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Tensão diminui em Ferguson e manifestantes pedem boicote a Black Friday

Pedro Alonso

Em Ferguson (EUA)

28/11/2014 19h05

Após os graves distúrbios dos últimos dias contra a decisão de não levar o policial branco que matou o jovem negro Michael Brown a julgamento, a tensão diminuiu em Ferguson, e os manifestantes pediram nesta sexta-feira um boicote ao dia de promoções conhecido como "black friday".

Uma campanha surgida nas redes sociais com o nome "Blackout Blackfriday" (boicote a sexta-feira negra) incentiva os cidadãos a não gastarem um só dólar em compras natalinas, que começam nos Estados Unidos após o Dia de Ação de Graças.

O boicote recebeu o apoio de várias estrelas afro-americanas de Hollywood, como Ryan Coogler, Jesse Williams, Kat Graham e Michael B. Jordan, segundo o site especializado "The Wrap".

A iniciativa pretende ser uma continuidade aos protestos contra o veredicto do grande júri que na segunda-feira decidiu não acusar Darren Wilson, de 28 anos, pela morte de Brown, de 18 anos.

O jovem foi baleado em agosto após roubar uma caixa de cigarros em um supermercado de Ferguson, um subúrbio de Saint Louis (Missouri).

A decisão judicial provocou grandes distúrbios na noite de segunda-feira e terça-feira. Ferguson tem cerca de 20 mil habitantes, a maioria negros. A desordem terminou com mais de 120 pessoas presas e deixou edifícios danificados e automóveis em chamas. Os protestos se estenderam para 170 cidades de todo o país, onde milhares de pessoas clamaram por justiça. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu calma à população.

Dezenas de pessoas expressaram sua condenação à decisão do júri no final na noite de ontem em uma loja da cadeia Target, em Brentwood, perto de Ferguson, aos gritos de "Mãos em alto, não atirem!".

"Tivemos um protesto na noite passada. Foi pacífico. Ficaram cantando", disse hoje à Agência Efe o gerente da Target, Ian Machie.

Hoje pela manhã, o local estava sem manifestantes, apenas com clientes fazendo compras e carros no estacionamento.

"Não vi ninguém protestando hoje. Mais cedo, havia muitos policiais e agentes do FBI", disse à Efe uma funcionária de um estabelecimento localizado em frente ao Target.

Também ontem à noite, ocorreu um protesto em frente um supermercado da rede Wal-Mart próximo a Ferguson, onde um grupo de cidadãos cantou palavras de ordem como "sem justiça não há paz" e "abaixo a polícia racista".

A polícia de Saint Louis emitiu nesta sexta-feira um comunicado para confirmar que o dia transcorria sem incidentes.

"Recebemos muitas consultas sobre a segurança em shoppings e lojas. Atualmente, não há registro de confusão, protestos ou problemas em nenhuma zona comercial do condado de Saint Louis", segundo a polícia.

Alguns cidadãos apoiaram o boicote a "black friday", como a afro-americana Michelle, funcionária de um centro de atendimento ao cliente de uma empresa em Saint Louis.

"Respeito e apoio. Hoje não faço compras de Natal", disse Michelle, que exigiu a demissão das "autoridades" responsáveis pelo caso de Michael Brown, como o promotor Robert McCulloch, que anunciou nesta segunda-feira o veredicto do grande júri.

McCulloch foi questionado, entre outras razões, porque seu pai é ex-policial de Saint Louis assassinado por um suspeito armado, supostamente negro, há cinquenta anos.

O agente Wilson, que atirou em 9 de agosto contra Brown em circunstâncias ainda não esclarecidas, afirmou na terça-feira que lamentava o ocorrido mas que tinha a "consciência tranquila".

Wilson sustenta que Brown o agrediu e tentou roubar sua arma, versão que contradiz o relato de algumas testemunhas, entre eles um amigo que acompanhava a vítima.

Segundo estas testemunhas, o agente efetuou vários disparos contra o jovem mesmo Brown estando desarmado e com os braços para o alto.

A morte de Michael Brown gerou uma onda de violência e reabriu o debate sobre a discriminação racial da polícia americana.