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Ucrânia vai às urnas imersa em conflito armado

22/10/2014 19h30

Boris Klimenko.

Kiev, 22 out (EFE). - No próximo domingo, a Ucrânia realizará suas primeiras eleições legislativas desde a mudança de poder, ocorrida em fevereiro, imersa em um conflito armado no leste do país, onde os separatistas pró-Rússia boicotarão a votação nas regiões em seu controle.

Kiev insistiu que o fato de o pleito não ser realizado na totalidade das regiões orientais de Donetsk e Lugansk, onde antes da explosão do conflito viviam cerca de 6,5 milhões de pessoas (15% da população do país), em nenhum caso pode manchar sua legitimidade.

Embora não haja registros confiáveis sobre o número de deslocados devido às ações militares, estima-se que mais de um milhão de pessoas deixaram suas casas para ir, na grande maioria dos casos, para a Rússia e outras regiões da Ucrânia.

"Aqui não haverá eleições", declarou o vice-primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD), Andrei Purgin, em alusão ao pleito convocado pelas autoridades de Kiev.

Segundo o dirigente pró-Rússia, a RPD e seu similar de Lugansk elegerão seus próprios parlamentos e seus líderes em eleições que devem acontecer no próximo dia 2.

Desde 25 de maio, quando Petro Poroshenko foi eleito presidente do país, as forças armadas ucranianas conseguiram ampliar consideravelmente seu controle nas regiões rebeldes.

Naquele pleito presidencial, segundo os dados da Comissão Eleitoral Central de Kiev, a participação eleitoral nas regiões de Lugansk e Donetsk foi insignificante, de 4,79% e 3,22% de um censo eleitoral conjunto de cerca de 5 milhões de cidadãos.

Agora, quando o governo ucraniano controla mais de 50% dos territórios de ambas as regiões, mas não as principais cidades depois da capital, espera-se que neste domingo a participação seja significativamente mais elevada do que há cinco meses.

"Segundo nossas previsões, caso se mantenha a atual situação em nossa região, a participação popular será de 35% a 40%", declarou na semana passada o governador de Lugansk, Gennady Moskal.

Designado por Kiev para o cargo, Moskal destacou que a campanha eleitoral nas regiões de Lugansk controladas pelo governo central ucraniano transcorre em um clima de normalidade.

"Mas se a situação piorar, menos eleitores irão às urnas", advertiu Moskal.

Nas vésperas do pleito, Poroshenko sancionou uma lei que concede um status especial de autogoverno por um período de três anos aos territórios controlados pelos separatistas.

"Nós o vemos como um passo positivo porque, com isso, Kiev admite não só a existência do problema, mas também que este não pode ser resolvido com os métodos anteriores", declarou Purgin em entrevista à agência oficial de notícias russa "RIA Novosti".

O dirigente separatista disse que a aprovação da autonomia provisória é um indício de que em Kiev "começa a valer o partido da paz, e não o da guerra". No entanto, Purgin ressaltou que a RPD não acatará essa lei, que inclui a realização de eleições municipais em 7 de dezembro.

"Isso tinha que ter sido aprovado em março, quando o exigíamos. Agora, depois da morte de milhares de pessoas, de bombardeios, de destruição de casas, após torturas e crimes de guerra, já é tarde", enfatizou.

O acordo de cessar-fogo assinado em Minsk com mediação europeia e russa em 5 de setembro não pôs fim total às hostilidades entre as forças ucranianas e as milícias separatistas pró-russas, que se atribuem mutuamente a responsabilidade do descumprimento.

Também não houve avanço na implantação do memorando de paz assinado duas semanas depois, também em Minsk, que inclui, entre outros pontos, a criação de uma zona segurança de 30 quilômetros sem armamento pesado e o controle da fronteira russo-ucraniana.

Segundo dados do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, desde o acordo de cessar-fogo as milícias pró-russas violaram a trégua mais de 1.400 vezes, ações que deixaram mortos 68 militares e 51 civis. De acordo com o último relatório do Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas, 3.660 pessoas morreram no leste da Ucrânia desde o início do conflito.