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Califado do EI frustra sonhos de milhares de estudantes de Mossul

Yasser Yunis

Em Mossul (Iraque)

16/10/2014 06h02

O califado criado pelo grupo jihadista EI (Estado Islâmico) interrompeu os sonhos de milhares de estudantes da cidade de Mossul, no norte do Iraque, ao impedi-los de viajar para realizar a segunda fase oficial de exames no país.

Os alunos com idade entre seis e 18 anos planejavam viajar para Kirkuk, cerca de 150 quilômetros ao sul de Mossul, para realizar as provas, mas o EI os proibiu de deixar a cidade alertando-os de que qualquer pessoa que abandone o califado será considerada apóstata e, em consequência, castigada com a morte.

Ibrahim Mohammed al Bayati, chefe do Comitê de Segurança da província de Niníve, da qual Mossul é a capital, disse à Agência EFE que a organização terrorista impediu a saída dos estudantes através de postos de controle, onde para que sua passagem seja permitida é necessário a identificação prévia.

"Os combatentes do EI, depois de forçar um grupo de jovens a retornar à cidade e designar uma pessoa para garantir seu retorno efetivo, pediram que se registrassem com a documentação requerida no tribunal islâmico de Mossul, junto com o motorista do carro em que viajavam", disse Al Bayati.

Mohamed Ahmed Salem, um estudante do ensino médio, disse à Agência EFE que os jihadistas proibiram a ida de centenas de veículos com alunos para Kirkuk "sem nenhuma explicação".

"Vários pais imploraram a extremistas que ficam nestes postos de controle que permitissem a passagem de seus filhos, mas eles se negaram e ameaçaram deter os que desobedecessem as ordens", acrescentou Salem.

Para a estudante Mison Bakr Mohammed, o EI "acabou com os sonhos de futuro dos jovens de Mossul". "Nos fizeram perder um ano inteiro de estudos. Nos esforçamos durante este ano letivo, em meio à violência, assassinatos e atentados que atingiram Mossul antes que o EI ocupasse a cidade em 10 de junho", declarou a jovem frustrada.

"Agora estamos diante de dois fogos: o das leis implacáveis do EI e o das decisões injustas do Ministério da Educação de Bagdá contra os estudantes, que não reconhecem os resultados das provas realizadas em Mosul sob o regime jihadista", acrescentou Mohamed.

O Departamento de Educação dirigido pelos jihadistas em Mossul reformou os programas de ensino, suprimindo ou mudando tudo o que, segundo sua interpretação, viola as leis islâmicas.

Além disso, os alunos foram instruídos a completar as provas na cidade e não em áreas controladas por "infiéis e apóstatas", referindo-se às áreas sob domínio do governo xiita ou à região autônoma do Curdistão iraquiano, de crença sunita.

O chefe da Comissão de Educação de Nínive, Sayedo Hussein, declarou à Efe que as autoridades de Bagdá não são responsáveis pelas áreas controladas pelos jihadistas, motivo pelo qual não reconhecem os resultados dos exames realizados nessas áreas.

No entanto, Hussein enfatizou que a província curda de Dohuk destinou quatro escolas para que os estudantes deslocados de Mossul e das províncias de Al-Anbar e Saladino possam concluir as provas.

Graças a esta medida, mais de 4.140 alunos cursando os ensinos fundamental e médio, de seis a 18 anos, participaram no dia 12 de outubro da segunda fase oficial de exames.

O Ministério da Educação iraquiano informou em comunicado que, a partir do novo ano letivo, permitirá que os estudantes deslocados matriculem-se em escolas próximas às áreas nas quais se estabelecerem.

Em função da grande quantidade de alunos, foi desenvolvido um plano para possibilitar a acomodação de todos os estudantes deslocados, "para evitar todos os problemas e abrir um caminho de sucesso para esses jovens".

O plano seguiu uma disposição adotada pelo governo de Bagdá, o que permitiu a realização de exames para os estudantes de Mossul em qualquer outra província.

Deste modo, os estudantes que vivem nas áreas ocupadas ficam isentos de frequentar as aulas e só precisarão ser aprovados no exame de fim de curso para concluí-lo.