabalhando para o banco Royal Bank of Scotland, em 1979 conseguiu sua primeira cadeira como deputado em Londres pelo então dividido Partido Nacionalista Escocês (SNP, sigla em inglês), que agora lidera sem oposição.

Depois de voltar a Edimburgo, capital da Escócia, e assumir o comando em 2005 de um grupo visto pela maioria dos eleitores mais como um contrapeso do que como uma opção real de governo, Salmond conseguiu ganhar as eleições dois anos depois.

Em 16 de maio de 2007, fez história ao se tornar o primeiro nacionalista eleito primeiro-ministro regional da Escócia, embora tivesse que governar em minoria e não pôde então convocar seu prometido referendo de independência.

A gestão de Salmond convenceu os escoceses por seu empenho em elevar a voz da região e enfrentar os partidos de Londres, além de medidas muito populares, como a gratuidade dos remédios e da universidade.

No pleito seguinte, em 2011, arrasou como ninguém na curta história do parlamento escocês, em funcionamento desde 1998, com uma clara maioria absoluta.

Sua expansiva faceta política - suas aparições públicas e na imprensa são constantes - contrasta com uma atitude quase de secretismo sobre a sua vida privada. Há 30 anos está casado com Moira McGlashan, uma mulher 17 anos mais velha que jamais concede entrevistas nem tem uma atividade pública, mas que é considerada sua grande aliada na sombra. O casal nunca teve filhos e pouco se sabe da intimidade do popular político.

Salmond exibe sem complexos seu amplo conhecimento da história da Inglaterra e sempre disse que, mesmo se a Escócia se tornar independente do Reino Unido, quer que a rainha Elizabeth II, de 88 anos, continue sendo a chefe de Estado.

"Acredito que Vossa Majestade, a rainha, que viu tantos eventos no curso de seu longo reinado, ficará orgulhosa de ser rainha dos escoceses e certamente nós estaríamos orgulhosos de tê-la como monarca nesta terra", disse na semana passada em declarações que levaram o Palácio de Buckingham a afirmar que Elizabeth II é "imparcial" em um "assunto que cabe aos escoceses".

Alex Salmond garante que o petróleo e o gás do Mar do Norte e o contexto da União Europeia fazem da Escócia, um território de pouco mais de cinco milhões de habitantes e cerca de 80 mil quilômetros quadrados, mais do que autossuficiente.