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Tensão em Ferguson continua com críticas a julgamento "injusto"

25/11/2014 20h54

Alfonso Fernández.

Washington, 25 nov (EFE).- O advogado da família de Michael Brown, Benjamin Crump, criticou duramente nesta terça-feira o promotor responsável pelo caso e denunciou como "completamente injusto" o processo que deixou sem julgamento o policial Darren Wilson, que matou o jovem, o que provocou uma noite de graves distúrbios em Ferguson, um subúrbio de Saint Louis, no Missouri.

"Criticamos publicamente este processo, foi completamente injusto", afirmou Crump em entrevista coletiva, acompanhado pelos pais de Michael Brown, o jovem que morreu baleado por Wilson em agosto quando estava desarmado.

A decisão do grande júri causou violentos distúrbios na noite passada na pequena cidade de pouco mais de 20 mil habitantes, que terminaram com mais de 80 detidos e vários estabelecimentos saqueados e queimados.

Crump bateu forte no promotor do condado de Saint Louis, Robert McCulloch, ao acusá-lo de ter mostrado pouco interesse em levar adiante a acusação de Wilson e não ter apresentado "os melhores argumentos".

"Um estudante de direito teria feito melhores perguntas (que o promotor)", disse o advogado da família sobre McCulloch, encarregado de ler o veredicto final ontem à noite.

Em agosto, quando foi anunciada a instalação de um júri para investigar o caso, alguns setores colocaram em dúvida a idoneidade de McCulloch para assumir a acusação, porque seu pai era policial e foi assassinado por um negro quando ele tinha 12 anos, e por sua atuação em 2000, em um caso semelhante ao de Ferguson.

"Nos opusemos a este promotor já em agosto, e desde então pedimos um promotor especial", lembrou o advogado da família, que considerou que a decisão era um reflexo de um "sistema judiciário quebrado".

O pai de Brown usava uma camiseta escrita "Sem justiça não há paz", mas não deu declarações.

Ontem à noite, pouco após saberem que Wilson não seria processado pela morte de Michael Brown, os familiares do jovem afirmaram em comunicado que, apesar de estarem "profundamente decepcionados com a decisão judicial, responder a violência com violência não é a solução".

O presidente americano Barack Obama fez uma declaração não programada na Casa Branca na qual pediu calma e que os manifestantes e a polícia mostrassem "contenção".

Apesar desses pedidos, teme-se que os protestos, que se reproduziram durante o dia em outras cidades do país como Filadélfia, Baltimore, San Francisco, Chicago, Atlanta e Nova York, fiquem mais violentos durante a noite em Ferguson.

O governador do Missouri, Jay Nixon, ordenou o envio de mais soldados da Guarda Nacional à cidade com o objetivo de garantir a segurança, até que chegue a 2.200 agentes, e disse que não aceitará saques e ataques à propriedade privada.

"O propósito de destruição dos criminosos ontem à noite aterrorizou esta comunidade", declarou Nixon aos jornalistas.

O prefeito de Ferguson, James Knowles, criticou a atuação de Nixon e disse que é "profundamente preocupante" o atraso na chegada da Guarda Nacional, porque agravou os distúrbios.

No sistema judiciário dos Estados Unidos o grande júri decide se há provas suficientes para apresentar acusações contra uma pessoa, e com essa decisão não haverá processo contra Wilson por esta via.

No entanto, a investigação do Departamento de Justiça que busca descobrir se houve violação dos direitos civis continua em um caso no qual convergem dois debates que sempre causam comoção nos EUA: a discriminação racial e a violência policial.