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Número 2 da guarda presidencial diz que assume o poder em Burkina Fasso

Em Ouagadogou

01/11/2014 06h35

O número 2 da guarda presidencial de Burkina Fasso, o coronel Yacouba Isaac Zida, anunciou que vai assumir a Presidência do país durante a transição iniciada na sexta-feira (31) após a renúncia do chefe de Estado, Blaise Compaoré, que governou o país nos últimos 27 anos.

Esse anúncio acontece poucas horas depois de o chefe do Estado-Maior, o general Honoré Nabere Traoré, ter afirmado que também assumiria a presidência interina do país, causando uma confusão ainda maior em Burkina Fasso, que foi sacudido nesta semana por grandes protestos contra o prolongamento do mandato de Compaoré.

Zida considerou "nula", em um pronunciamento televisivo ontem à noite, a autoproclamação do chefe do Exército.

O chefe do Exército anunciou que presidiria a transição imediatamente após Compaoré anunciar sua renúncia, na tarde de ontem, para permitir a realização de eleições no prazo de 90 dias.

No entanto, em aberta contradição com esse anúncio, Zida afirmou depois que estava assumindo, "a partir deste sábado", as responsabilidades como "líder desta transição e como presidente para garantir a continuidade do Estado".

O número 2 da guarda de Compaoré afirmou para uma emissora de rádio privada que a tomada do poder pelo Exército em Burkina Fasso "não é um golpe, mas uma insurreição popular".


Zida também informou que Compaoré, que teria cruzado a fronteira com Gana em um comboio militar, segundo testemunhas citadas pela imprensa local, se encontra a "salvo".

Em seu discurso, transmitido pela emissora local "Canal 3", o número 2 da guarda de Compaoré disse que a "transição, que o povo burquinense quer que seja o mais breve possível, será dirigida por um órgão que vai refletir as diferentes sensibilidades políticas de nossa nação".

Com isso, Zida quer "definir por consenso com todos os partidos políticos e a sociedade civil" o conteúdo e os limites desta "transição pacífica para a democracia" que ele mesmo dirigirá, afirmou.

O coronel também pediu à comunidade internacional, especialmente à União Africana e à Comissão da Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (Cedeao), "compreensão" na hora de oferecer apoio ao povo burquinense, e assegurou que Burkina Fasso cumprirá com seus "compromissos".

Segundo a imprensa local, cerca de 30 pessoas morreram nos maciços protestos populares, que explodiram nesta semana, para evitar que Compaoré prolongasse seu mandato e que forçaram sua saída. No entanto, não foram divulgados números oficiais.

O principal hospital de Ouagadogou recebeu cerca de 90 pessoas que sofreram diversos ferimentos durante as manifestações, das quais três morreram, de acordo com o diretor desse centro de saúde, Robert Sangare.

A noite transcorreu com relativa calma na capital de Burkina Fasso, onde os moradores respeitaram o toque de recolher.