Topo

Morre Chen Ziming, um dos ideólogos dos protestos de Praça da Paz Celestial

22/10/2014 04h41

Pequim, 22 out (EFE).- Chen Ziming, considerado um dos ideólogos do movimento pró-democrático da Praça da Paz Celestial em 1989, morreu aos 62 anos em Pequim em decorrência de um câncer no pâncreas, publicou nesta quarta-feira o jornal "South China Morning Post".

O ativista morreu na tarde de ontem em sua casa em Pequim, após uma longa luta contra a doença. Ele chegou a se tratar em Boston, nos Estados Unidos, no início deste ano, em um raro gesto do regime comunista, que raramente permite que ativistas de direitos humanos saiam do país.

Chen, veterano ativista e intelectual, foi uma das figuras chave dos protestos que entre abril e junho de 1989 puseram em xeque o regime comunista com reivindicações de maior abertura e democracia na China, e que acabaram em massacre.

A morte foi lamentada por muitos de seus companheiros nos protestos, entre eles Wang Dan, um dos líderes do movimento estudantil de 1989, que de seu exílio nos EUA falou sobre Chen, a quem definiu como seu "professor e amigo".

"Foi um dos intelectuais mais proeminentes da China, e contribuiu para o movimento democrático do país nos últimos 40 anos", disse Wang ao "South China Morning Post".

Chen havia participado de protestos pró democracia em 1976, inclusive antes da morte de Mao Tsé-tung, e também em 1979, dez anos antes de ser um dos principais promotores dos protestos da Praça da Paz Celestial.

Após a sangrenta repressão de junho de 1989, na qual um número nunca revelado de estudantes morreu pelas mãos do exército chinês, Chen foi condenado em 1991 por "atividades contra-revolucionárias" a 13 anos de prisão.

Três anos depois foi colocado em liberdade por causa de seus problemas de saúde, mas foi preso novamente após assinar um pedido de libertação de prisioneiros políticos na China.

Libertado pela segunda vez em 1996, outra vez por questões médicas, Chen permaneceu em prisão domiciliar até 2002.

Além do ativismo político, Chen ficou conhecido por seu trabalho como economista, que o levou a fundar nos anos 80 o Instituto de Pesquisa em Ciências Econômicas e a trabalhar como editor na "Economics Weekly", publicação que defendia a livre economia de mercado.

"Se tivesse vivido em uma sociedade normal, teria feito enormes contribuições ao mundo acadêmico, aos negócios, à ciência e à tecnologia. Inclusive poderia ter ganhado um Prêmio Nobel. Infelizmente, nasceu na China", lamentou o também ativista Dai Qing em declarações ao jornal.

"Ele sofreu muito, mas foi corajoso e inteligente. Não teve nem fama nem fortuna, mas foi sincero com a sociedade", resumiu Dai.