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Mujica discorda de seu correligionário Vázquez na reta final da campanha

21/10/2014 21h32

Montevidéu, 21 out (EFE). - O presidente do Uruguai, José Mujica, discordou de algumas opiniões do candidato governista a sucedê-lo, Tabaré Vázquez, nesta terça-feira, na reta final da campanha para as cruciais eleições legislativas e parlamentares deste domingo.

Mujica respondeu algumas declarações de Vázquez, que evitou o debate durante toda a campanha com os outros candidatos à presidência, dos quais seu principal rival é Luis Alberto Lacalle Pou, do Partido Nacional.

Nas eleições do domingo, para as quais mais de 2,6 milhões de cidadãos estão habilitados a participar, o governante Frente Ampla (FA), a coalizão de partidos de esquerda que governa Uruguai desde 2005, pode perder a maioria absoluta no parlamento, o que lhe permitiu levar adiante polêmicas iniciativas, como a legalização da maconha e, inclusive, a presidência.

Na reta final da campanha, que terminará a meia-noite da próxima quinta-feira, Mujica, que não pode optar à reeleição, respondeu declarações de Vázquez, que foi presidente do Uruguai de 2005 a 2010, nas quais há poucos dias rotulou de "insólito" que a maconha possa se comprada em farmácias.

"É incrível, mas se a lei o autoriza, assim será", expressou Vázquez em uma entrevista à revista "Búsqueda".

"Problema dele", respondeu hoje Mujica, que foi o impulsor da legalização da maconha aprovada em 2013 e de outras medidas polêmicas, como a descriminalização do aborto.

Além disso, o veterano líder reprovou o candidato de sua plataforma política de ter declarado que, se voltar à presidência, em seu governo não haverá "duas equipes econômicas".

"Está errado, Vázquez. No meu também não houve duas equipes econômicas. Somos abertos, livres, as pessoas discutem, têm ideias e as colocam", declarou Mujica, que acrescentou que aquela afirmação de Vázquez deve ter sido feita porque "não está informado".

Segundo as últimas enquetes, a Frente Ampla alcançará 43% ou 44% dos votos este domingo, seguido pelo Partido Nacional (33-34%) e o Partido Colorado (14-15%). Se a votação for comprovada com estas previsões, será inevitável um segundo turno entre Vázquez e Lacalle para descobrir em 30 de novembro quem será o presidente e nesse cenário pode acontecer qualquer de tudo, pois há um empate técnico entre ambos.

Lacalle Pou, com 47% dos votos, avantajaria Vázquez por um ponto, em um segundo turno, segundo os resultados de uma pesquisa divulgada no dia 14 pela Interconsult, com uma margem de erro de mais ou menos 3,6%. Os indecisos, que chegam a 9%, segundo as pesquisadoras, são os que podem inclinar a balança a favor de um ou outro.

O resultado das eleições legislativas sim ficará definido este domingo e as mesmas pesquisas assinalam que a opção mais provável é que a Frente Ampla perca a maioria que atualmente tem tanto na Câmara de Senadores, integrada por 31 membros, quanto na Câmara dos Deputados, formada por 99 legisladores.

As declarações de Vázquez sobre a venda de maconha nas farmácias não só chamaram a atenção de Mujica, mas também do candidato a vice-presidente do Partido Nacional, Jorge Larrañaga.

"Acontece que agora o candidato à presidência da Frente Ampla diz estar surpreendido porque a maconha será vendida nas farmácias", afirmou Larrañaga em um comício eleitoral ontem.

Larrañaga reprovou Vázquez ter se esquecido de que "foi sua força política que impulsionou e aprovou a legalização desta droga".

Lacalle Pou, que hoje fez um recesso na campanha e deu uma entrevista à emissora "El Espectador", ressaltou que quer "um Uruguai de diálogo e sem soberbas".

Diante deste segundo turno dado por certo, Lacalle, filho de Luis Alberto Lacalle Pou, presidente do Uruguai de 1990 a 1995, afirmou sua disposição a dialogar com o candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, que criticou sua falta de experiência e juventude (41 anos).

"Está chegando um momento no qual entendo que com Pedro (Bordaberry) vamos ter que nos sentar para conversar, não só para ganhar, mas para ingressar em um governo de convicção, de construção de maioria", expressou.

Segundo Lacalle Pou, nesta etapa da campanha não devem ser buscada as diferenças, mas sim as sim as coincidências.