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Familiares de militares sequestrados exigem providências do governo libanês

22/10/2014 06h22

Kathy Seleme.

Beirute, 22 out (EFE).- Unidas pela dor e angústia, as famílias dos 27 militares libaneses sequestrados por grupos jihadistas se instalaram em um acampamento improvisado no centro de Beirute na semana passada para exigir que o governo providencie a libertação de seus entes queridos.

Os protestos, que começaram em agosto com bloqueios da estrada que liga Beirute ao Vale de Bekaa oriental - onde os soldados foram capturados -, foram transferidos na quarta-feira passada para o centro da capital, em frente ao Palácio do Governo.

"Misericórdia pelas mães e filhos dos soldados" ou "Deus os devolva saudáveis para para nós", são algumas das frases que podem ser lidas nos cartazes erguidos no pequeno acampamento improvisado, no qual também podem ser vistas penduradas fotos dos militares.

Os soldados e policiais foram capturados em agosto deste ano na região de Arsal, perto da fronteira com a Síria, pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) e da Frente al Nusra, filial da Al Qaeda no território sírio.

Foi nesta área, ao nordeste do Líbano, que os extremistas protagonizaram combates com o exército libanês. Em função dos confrontos, 19 soldados morreram, 86 ficaram feridos e 30 foram capturados pelos jihadistas.

De acordo com o chefe das Forças Armadas, general Jean Kajwayi, três reféns foram mortos pelos grupos: dois foram decapitados pelo EI e o terceiro assassinado a sangue frio pela Frente al Nusra. Portanto, atualmente 27 soldados e policiais permanecem em cativeiro.

Hussein Jaber disse à Agência Efe que semana passada foi a última vez em que falou com seus sobrinhos, Maymur, de 30 anos, e Nabi Abu Kalfuni, de 27, reféns da Frente al Nusra.

"Não sabemos como estão de fato, eles sempre nos dizem que 'estão bem' e que façamos o que nos é pedido", disse Jaber se referindo às exigências feitas pelos jihadistas às famílias sob a ameaça de matar os reféns, caso o que foi solicitado não seja atendido.

Jaber acredita que o governo deve pagar "qualquer preço" para que os militares sejam libertados o mais rápido possível, pois, afinal, estavam "cumprindo seu dever para com a pátria quando foram sequestrados", afirmou.

O tio dos reféns, admitiu ter medo e disse ter perdido a confiança nas autoridades, porque, segundo ele, deveriam usar o que aconteceu como exemplo "e se unir para tirar o país da situação na qual se encontra".

Ontem os familiares dos sequestrados anunciaram um ultimato de 48 horas às autoridades libanesas para que providenciem a libertação de seus parentes, ameaçando convocar um "dia de cólera" caso suas reivindicações não sejam atendidas, mas não especificaram as medidas que pretendem tomar.

"Não podemos deixar de pensar em nossos filhos. Acampamos por 17 dias em Dahr al Baidar e passamos muito frio, nos perguntamos como estarão nossos familiares, que estão a 2.300 metros acima do nível do mar?", acrescentou Jaber.

Hussein Youssef, cujo filho Mohammed é um dos sequestrados pelo grupo EI, afirma "viver com medo que matem seu filho, não só ele, mas todos os sequestrados".

"Formamos uma família, choramos juntos e comemos com a mesma colher, isto fez com que nos sentíssemos mais libaneses. Não me perguntem a qual religião pertenço, irei responder que sou libanês. São os políticos os que nos dividem", comentou.

Sabrina Karnaba, casada com o polícial Ziad Omar, um dos reféns, disse à Agência Efe que desde que seu marido foi sequestrado pelo Frente Nusra não voltou mais a entrar em casa.

"Vivo com um saco indo de um lugar a outro. Sinto que formamos uma família, já que todos compartilhamos as mesmas dores e angústias", declarou.

"Nos casamos por amor após nove anos de rejeição de nossas famílias pelo fato de ele ser xiita e eu sunita. Todos os dias mostro sua foto para as nossas filhas, nós a beijamos e digo para elas que em breve voltaremos a estar com ele", conetou.

Em seus acampamentos improvisados os familiares exigem resultados nas negociações entre os jihadistas e o governo, que suporta uma grande pressão política, social e midiática.

No entanto, fontes do governo consultadas pela Efe reconheceram que as negociações estavam sendo "muito difíceis, porque as reivindicações não são claras e negociar com um país é diferente de que com grupos extremistas".